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Coragem política: estratégia verde para travar Putin

Bebiana CunhaBebiana Cunha*

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, foram várias as vozes conservadoras do nosso Parlamento a afirmar que não teríamos outras soluções senão voltar atrás com os compromissos na descarbonização, nomeadamente no que diz respeito à nossa dependência de combustíveis fósseis.

Numa recente entrevista, Yuval Harari veio levantar o véu quanto às possibilidades que os decisores políticos têm em mãos para acelerar a substituição de combustíveis fósseis por energias verdes, montando assim uma estratégia para fazer baixar o preço do petróleo, reduzindo a dependência energética da União Europeia (UE) para com países como a Rússia. Yuval conclui que tal coragem constituiria ainda um bónus no combate à crise climática.

Esta solução não agradará nem aos conservadores nem aos liberais, que, focando a sua narrativa nos impostos, nunca dizem que o problema do preço dos combustíveis em Portugal, surgiu pelas mãos de Durão Barroso, quando este aprovou a liberalização do mercado. Aliás, independentemente do valor do barril de petróleo, vemos o que continua a acontecer, com a nova crise Covid-19 na China, o que implica um abrandar da segunda maior economia do mundo e, consequentemente, baixou o preço do crude, mas tal não se está a traduzir nos preços para o consumidor final.

Mas, se é sabido que a Rússia detém cerca de 40% do gás natural que alimenta toda a Europa e ainda, 25% do petróleo, e que esta dependência energética foi sempre apontada como um entrave para  que a UE tivesse outro tipo de posição nas relações entre a Rússia e a Ucrânia, a saída passará sempre por se trabalhar no sentido da soberania e da independência, seja energética, seja alimentar. Sabe-se que, após a revolução de 1917, a Rússia aumentou os níveis de produção de gás natural e de petróleo e descobriu reservas dentro do território e, naturalmente, a Europa, região com poucas reservas de gás natural e petróleo, foi firmando a sua dependência. Contudo, estamos em 2022 e cada vez mais próximos do chamado ponto de não retorno das capacidades do planeta em manter a vida tal como a conhecemos. Se a luta pela nossa sobrevivência no planeta, pela sobrevivência das outras espécies ou pelo simples facto de mantermos a nossa casa, não têm sido suficientes para se definirem objetivos mais ambiciosos, que seja por esta tragédia humanitária que vivemos, este conflito armado, a motivar a UE e cada um dos seus Estados-Membros a apostar na transição verde, com metas que sejam realmente ambiciosas.

Quando um adulto ouve falar em metas para a neutralidade carbónica apontadas para 2030, pensa que, apesar de não ser ao virar da esquina, provavelmente viverá até lá, mas quando se ouve falar nas metas para 2050, pensará: mas afinal o que vamos deixar para os nosso filhos e netos? Onde está a justiça intergeracional nestas decisões políticas? E, é por isso que já na próxima semana haverá mais uma greve climática, organizada pelos nossos jovens, onde alto e bom som vão lembrar que sol, água, vento são solução, petróleo e carvão é deixá-los no chão!

*Deputada do PAN

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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