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“É importante que as startups tenham uma estratégia de expansão de mercado para além de Macau”

Nelson Moura

“Macau é um mercado relativamente pequeno e altamente competitivo”, diz San Choi, diretora adjunta do Centro de Incubação de Negócios para os Jovens de Macau, operado pela Parafuturo de Macau, uma empresa de capitais públicos. Para contrariar esse contexto, defende que as startups locais devem olhar para mercados “além de Macau”

Como tem evoluído a Parafuturo Macau desde a sua fundação?

San Choi – A Parafuturo de Macau foi estabelecida em 2015 para apoiar a cooperação entre a Província de Guangdong e o Governo da Região Administrativa Especial de Macau. O seu objetivo é ajudar os jovens de Guangdong e Macau a iniciar e desenvolver os seus negócios e fortalecer a cooperação entre as empresas de Guangdong e as pequenas e médias empresas de Macau.

Em dezembro de 2017, a Direcção dos Serviços de Economia (agora Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico) contratou a Parafuturo (PFM) para operar o Centro de Incubação de Negócios para os Jovens de Macau (MYEIC).

Desde então, sob a gestão da PFM, o MYEIC oferece aos jovens empreendedores não só o uso gratuito de espaços de escritório 24 horas por dia, 7 dias por semana, com diversas comodidades, como também uma variedade de serviços de apoio gratuito ao empreendedorismo. Em 2018, o MYEIC recebeu a honra de ser o primeiro Espaço de Coworking Nacional fora das fronteiras da China continental.

“A pandemia teve um impacto profundo no empreendedorismo juvenil nos últimos três anos”

Nos anos seguintes, o MYEIC também recebeu prémios do setor, incluindo os 100 Principais Espaços Destacados da China, as 30 Principais Incubadoras da GBA e a Base de Incubação para Estudantes Chineses no Exterior, apenas para citar alguns.

Quantas startups ou empresas estão atualmente sediadas no MYEIC? Quais são as áreas de foco?

S.C. – Desde dezembro de 2017, o MYEIC teve mais de 500 inscrições de empreendedores e startups em ascensão. Atualmente, existem mais de 90 incubados, principalmente no setor de tecnologia e inovação, representando 43 por cento do total. Há projetos nos setores de negócios e serviços comerciais (22 por cento), indústrias culturais e criativas (18 por cento), medicina tradicional chinesa, indústria de saúde e turismo, entre outros (17 por cento).

Que atividades e iniciativas organiza para auxiliar essas empresas?

S.C. – O MYEIC tem organizado atividades de marca, incluindo a Competição de Inovação e Empreendedorismo da Juventude de Macau – a maior do tipo na cidade – por seis anos consecutivos, atraindo a inscrição de mais de 700 projetos empreendedores de alta tecnologia.

Tem proporcionado oportunidades aceleradas para projetos qualificados em dez competições nacionais e internacionais de empreendedorismo, tendo ganho mais de 4.1 milhões de patacas em prémios ao longo dos anos.

Outro evento de destaque, o “MYEIC ProQ Alliance”, que abrange apresentações e correspondência de negócios, foi organizado 14 vezes por quatro anos consecutivos, resultando em mais de 10 milhões de patacas em transações para jovens empreendedores e startups.

Além disso, de maneira a construir uma plataforma para correspondência de investimentos e ajudar os jovens empreendedores a conectarem-se com investidores, o MYEIC tem coorganizado o “Investor Matchups for Startups” com a Associação de Investimento e Inovação de Macau desde 2022.

Através da correspondência direta entre jovens empreendedores e investidores, podem-se criar vínculos e cooperação mais profundos entre eles, ampliando a escolha de investimento inovador e trazendo uma situação vantajosa para ambos os investidores e startups.

Que esforços tem realizado para conectar startups de Macau e do interior da China? Que fatores atraem as startups de Países de Língua Portuguesa a entrar em Macau e Hengqin?

S.C. – Promover o intercâmbio e a cooperação com o Continente, especialmente com as cidades da Grande Área da Baía de Guangdong, Hong Kong e Macau (GBA), sempre foi uma função importante do MYEIC.

Antes da pandemia de Covid-19, o MYEIC organizava visitas anuais às cidades da GBA para que os empreendedores estudassem o ambiente de negócios e explorassem oportunidades de desenvolvimento.

Durante a pandemia, o MYEIC não suspendeu a cooperação com o Continente e assinou acordos de cooperação com parceiros em 11 cidades da GBA, incluindo a base líder da Base de Incubação de Inovação e Empreendedorismo da Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau no sul da China e várias das 12 incubadoras da Província de Guangdong.

“A falta de mão de obra qualificada e a dificuldade em encontrar investidores dispostos a apoiar startups em estágio inicial também são desafios enfrentados pelos empreendedores em Macau”

Através dessas alianças amigáveis, os dois lados podem complementar os recursos um do outro em termos de estabelecimento de empresas, apoio a grupos de reflexão e transformação de conquistas tecnológicas, além de recomendar jovens empreendedores e inovadores de Macau para incubadoras no Continente.

Com a abertura completa das fronteiras e a liberdade de viagens desde o início deste ano, o MYEIC retomará as visitas ao exterior para orientar os empreendedores de Macau que desejam aventurar-se nas visitas a incubadoras e empresas líderes em Hengqin e na GBA, para conhecer as políticas preferenciais, participar em atividades de investimento e financiamento e compreender a situação económica atual, bem como as políticas e regulamentações do setor.

O MYEIC continuará a desempenhar o papel de ponte e elo para empreendedores e startups.

Recentemente, a Parafuturo assinou um acordo com o hub de inovação brasileiro Inova China Hub durante a Beyond Expo. Quais são os principais objetivos desse acordo?

S.C. – Nos termos dos acordos, o MYEIC e as duas entidades fortalecerão a integração de vários recursos de inovação, tecnologia e correspondência de negócios, incluindo governo, universidades, incubadoras e startups, para promover o desenvolvimento de inovação dupla. Esta é a segunda vez que a PFM se une a incubadoras de renome em Portugal e no Brasil para promover a troca e cooperação entre jovens e inovação, seguindo os acordos assinados com a incubadora portuguesa Beta-i e a Fábrica de Startups Brasil em 2018 e 2019, respetivamente.

Na verdade, o Inova China Hub é uma das organizações no Brasil que possui mais conhecimento sobre Macau e a GBA, e organizam frequentemente eventos para sensibilizar os empreendedores brasileiros interessados no mercado chinês. Também apoiam regularmente as iniciativas de Macau e recomendam projetos empreendedores destacados para a “Competição de Inovação e Empreendedorismo (Macau) para Empresas de Tecnologia do Brasil e de Portugal”.

Quais são os principais desafios enfrentados pelas startups em Macau atualmente?

S.C. – A pandemia teve um impacto profundo no empreendedorismo juvenil nos últimos três anos. Manter vivos os negócios que criaram tornou-se um problema sério para muitos empreendedores no pós-pandemia.

De acordo com a pesquisa que realizámos, no quarto trimestre de 2022, 28 por cento dos membros do Centro estavam “no vermelho”, 56,7 por cento conseguiram atingir o ponto de equilíbrio e apenas 15,3 por cento conseguiram obter lucro. De acordo com o feedback deles, a lucratividade das startups continuou fraca, e os preços dos produtos e serviços oferecidos foram muitas vezes reduzidos, resultando em baixas margens de lucro.

“Macau é um mercado relativamente pequeno e altamente competitivo, o que também representa um desafio para as startups”

Em segundo lugar, Macau é um mercado relativamente pequeno e altamente competitivo, o que também representa um desafio para as startups. Com uma população de cerca de 670.000 pessoas, a procura local é limitada. Portanto, é importante que as startups tenham uma estratégia de expansão de mercado para além de Macau, a fim de atingir um público maior e explorar oportunidades de crescimento.

Além disso, a falta de mão de obra qualificada e a dificuldade em encontrar investidores dispostos a apoiar startups em estágio inicial também são desafios enfrentados pelos empreendedores em Macau. O ecossistema de investimento em startups ainda está em desenvolvimento e muitas vezes é difícil para as startups encontrar financiamento suficiente para impulsionar o seu crescimento.

No entanto, apesar desses desafios, Macau tem uma localização geográfica estratégica e desempenha um papel importante como plataforma de cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Com as políticas de apoio ao empreendedorismo e inovação, bem como a expansão do mercado na GBA, Macau oferece oportunidades para as startups se conectarem a um ecossistema mais amplo e aproveitarem as vantagens da sua localização e recursos únicos.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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