“No âmbito das comemorações dos 25 anos da RAEM, dos 75 anos da República Popular da China, e dos 40 anos das emissões de televisão em Macau”, Gilberto Lopes, diretor de informação da TDM, convidou também parceiros de Moçambique, Cabo-Verde, e Brasil, assumindo que “a relação com os Países de Língua Portuguesa é uma das grandes apostas” da rádio e televisão pública de Macau.
O evento serve também para renovar o protocolo com a RTP, e assinar outro com TV Cultura do Estado de São Paulo. “O Brasil é muito importante nesta estratégia”, mas “não tem uma estação pública como há em Portugal e na África de língua portuguesa”, explica Gilberto Lopes, mencionando os programas produzidos na China que vão ser oferecidos aos parceiros da TDM, no contexto dessa aposta nos Países de Língua Portuguesa, “ao nível dos conteúdos de entretenimento informação”.
Entre os vários pilares da RTP, no contexto que o traz a Macau “o mais relevante é o da defesa da língua, também através dos países onde Portugal teve influência”, diz Hugo Figueiredo. Nesse contexto, “a RTP é também um instrumento de política externa”, antes demais porque tem uma “relação privilegiada com os Países de Língua Portuguesa, nomeadamente em África; onde tem delegações” e “as realidades culturais aproximam-se”. Assume que o lado de Macau “aparece mais fragilizado”; mas também por isso considera “muito importante, iniciativas como esta da TDM, para de certa forma manter acesa essa chama”.
Marcas credíveis
Hugo Figueiredo crê que o tema das televisões públicas “volta a ser ainda mais relevante”, face aos perigos da “fragmentação dos Media, da desinformação; e do controlo da mensagem por multinacionais como o Facebook, a Apple, ou a Amazon”. Porque “as pessoas vão precisar de marcas fortes”, através das quais “possam a acreditar no que estão a ouvir e a ler”.
Com os modelos de negócio das marcas tradicionais privadas “em erosão muito rápida”, o financiamento público, “mais estável e previsível, pode voltar a fortalecer muito as marcas de serviço público”, antevê o administrador das RTP: “A fragmentação leva depois à necessidade de identificação, como aconteceu nas marcas de consumo. As pessoas identificam-se com a Nike ou a Coca Cola porque percebem o que elas fazem; compram no fundo um ideal, um conjunto de premissas que receberam através da publicidade”.
Com os modelos de negócio das marcas tradicionais privadas em erosão muito rápida, o financiamento público, mais estável e previsível, pode voltar a fortalecer muito as marcas de serviço público
Hugo Figueiredo, administrador da RTP
As marcas de informação “já estavam ancoradas nesse território, mas agora tornar-se mais evidente a necessidade de as pessoas procurarem essa identificação. Não se pode é contar com a simples existência, antes garantida”; agora “os Media vão ter de tratar a sua marca como a Nike trata. E aí investir e dizer: fazemos isto desta forma, temos estas pessoas, estes jornalistas, estes comentadores, esta abordagem à notícia. É isso que fará as pessoas preferirem ver aqui – e não ali”.
O Governo português anunciou, no prazo de três anos, o fim da publicidade na RTP, mas isso não assusta Hugo Figueiredo: “Ter ou não publicidade é uma decisão política. A BBC não tem, a RAI tem… há muitos modelos. O ponto é saber se existe financiamento – previsível – e se é suficiente para a missão que o Estado quer que a RTP cumpra no mundo. Penso que Governo colocou à RTP o desafio de se tornar mais eficiente, mas também mostrou abertura depois ver se é preciso de mais. Não vai ser ao fim de três anos; vai ser já, porque 20 milhões (euros ano) é muito dinheiro para desaparecer”, conclui o administrador, frisando neste ponto estar a expressar uma posição pessoal.
Estiveram ontem no evento da TDM também Floriberto Fernandes, diretor de Programas da Televisão de Moçambique; e o brasileiro Hélio Ferraz, diretor de Fomento e Parcerias da Fundação Padre Anchieta TV Cultura, e Karine Miranda, diretora da Radiotelivisão Caboverdiana.