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“O Governo chinês tem vindo a otimizar as políticas de vistos para facilitar o fluxo de pessoas”

Em entrevista ao Grupo Mídia da China, o embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang, fala daquilo que têm sido as relações sino-portuguesas nos últimos 45 anos e do que gostava de ver no futuro. O responsável aplaude a importância de Portugal nas relações da China com a União Europeia e salienta a cooperação no mercado externo, que permite às empresas dos dois países avançar com projetos conjuntos em todo o mundo. Por outro lado, destaca a “febre” das línguas, com cada vez mais instituições a lecionar português na China e mandarim em Portugal

GRUPO DE MÍDIA DA CHINA (CMG), ISABEL SHI E ROSANA ZHAO*

– Num contexto de mudanças complexas no panorama internacional, a parceria entre a China e Portugal tem assumido novos contornos. Quais são os resultados de cooperação China-Portugal? Essas interações corresponderam às expetativas da parte chinesa?

Zhao Betang – Em dezembro de 2018, o Presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita histórica e bem-sucedida a Portugal, alcançando resultados frutíferos e impulsionando a parceria estratégica abrangente China-Portugal. Em abril do ano seguinte, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, foi convidado a participar no 2° Fórum “Uma Faixa, Uma Rota” para a Cooperação Internacional e efetuou uma visita de Estado à China. Estas visitas em menos de meio ano refletem plenamente o elevado nível de progresso nas relações bilaterais e delinearam o caminho para o desenvolvimento mútuo.

No último ano, o vice-presidente chinês, Han Zheng, e o chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Ho Iat Seng, visitaram Portugal com sucesso, aprofundando ainda mais a cooperação pragmática entre os dois países em todos os domínios. Estamos muito satisfeitos por ver que, desde que a China e Portugal estabeleceram a cooperação na Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, sob a atenção e impulso dos líderes das duas nações, bem como com os esforços conjuntos dos dois povos, os laços bilaterais têm vindo a desenvolver-se de forma constante, rápida e saudável, e a colaboração pragmática tem sido bem sucedida.

A China manteve a posição de maior parceiro comercial de Portugal na Ásia durante anos consecutivos”

A cooperação económica, comercial e de investimento está em expansão. Os dados mais recentes mostram que, entre janeiro e novembro de 2023, o volume total do comércio China-Portugal totalizou 7.938 mil milhões de dólares norte-americanos. A China manteve a posição de maior parceiro comercial de Portugal na Ásia durante anos consecutivos. Segundo as estatísticas portuguesas, o investimento direto da China em Portugal atingiu 3.473 mil milhões de euros, abrangendo energia, finanças, seguros, medicina e outros campos.

O investimento de Portugal na China também cresceu. Ambos os lados têm estendido a parceria para novas áreas, como a economia digital, a proteção ambiental e a inteligência artificial. Além disso, Portugal é o primeiro país da União Europeia (UE) a estabelecer formalmente uma “parceria azul” com a China. Ambas as partes possuem longas linhas costeiras e ricos recursos marinhos, sendo, assim, parceiros naturais no desenvolvimento da economia marítima.

O Governo português concluiu com sucesso a emissão do primeiro lote de Obrigações Panda no valor de dois mil milhões de yuans, tornando-se o primeiro país da zona euro a vender dívida em renminbi. Portugal é também o primeiro país europeu a emitir cartões da UnionPay através das próprias instituições financeiras. O Banco da China, o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o Grupo FOSUN e várias instituições chinesas, como o Banco Bisen e a China Tianying, investiram no setor bancário e de seguros de Portugal.

A cooperação no mercado externo está a florescer. Os países obtiveram benefícios económicos e sociais através do investimento mútuo, enquanto transcenderam o âmbito bilateral e alcançaram resultados no desenvolvimento conjunto de mercados na Europa, África, América Latina e outras regiões. A China Three Gorges, junto com o Grupo EDP (Energias de Portugal), venceu licitações para projetos de energia hidroelétrica e eólica no Brasil, Polónia, Itália, Reino Unido, Peru, Colômbia e outros países. A State Grid Corporation of China ajudou a empresa portuguesa REN (Redes Energéticas Nacionais) a entrar no mercado chileno. A China Communication Construction Company e o Grupo Mota-Engil de Portugal obtiveram licitações de vários projetos de infraestruturas na África e na América Latina. Pode dizer-se que a cooperação é um destaque da parceria estratégica abrangente.

A China Communication Construction Company e o Grupo Mota-Engil de Portugal obtiveram licitações de vários projetos de infraestruturas em África e na América Latina”

Os intercâmbios interpessoais e culturais continuam a aprofundar-se. A amizade profunda entre os povos é a chave e a força motriz para as boas relações entre os países. Ao longo dos últimos tempos, o Governo chinês tem vindo a otimizar as políticas de vistos e outras medidas para facilitar o fluxo de pessoas entre a China e Portugal. A cooperação sino-portuguesa na área da língua e cultura está a progredir rapidamente, vivendo uma febre da língua portuguesa na China e do mandarim em Portugal. Mais de 40 universidades chinesas oferecem cursos de língua portuguesa e em Portugal há cinco Institutos Confúcio.

– Tem sido muito ativo na promoção de intercâmbios e entendimento entre os dois povos. Nos Media portugueses, fez um esclarecimento sobre as políticas chinesas e as oportunidades de comércio e investimento. Gostaríamos também de perceber como olha para Portugal no que diz respeito às relações bilaterais e às questões internacionais de interesse comum.

Z.B. – Quando cheguei a Portugal para assumir o cargo, há três anos, já conhecia as cinco regiões continentais e as duas regiões autónomas insulares do país. Pelas visitas, percebi plenamente que Portugal é um país amigável, inclusivo e culturalmente diversificado. O astro do futebol Cristiano Ronaldo e o melodioso fado são aplaudidos em todo o mundo. As obras clássicas dos escritores como Luís de Camões, Fernando Pessoa e José Saramago também.

Portugal dispõe de uma boa segurança social, infraestruturas completas, sistema judicial sólido e um elevado grau de mercantilização, o que torna o país um terreno propício ao investimento de muitas empresas internacionais, incluindo as empresas chinesas que procuram mercados globais. Nos últimos anos, uma variedade de especialidades portuguesas, como os vinhos do Porto e Madeira, a cerveja, os produtos de cortiça, a carne de porco preto e muitos outros, têm ganho maior atenção por parte dos consumidores chineses.

A cooperação sino-portuguesa na área da língua e cultura está a progredir rapidamente, vivendo uma febre da língua portuguesa na China e do mandarim em Portugal. Mais de 40 universidades chinesas oferecem cursos de língua portuguesa e em Portugal há cinco Institutos Confúcio”

A China e Portugal têm uma sólida base política e de opinião pública. Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, os dois Estados têm aderido aos princípios da compreensão mútua, do respeito mútuo, da confiança recíproca e da cooperação mutuamente benéfica. O diálogo aberto e franco criou uma atmosfera favorável à cooperação bilateral e multilateral entre a China e Portugal, bem como entre a China e a União Europeia. A parte portuguesa tem atribuído apoio firme à China em questões relacionadas com os interesses fundamentais e as principais preocupações, e a China, por sua vez, também concede alta importância ao papel positivo desempenhado por Portugal na União Europeia e no cenário mundial.

O mundo hoje não está pacífico. As práticas hegemónicas das potências ocidentais causaram sérios danos. A economia mundial tem vindo a recuperar-se debilmente em resultado da proliferação de argumentos como “muros altos no quintal pequeno”, “desacoplamento de cadeia de suprimentos” e “de-risking”.

Apesar de sistemas sociais e antecedentes históricos diferentes, a China e Portugal partilham uma visão global e preparada para o futuro. Apoiam firmemente o multilateralismo, opõem-se ao unilateralismo e defendem o livre comércio em vez de protecionismo.

*Editado pelo PLATAFORMA

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