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Baixa de Luanda regista fraca movimentação de pessoas

Jornal de Angola

A agitação da cidade capital, durante a quadra festiva, passou a ser uma parte comum do quotidiano dos habitantes de Luanda. Este ano, algumas excepções foram registadas, ao menos nesta época natalina. Um exemplo visível esteve na Baixa da cidade, que ontem registou pouco movimento de pessoas e viaturas, em especial nas paragens da Mutamba aos congoleses e Benfica, geralmente muito concorridas.

Está inversão do habitual, uma realidade que passou a ser um novo normal do pós-pandemia, surge, para alguns dos entrevistados, como Francisco Carpinteiro, residente no município de Viana, devido ao baixo poder de compra de muitos cidadãos. “A Baixa de Luanda esteve muito calma. Inclusive não tive dificuldades para ter acesso ao transporte. O único porém foi o preço cobrado. Ao invés dos habituais 300 kwanzas, tive de pagar 400 kwanzas para chegar à Baixa. Talvez por ter saído de casa às 4h00”, disse.

Para o taxista Adão Calela, o movimento na Baixa de Luanda era tão fraco que teve de mudar a rota por falta de passageiros. “Sou taxista há 14 anos e este ano a cidade esteve, na Baixa, muito calma. Comecei a trabalhar às 6h00 e já mudei a rota três vezes. Ontem, sexta-feira, estava mais movimentado”, explicou.

A mesma opinião tinha o lotador de táxi Francisco Manuel. “Não sei onde vamos tirar dinheiro para dar um Natal condigno à família. É neste trabalho onde tiro o ganha pão, mas sem passageiros não posso ser pago pelos taxistas”, lamentou o lotador.

Outros pontos

Embora a Baixa estivesse calma, outros locais da cidade capital registaram um fluxo acentuado de pessoas e viaturas. Algumas vias, como a da rotunda do Calemba 2, ou partes da Avenida Deolinda Rodrigues, registaram um congestionamento acentuado, em parte devido à agitação de pessoas a fazerem as últimas compras da Ceia de Natal.

A reportagem do Jornal de Angola constatou, ainda, em pontos como na Samba um grande fluxo de pessoas à espera de táxis. Artur Miguel, um dos cidadãos à espera, acreditava que a agitação de última hora das compras era a causa da falta de transportes. “As pessoas ficam agitadas nesta época festiva, mesmo com poucos recursos financeiros”.

“Não está fácil andar de táxi”, desabafou, acrescentando que a prática tem sido comum nesta altura do ano. “As pessoas querem fazer compras ou ir à casa dos familiares celebrar a data. O bom é que não houve um aumento exagerado no preço da corrida de táxi. Porém, há um fluxo reduzido de viaturas”, desabafou.

Inácio Vicente, outro citadino que esperava por um táxi, lamentou, também, a escassez de transportes. “Demorei bastante para sair da Ilha de Luanda até à Mutamba. Não está fácil andar de um lado para o outro”, disse.

Para outros, como Odete Silva, a agitação não se comparava a de épocas anteriores. “Em parte é devido ao pouco poder de compra e as consequências ainda existentes da pandemia”, disse, além de contar que ficou horas à espera de um táxi no São Paulo.

Enchentes nas paragens

As paragens de táxis estiveram muito cheias. A ânsia das pessoas para chegar aos locais de compras ou à casa de familiares era comum. Alguns troços da cidade, como a Cuca e São Paulo, registaram um fluxo acentuado de pessoas.

Para Yara Domingos, a dificuldade era tanta, no sentido Cuca-São Paulo, que teve de andar a pé, até conseguir pegar o táxi. “Há muito movimento de pessoas e acredito que a maioria dos taxistas decidiu também não trabalhar”.

A mesma dificuldade foi sentida por Pedro Vintém, que teve de pagar várias vezes, devido ao encurtamento das rotas por alguns taxistas. “Uma das causas foi o engarrafamento registado, como explicou o taxista”, disse.

O taxista Agostinho Pascoal disse ser comum tal fenómeno acontecer. “Muitos dos taxistas preferem estar com a família ou amigos neste dia. Por isso, há uma redução acentuada no transporte de passageiros. O fenómeno vai voltar a acontecer no fim da próxima semana”.

Sem criticar a pausa dos colegas, o taxista disse que neste dia prefere trabalhar das 6h00 às 18h00. “É uma forma de ajudar a população a sair de um local para outro, em especial os que trabalham ou querem ir ao encontro dos familiares”, destacou.


Vendedoras da capital lamentam pela pouca procura

As vendedoras de vários mercados da capital disseram estar desapontadas, este ano, com o número reduzido de clientes à procura de produtos para usar na quadra festiva.

A vendedora Isabel da Costa, que trabalha no mercado dos Congoleses, em Luanda, lamentou, ontem, a falta de clientes e a pouca aquisição de produtos, mesmo os ligados à quadra festiva. Como comerciante de ovos, trigo e manteiga, considera anormal, para a época, estes artigos não estarem a ter saída. “Esta quadra festiva está a ser uma decepção. O movimento está fraco. Tivemos um dia sem grandes lucros”.

Para a vendedora, a fraca procura pelos produtos no mercado está além da crise económica enfrentada pelo país. “Quase não há clientes nos mercados. Muitos preferem comprar em quem vende fora”, lamentou, adiantando que o mercado das Pedrinhas tem sido o principal obstáculo.

Gonga Mateus, outra vendedora do espaço, é da mesma opinião. Apesar das lamentações pela fraca procura, diz que prefere olhar para os ganhos obtidos diariamente. “A rotina deixou de ser a mesma, apesar do mercado estar cheio. Há pouquíssimos compradores a solicitar os serviços. Antes, os ingredientes do bolo e da Ceia de Natal eram dos mais requisitados nesta época. Mas, hoje nem tanto. Mesmo assim, prefiro olhar para os ganhos, já que consegui, pelo menos, vender o bacalhau, algumas uvas secas e chocolate”.

São Paulo

Vendedoras do mercado de São Paulo também lamentaram a pouca procura este ano. Edna Canda, vendedora de peixe há 18 anos, disse que o movimento de pessoas ficou muito abaixo das expectativas. “Antes, quando se falava de Natal, as pessoas compravam sem se importar com o preço. Agora têm feito uma selecção dos produtos a comprar”, revelou.

Muitos  clientes, continuou, preferem comprar peixe, como o malundo, para substituir o tradicional bacalhau, devido ao preço.

Para Marcelina Neto, também vendedora do mercado de São Paulo, os produtos com maior procura nesta época foram o bacalhau e a carne seca.

Agitação nos Kwanzas

Ontem, o mercado dos Kwanzas registou muita agitação, dentro e fora da zona comercial. A procura por produtos para a Ceia de Natal era tanta que os passeios eram partilhados entre vendedores, clientes e transeuntes.

Devido à grande procura, os preços de muitos produtos estavam mais caros. Entre os mais solicitados constavam não só os bens alimentares, mas também  roupas, calçado e brinquedos.

A vendedora Marineza Mulato disse terem registado um movimento satisfatório. “Foi surpreendente o número elevado de clientes”.

Joana dos Santos, que vende carne, mostrou-se desapontada com a situação. “O Natal este ano está aquém do desejado. Nos anos anteriores, nesta altura, a procura pelos bens alimentares era maior.  Devido à fraca procura, algumas vendedoras estão a pensar trabalhar no dia de Natal, pelo menos até ao meio dia”, disse.


Serviços de urgências estão acautelados para a ocasião

Para atender qualquer situação de emergência, os serviços de urgências dos hospitais da capital prepararam homens e meios de forma a ter condições de acudir as ocorrências.

O Hospital Américo Boavida começou a registar, nos últimos dias, um aumento significativo na movimentação de pessoas, em especial na área de cirurgia. Devido à situação, a direcção do hospital decidiu aumentar o número de profissionais de saúde, para dar resposta a todos os casos durante este período.

O chefe do Banco de Urgência do hospital, Marcos de Carvalho, espera por uma quadra festiva difícil e, por isso, defende o reforço das equipas cirúrgicas e médicas. “Um total de 90 a 100 pessoas vão estar disponíveis para atender o público no Natal”, explicou.

Para responder às complexidades, adiantou que a nível dos meios técnicos o hospital preparou ambulâncias normais de suporte vital básico e de apoio avançado, para actuar em situações de atropelamentos ou nos casos de acidentes. “Os casos mais comuns são os esfaqueamentos e as agressões físicas”, apontou.

Condições prontas

A direcção do Hospital Mãe Jacinta, em Luanda-Sul,  Viana, está em condições e preparado para dar respostas a várias exigências de saúde, que possam surgir durante a comemoração do Natal. A garantia foi dada pelo director clínico da instituição, Emanuel Ngunza, durante a preparação das celebrações da quadra festiva.

Em relação aos recursos humanos disponíveis, o director clínico disse que há equipas de plantão e em prontidão para atender às ocorrências, em função dos possíveis excessos da quadra festiva.  “Criamos equipas multidisciplinares em termos de especialidades médicas, prontas para o atendimento imediato de qualquer ocorrência, que já estão a funcionar desde as primeiras horas de ontem. Aguardamos por uma maior demanda, em especial nos serviços de bancos de urgências e pediatria”, aclarou.

Além destes dois serviços, adiantou que têm preparados outros, com especial enfoque aos do fórum de orto-traumatologia. “O hospital tem medicamentos e materiais suficientes para utilização e distribuição gratuita aos pacientes que acorrerem à unidade hospitalar”, garante.

Como forma de garantir que todas ocorrências sejam controladas e tratadas, disse que existem ambulâncias disponíveis e destacadas em pontos estratégicos. “Aconselho também os pais a redobrarem as atenções e os cuidados com os mais pequenos, pois nesta época é comum haver um aumento dos casos de queimaduras em crianças”, alertou.

Equipas médicas

Durante esta quadra festiva, em especial hoje, dia de Natal, oHospital Militar de Luanda (HML) vai manter o funcionamento normal de atendimento às urgências e emergências, tanto nos prontos-socorros, quanto nos sectores de internamento e nos centros cirúrgicos, com quadro de pessoal reforçado.

Os profissionais da unidade hospitalar, explicou a enfermeira Guilhermina Tavares, vão procurar atender satisfatoriamente a procura da população. “O hospital tomou medidas preventivas, muito antes do mês de Dezembro, para ter as áreas de urgências e emergências a funcionar normalmente”, informou.

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