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Podem os influencers ajudar o turismo de Macau?

Carol Law

A nível global, usar influenciadores digitais como método de promoção de negócios e atrações turísticas é já um método comum de promoção. Contudo, no caso de Macau, analistas consideram que embora útil para promover alguns aspetos da cidade, esta tendência tem também desvantagens

Desde 8 de janeiro, o número de visitantes a Macau tem vindo a aumentar, fruto do relaxamento das restrições nas fronteiras e da isenção de testes de ácido nucleico e quarentena à entrada.

À medida que a indústria do turismo recupera, a preocupação sobre como implementar a direção oficial de expandir a origem de visitantes estrangeiros aumenta também. Muitas das regiões vizinhas reabriram as suas fronteiras e viram os turistas regressar muito antes de Macau.

De acordo com um artigo publicado pelos académicos Zhou Wenjing, Yin Ping e Meng Qingrui da Universidade Jiaotong de Pequim na revista “Global Gaming and Tourism Research” da Universidade Politécnica de Macau em 2022, a atratividade de Macau para os países e regiões vizinhos (Hong Kong, Taiwan, Japão ,Coreia, Singapura, Filipinas, Índia e Vietname) já tinha enfraquecido entre 2016 e 2019, ou seja, antes da pandemia, existindo a possibilidade de Macau ser ultrapassado por outros países.

O artigo aponta ainda que o mercado turístico de Macau não tem acompanhado o rápido crescimento do mercado do interior da China, indicando que o “desenvolvimento do turismo receptor de Macau entrou num período de estagnação”.

Exposição através de influenciadores, uma tendência global

Após a reabertura da fronteira ao exterior, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) tem trabalhado arduamente na promoção de Macau. Além de convidar influenciadores digitais de Hong Kong a visitar Macau em Janeiro e Fevereiro para promover Macau, a DST também convidou delegações da indústria do turismo de Hong Kong e Taiwan a visitar Macau.

Os programas de promoção turística de Macau foram transmitidos na China continental, tendo a DST também relançado o Greater Bay Area Roadshow a 18 de Fevereiro.

Em termos de marketing internacional, a DST disse que planeia primeiro relançar os seus escritórios de representação na Coreia do Sul e na Tailândia e rever as necessidades de cada mercado de maneira a reorganizar sua estratégia de marketing global e para a sua rede de escritórios de representação. Ao mesmo tempo, o departamento revelou que vai manter a comunicação e cooperação com a indústria do turismo para fortalecer a sinergia dos escritórios de representação no exterior e promover o turismo para Macau de várias formas.

A DST descreveu anteriormente que os 19 influenciadores de Hong Kong que visitaram Macau nos dias 8 e 9 de janeiro foram “efcazes na promoção” da cidade, atraindo imediatamente residentes de Hong Kong a visitar a RAEM.

“Eles fizeram 290 publicações e atualizações temporárias em várias redes sociais, alcançando mais de 2,7 milhões de pessoas e atingindo quase 90.000 interações e 3 milhões de visualizações”.

Usando como referência algumas estatísticas internacionais, como por exemplo na Austrália, as plataformas de viagens online estão a atrair mais visitantes internacionais.

Estudos internacionais mostram que os canais online são os principais canais de vendas do turismo global, representando cerca de 60 a 70 por cento do total de vendas, e ainda em crescimento. Na Europa e nos Estados Unidos, quase 20 por cento das pessoas usam a internet e as redes sociais para encontrar inspiração para o seu novo destino de férias.

Claro que é uma boa ideia, mas também temos de olhar para a eficácia, para o nível de sucesso e se pode ativar um novo mercado de lazer em Macau

Glenn McCartney, Professor Associado em Gestão Integrada de Resorts e Turismo na Universidade de Macau

De acordo com alguns estudos, os influenciadores têm uma influência de 9 por cento e 18 por cento em produtos ou serviços de jogos e viagens, respectivamente.

Para Glenn McCartney, Professor de Gestão Integrada de Turismo e Hotelaria na Universidade de Macau, a influência das celebridades online varia de mercado para mercado.

Estatísticas do interior da china mostram que a influência das celebridades online em decisões de turismo pode exceder os 20 por cento.

McCartney concorda que o uso de influenciadores digitais – ou Key Opinion Leaders (KOLs) como são conhecidos na China – para promover um destino é uma prática comum em todo o mundo e tem algum efeito.

O académico explicou ao PLATAFORMA que são muitos os fatores que levam um consumidor a visitar um lugar, não apenas a indicação de um influenciador. “Claro que é uma boa ideia, mas também temos de olhar para a eficácia, para o nível de sucesso e se pode ativar um novo mercado de lazer em Macau,” diz.

Rutger Verschuren, vice-Presidente do Artyzen Hospitality Group, destacou que a seleção dos influenciadores certos requer um alto nível de compreensão da sua apresentação e público-alvo, bem como uma análise cuidadosa de sua experiências e áreas de especialização, não apenas do quantidade de tráfego que recebem.

“Atualmente muitas vezes o público suspeita que estes influenciadores são pagos e prefere investigar sobre um destino ou hotel através de hospedes ‘autênticos’. Já sabem como julgar e separar o conteúdo autêntico do pago,” diz ao PLATAFORMA.

“Ao fim do dia, os KOLs são uma ótima maneira de promover destinos e hotéis nos dias que correm, desde que o influenciador permaneça autêntico e tenha como alvo o público certo.”

José Rodrigues, presidente da Macau Live Association, também concorda que a tendência atual para o setor do turismo envolve promoções através da internet.

Rodrigues aponta que como o tempo para vídeos online é limitado, normalmente é necessário escolher alguns pontos-chave que podem ser selecionados para o vídeo, por isso transmissões ao vivo são às vezes preferidas por oferecerem uma maior flexibilidade e terem uma maior duração que permite apresentar conteúdos mais detalhados.

“Para quem quiser ser muito detalhado, acredito que seja difícil fazê-lo no mundo de vídeos curtos online.”

Festivais em grande escala e cidades únicas


Lo Chi Leung, Presidente da Associação dos Hoteleiros de Macau, diz ao PLATAFORMA que de maneira a atrair visitantes internacionais é importante promover o turismo de Macau não só através da internet mas por meios offline.

“A DST tem escritórios em muitos países e regiões no estrangeiro para fornecer aconselhamento turístico e promover os eventos de Macau. Todos os anos, o Governo de Macau promove vários eventos locais, como festivais internacionais de música, festivais gastronómicos, o Grande Prémio, maratonas internacionais, convenções e exposições internacionais, etc. através de vários métodos de promoção,” indica.

“As autoridades também organizam passeios para promover o turismo nos países-alvo, e tudo isto rendeu bons resultados.”

O presidente associativo acrescentou que o Governo de Macau está agora a planear organizar regularmente uma série de grandes eventos, que pensa irão “sem dúvida” revitalizar a comunidade, atrair visitantes para a cidade, dinamizar a economia, e melhorar a atratividade da RAEM, incluindo para visitantes estrangeiros.

Ao fim do dia, os KOLs são uma ótima maneira de promover destinos e hotéis nos dias que correm, desde que o influenciador permaneça autêntico e tenha como alvo o público certo

Rutger Verschuren, Vice-Presidente do Artyzen Hospitality Group (Operações em Macau)

Mas, na opinião de Glenn McCartney, antes de lançar uma promoção, é importante saber o pode resultar não apenas “esperar” que resulte.


“O mais importante é ser um destino único. Como eu digo sempre, quais são as características únicas da cidade? Muitas pessoas respondem que temos festivais e comida. Mas todas as cidades têm uma maratona ou um festival de comida. Por isso como podemos diferenciar Macau das outras cidades? Como divulgar mais essa mensagem? É esse é o desafio,” diz.

O professor na Universidade de Macau aponta que actualmente apenas um pequeno número de visitantes internacionais da Europa, Estados Unidos e outros lugares visita Macau, e que será difícil atrair visitantes internacionais a curto e médio prazo, não só devido ás atuais ligações e opões de transporte entre Macau e outras regiões, mas também pela sua imagem.

“Temos que nos distinguir claramente de todas as outras cidades como destino turístico. Os turistas que tenham que passar por seis ou sete horas de voo vai pensar bastante bem para que destinos ir. ‘Será que vá para Singapura ou Macau? O que é que estas cidades têm para oferecer, para mim e para a minha família?’”.

McCartney acredita que como os visitantes de regiões vizinhas não visitam Macau há três a cinco anos, não é uma má ideia promover a cidade através de influenciadores para lugares como Hong Kong que têm viagens frequentes para Macau, como uma espécie de “lembrete”.

Em termos de atração de visitantes internacionais, a curto e médio prazo, é bom começar pelos países vizinhos.

“Acho que devemos olhar para os recursos e o que é alcançável a curto e médio prazo, que são as audiências regionais. Se desenharmos um círculo em torno de Macau que represente uma distância de voo de três horas, será esse o nosso público. O nosso foco devem ser alguns dessas mercados regionais dentro da Ásia,” explica.

“Se o foco estivesse no Médio Oriente, para a Europa ou para a Ásia-Pacífico, Austrália, Nova Zelândia, América, teríamos que que fazer uma campanha um pouco diferente. Concordo que, a curto e médio prazo, o foco deveria ser regional. Temos que olhar para o que podemos ter e onde conseguirmos resultados mais rápidos.”

Um incómodo para os moradores


Membros do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Norte e da Zona Central apontaram durante uma reunião no dia 2 de março que recentemente algumas celebridades online do interior entraram em propriedades privadas para realizar vídeos e ‘check–ins’ em redes sociais, atividades que acreditam promovem comportamentos
inadequados.

Os membros do conselho revelaram também que existem casos de turistas que utilizaram drones para tirar fotografas ou filmar vídeos em locais públicos sem autorização.

O deputado Ron Lam diz ao PLATAFORMA que passados três anos da pandemia, o fluxo de turistas recuperou claramente e as autoridades devem fazer o possível para minimizar os conflitos e pressões entre turistas e residentes de Macau através de medidas como publicidade, educação, ou desvio de fluxos de turistas.

Lam indicou também que é normal promover Macau através de influenciadores digitais, mas que a moda atual de celebridades online não deve ser prioritarizada, já que alguns influenciadores podem exagerar as suas opiniões para atrair mais visualizações.

“Acho que a promoção boca a boca dos turistas é o fator mais importante. Se colocarmos muita fé na promoção através de influenciadores, isto pode sair-nos pela culatra quando os turistas chegarem e acharem que as atrações não correspondem ao que ouviram. Acho que é mais prático fazer um bom trabalho em apoiar a nossa indústria do turismo e promover a diversidade cultural,” diz o deputado.

“Com as políticas certas em vigor, naturalmente haverá pessoas que possam ajudar a promover-nos como um destino turístico, em vez de tentar cegamente atrair publicidade ilimitada”.

Lam aponta também que os recursos de publicidade poderiam ser desviados para a época baixa, e que os equipamentos de apoio poderiam ser ajustados para tirar partido da actual recuperação do setor do turismo.

“Se Macau não tiver instalações de apoio e mão-de-obra adequadas, isso vai afetar a experiência dos turistas.”

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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