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Boris Johnson cedeu à pressão e demitiu-se

Frustrado com a revolta de ministros e deputados, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, aceitou ontem a inevitabilidade de demitir-se da liderança do partido Conservador, mantendo-se em funções até ser encontrado um sucessor.

“É doloroso não poder levar a cabo tantas ideias e projetos. Mas, como vimos em Westminster, o rebanho é poderoso e quando o rebanho se mexe, ele mexe-se, e na política ninguém é absolutamente indispensável”, afirmou num discurso à porta da residência oficial em Downing Street. 

Ainda na véspera, Johnson tinha-se mostrado determinado em continuar em funções, apesar de já acumular cerca de 50 demissões, entre ministros, secretários de Estado, assistentes e conselheiros. 

Mas logo pelo início da manhã, mais sete baixas elevaram o número de lugares vagos, tornando evidente a dificuldade em estancar a sangria de apoio, mesmo entre os seus mais leais adeptos, e de fazer uma remodelação completa. 

“Dei-lhe, e àqueles à sua volta, o benefício da dúvida. Defendi este governo publicamente e em privado. Porém, chegámos a um ponto sem retorno”, resumiu o ministro da Irlanda do Norte, Brandon Lewis, na carta de renúncia. 

Pouco depois, o ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, promovido há menos de dois dias da pasta da Educação para substituir Rishi Sunak, reconheceu que a situação “não é sustentável e só vai piorar”, pedindo a Johnson para sair.

Pelas 09:00, um porta-voz confirmou que o primeiro-ministro ia fazer um discurso de demissão, o que aconteceu pelas 12:30. 

“É claramente a vontade do Partido Conservador que haja um novo líder e, portanto, um novo primeiro-ministro”, reconheceu Johnson, “triste por desistir do melhor emprego do mundo”.

O calendário para a sucessão será conhecido na próxima semana, adiantou, prometendo manter-se em funções até lá, o que levantou protestos. 

“Há uma sensação generalizada de alívio de que o caos dos últimos dias (na verdade, meses) chegará ao fim, embora a ideia de Boris Johnson permanecer como primeiro-ministro até ao outono pareça longe do ideal e certamente não sustentável”, comentou a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon.

George Freeman, que se demitiu ontem de manhã do cargo de secretário de Estado da Ciência, sugeriu um chefe de governo interino “para tentar reparar os danos e reconstruir a confiança”.

O antigo primeiro-ministro britânico John Major considerou que a ideia de “permanecer no cargo, até três meses, depois de perder o apoio do seu gabinete, do Governo e do seu partido parlamentar é insensata, e poderá ser insustentável”. 

Também o líder do Partido Trabalhista e da oposição, Keir Starmer, manifestou-se contra a permanência de Johnson no cargo e ameaçou apresentar uma moção de censura para o remover do poder “no interesse nacional”.

“Ele precisa de ir de vez. Nada deste disparate de se agarrar durante alguns meses. Ele tem infligido mentiras, fraudes e caos ao país”, argumentou.

As reações à demissão de Boris Johnson foram mistas, com a Ucrânia a agradecer pelo apoio nos “momentos mais difíceis” da invasão russa ao país.

“Todos nós recebemos esta notícia com tristeza. Não só eu, mas também toda a sociedade ucraniana que simpatiza muito consigo”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky a Johnson por telefone, segundo um comunicado.

O ex-negociador da União Europeia (UE) no processo ‘Brexit’, Michel Barnier, espera que seja aberta “uma nova página nas relações com o Reino Unido”, que seja “mais construtiva, mais respeitosa dos compromissos assumidos, em particular no que diz respeito à paz e estabilidade na Irlanda do Norte”. 

A partida de Johnson é “uma oportunidade de voltar ao verdadeiro espírito de parceria e respeito mútuo de que precisamos”, acrescentou o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, referindo-se às divergências entre Dublin e Londres sobre a Irlanda do Norte.

Por sua vez, o Presidente dos Estados Unidos já começou a pensar no futuro líder do país “amigo e aliado mais próximo” de Washington.

“A relação especial entre os nossos povos continua a ser forte e duradoura. Estou ansioso por continuar a aprofundar a nossa cooperação com o Governo britânico”, disse Joe Biden, numa breve declaração.

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