O primeiro-ministro chinês volta a projetar um crescimento este ano, de “cerca de 5%”, pelo terceiro ao consecutivo. Se alguns analistas que consideram que as autoridades “guardam munições para mais tarde”, outros alertam para um orçamento défice orçamental ainda curto para evitar que a economia abrande.
“Os responsáveis políticos chineses mantiveram um objetivo ambicioso para o crescimento real do Produto Interno Bruto, mas são mais cautelosos nas suas previsões para o crescimento nominal e a inflação. E, embora tenham anunciado um aumento do apoio fiscal, o grau de flexibilização é mais moderado do que parece”, escreve Julian Evans-Pritchard, analista da Capital Economics.
O especialista está cético quanto à possibilidade de as medidas anunciadas evitarem um abrandamento do crescimento, marcado por “ventos contrários no cenário internacional e pela ausência de uma mudança mais pronunciada nas despesas públicas para apoiar o consumo”. Tendo reservando uma percentagem recorde da despesa para investimento, em 2024, Pequim voltar-se agora mais para o consumo, “embora nada de extraordinário”, com 41,3 mil milhões de dólares em obrigações para financiar o “plano de renovação” para os eletrodomésticos ou eletrónica, nota o analista.
Hong Hao, da chinesa Grow Investment Group, observa que o relatório deste ano é o que mais vezes menciona a palavra ‘consumo’ numa década, mas Evans-Pritchard ressalva que as autoridades “não estão a contar com um impulso considerável” sob a forma de reflexão – estímulo artificial do Estado, para ultrapassar uma recessão.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, revelou anteontem que o objetivo de crescimento económico de 5%; e que o défice fiscal aumenta um ponto percentual, para 4%, como parte do esforço para relançar a recuperação. Apesar do “maior aumento em décadas” no rácio entre défice e PIB, Evans-Pritchard estima que, tendo em conta outros fatores, o aumento real da despesa será de cerca de 1,5%, inferior aos ciclos de flexibilização anteriores: 2015 (2%) e 2020 (3,6%).
Citada pela Bloomberg, Charu Chanana, da Saxo Markets, diz que os objetivos anunciados por Li “estão dentro das expectativas” e mostram que as autoridades estão “a guardar munições para mais tarde”. Análise com a qual concorda Lee Homin, do banco suíço Lombard Odier, que acredita que o objetivo do défice pode ser ajustado a meio do ano, verificado o impacto das taxas alfandegárias norte-americanas.
As últimas projeções do FMI e do Banco Mundial apontam para um crescimento do PIB chinês de cerca de 4,5%, depois de ter crescido 5%, em 2024, impulsionado por um esforço extra das autoridades no final do ano. No entanto, a Capital Economics duvida que a China tenha crescido 5% no ano passado, como indicam os números oficiais, e defende que essa taxa terá sido, de facto, de cerca de 4,4%.
A fraca procura interna e internacional, associada a riscos de deflação, estímulos insuficientes, uma profunda crise imobiliária e a falta de confiança dos consumidores e do setor privado são algumas das causas apontadas pelos analistas para explicar o que está a acontecer na segunda maior economia do mundo.