Início » Festival Rota das Letras regressa à data original de Março

Festival Rota das Letras regressa à data original de Março

De 8 a 17 de março, a Casa Garden vai acolher a 13ª edição do Festival Literário de Macau. É um regresso do evento à Primavera, depois de uma mudança forçada para o Outono durante os anos da pandemia

“Sempre entendemos que é em março que faz mais sentido a realização do Festival Literário de Macau, por ser uma época do ano com menor sobrecarga de eventos. Daí que, à primeira oportunidade, e depois de várias edições realizadas nos meses de outubro e novembro, por força da pandemia, tenhamos decidido fazê-lo regressar à sua data original”, diz Ricardo Pinto, diretor do Rota das Letras.

A edição deste ano do Festival Literário e a anterior, separadas por apenas cinco meses, têm em comum a celebração do 5º Centenário do nascimento de Luís de Camões. A Casa Garden, com a gruta do poeta bem próxima, vai receber a visita de Kenneth David Jackson, professor da Universidade de Yale e autor de vários estudos camonianos. O ilustrador brasileiro Fido Nesti evocará também a obra de Camões, através da sua adaptação d’ Os Lusíadas para crianças.

Mas será outro nome grande da poesia universal a ser lembrado na abertura do evento. A vida e a obra de Li Bai são o tema de uma exposição de fotografia de Xu Peiwu, artista chinês que ao longo da última década percorreu os mesmos caminhos por onde andou o poeta há mais de mil anos, registando as paisagens que o inspiraram na sua errância por vastas e dispersas regiões da China. São imagens “de uma enorme beleza e densidade, que nos permitem contemplar uma China despida e cativante”, afirma João Miguel Barros, curador da exposição. Na sessão inaugural, a editora Livros do Meio, de Carlos Morais José, fará nova apresentação do livro ‘Li Bai – A Via do Imortal’, de António Izidro.

O primeiro fim de semana do festival, de 8 a 10 de março, assistirá à apresentação de várias outras obras. San San, uma das mais premiadas entre as jovens escritoras chinesas, dará a conhecer a antologia de contos ‘Primavera Tardia’, que esteve entre os mais fortes candidatos ao Prémio Literário de 2023 da Douban, a rede social da China com maior implantação nos meios literários. O norte-americano James Zimmerman, advogado que reside na capital chinesa há mais de 25 anos, vem a Macau apresentar ‘The Peking Express’, um trabalho de investigação que conta a história do Grande Assalto Ferroviário de 1923, o maior da história da China e um facto determinante da evolução da guerra civil chinesa. E Ian Gill, autor nascido na Nova Zelândia, fruto de uma relação entre dois prisioneiros de guerra em Hong Kong, vem falar de ‘Searching for Billie’, a demanda de um jornalista para compreender o passado da sua mãe, que o leva a descobrir uma China desaparecida.

Outro convidado a reter: Ma Ka Fai, escritor e cineasta de Hong Kong, professor de escrita criativa na City University, autor de dezenas de livros de ensaios. ‘Once upon a time in Hong Kong’ foi o seu romance de estreia.

A evocação do 50º aniversário da Revolução do 25 de Abril far-se-á também nos primeiros dias do festival. João Céu e Silva apresenta ao público de Macau a sua obra ‘O General que começou o 25 de Abril dois meses antes dos Capitães’ – a história nunca contada de como o General António Spínola fez cair o regime.

A abertura de uma exposição sobre os 50 anos de carreira de António Mil-Homens – carreira iniciada, precisamente, no dia 25 de Abril de 1974, no Largo do Carmo – terá lugar a meio da semana na Livraria Portuguesa, antecedendo os painéis do segundo fim-de semana do festival.

De volta à Casa Garden, a Cozinha de Macau será tema central das sessões de sexta-feira, dia 15 de março. As autoras Graça Pacheco Jorge e Annabel Jackson, ambas com obra publicada neste campo, serão acompanhadas pelo Professor Barrie Sherwood, da Universidade de Singapura, numa reflexão sobre o momento presente da gastronomia macaense e as questões de identidade cultural que lhe estão associadas. ‘The Macanese Pro-Wrestler’s Cookbook’, do Prof. Sherwood, é o livro que faz aqui a sua apresentação ao público local.

Sábado, 16, será dominado pela escrita no feminino, num diálogo que reunirá escritoras de Macau, Hong Kong e China Continental. ‘The Girl Who Dreamed: a Hong Kong Memoir of Triumph Against the Odds’, de Sonia Leung, é considerado um importante marco na literatura da cidade vizinha, por nunca terem as experiências na primeira pessoa dos imigrantes pobres do Continente, chegados a Hong Kong nos anos 80, sido antes narradas com tanto detalhe a partir da perspetiva de uma mulher jovem.

Mas o penúltimo dia do festival é também o da presença dos nomes mais sonantes do programa deste ano. Dong Xi, que para além do Prémio Mao Dun foi já agraciado também com o Prémio Lu Xun, outro dos mais relevantes da literatura chinesa, partilhará a sua vasta experiência no mundo das letras com vários autores de Macau. “Sendo um dos escritores mais representativos da atualidade, Dong Xi é reconhecido pela sua invulgar capacidade de contar estórias numa linguagem narrativa própria”, assinala Yao Jingming, subdiretor do Festival Rota das Letras.

Chang-rae Lee, escritor norte-americano de origem coreana e professor de escrita criativa na Universidade de Stanford, na Califórnia, virá fazer a apresentação do seu mais recente romance, ‘My Year Abroad’, cuja ação decorre parcialmente em Macau. A sua escrita explora, com frequência, temas como a imigração, a assimilação, a História da Coreia, a experiência dos americanos com raízes asiáticas, a América distópica. Entre várias outras distinções, o autor recebeu o Prémio da Fundação Hemingway para primeiras obras, pelo seu romance ‘Native Speaker’.

O programa de sábado, dia 16, encerra com o concerto de Marta Pereira da Costa, considerada uma das mais virtuosas intérpretes de guitarra portuguesa da atualidade. Em Macau, será acompanhada em palco por João José Pita. Outras performances vão ser promovidas em colaboração com a Bookand, uma livraria independente da região.

O último dia do festival, como vem já sendo tradição, está em boa parte reservado à apresentação de obras do domínio das artes visuais e, em particular, da fotografia. João Miguel Barros e a associação Halftone vão dar a conhecer as suas últimas realizações. Mas o programa comporta ainda outras novidades editoriais. Duarte Drumond Braga vem apresentar o seu estudo sobre a ‘China e Macau’, de Camilo Pessanha, recentemente lançado em Portugal. E Peter Rose, advogado norte-americano, faz aqui o lançamento do seu primeiro romance, ‘The Good War of Consul Reeves’, que tem como pano de fundo o período da Guerra do Pacífico em Macau e a ação do diplomata britânico que soube tirar partido da neutralidade portuguesa para sobreviver à constante ameaça do inimigo japonês. A publicação desta obra é uma iniciativa da Blacksmith Books, uma editora de Hong Kong.

Tal como em anos anteriores, o Festival Literário de Macau conta com o apoio do Governo de Macau, através do Fundo de Desenvolvimento Cultural, bem como de várias outras instituições públicas e privadas da região. A Fundação Oriente é, uma vez mais, a entidade anfitriã do evento, na Casa Garden. A par do programa oficial, os convidados farão também visitas a escolas e a associações locais.

O programa detalhado do evento será divulgado nos próximos dias.

Contact Us

Generalist media, focusing on the relationship between Portuguese-speaking countries and China.

Plataforma Studio

Newsletter

Subscribe Plataforma Newsletter to keep up with everything!