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Cabo Verde a caminho da liderança mundial da nidificação de tartarugas

Paulo Julião

Os ninhos de tartarugas marinhas na Boa Vista aumentaram dez vezes em 15 anos, o que leva a organização ambientalista Bios.CV a admitir que Cabo Verde pode chegar este ano à liderança mundial na nidificação da espécie Caretta Caretta

“É uma boa notícia porque pensamos que Cabo Verde pode ser agora a primeira população de tartaruga comum, tartaruga Caretta Caretta, a nível mundial”, afirmou, em entrevista à Lusa, o biólogo espanhol Pedro Diaz, fundador da Bios.CV, organização ambientalista da Boa Vista.

Pedro Diaz trabalha nos projetos de conservação de tartarugas marinhas naquela ilha cabo-verdiana desde 1999 e sublinha a importância do que tem vindo a acontecer nos últimos anos naquela ilha, que se reflete nos números do país: “Temos visto um aumento extraordinário de tartarugas nos últimos três, quatro anos. Há 15 anos, o número de ninhos na Boa Vista era de 12 a 14 mil. No último, em 2021, já foram 156 mil, mais de dez vezes o número que tínhamos antes”.

Segundo a Bios.CV, os ninhos da Boa Vista representam 60% do total em Cabo Verde e só nos cinco quilómetros da praia de João Barrosa, naquela ilha, foram contados na época de desova de 2021 cerca de 33.500 ninhos de tartarugas marinhas.

Sem esconder a “boa notícia” que é “chegar a estes números”, Pedro Diaz também admitiu que não há uma explicação fácil para o cenário a que se assiste em Cabo Verde: “Não sabemos porquê este aumento tão grande nos últimos anos. E em vinte anos não parece que seja um tempo suficiente para explicar esse aumento”.

Cabo Verde tornou-se em 2020 no segundo mais importante ponto de desova de tartarugas marinhas, com o número de ninhos a bater então o recorde de quase 200.000 em todo o país, segundo números divulgados em março do ano passado pelas autoridades nacionais.

O arquipélago viu o total de 10.725 ninhos de tartarugas detetados no arquipélago em 2015 aumentar para 198.787 ninhos em 2020, quase 19 vezes mais.

Com a educação ambiental, vigia de mais de 180 quilómetros de praias e aplicação da nova legislação que criminaliza a caça e o consumo das tartarugas, a taxa de captura diminuiu significativamente, de 8,25% em 2015 para 1,54% em 2020, segundo os dados oficiais mais recentes.

“Tradicionalmente, a tartaruga era um recurso alimentar para as pessoas em Cabo Verde nos períodos de seca. Nos últimos vinte anos tem mudado bastante, ainda existe consumo de tartaruga, mas o Governo criou leis que tornam mais difícil que as pessoas apanhem tartarugas”, reconheceu o biólogo da Bios.CV.

Por outro lado, explicou Pedro Diaz, também existe agora “mais consciência ambiental, sobretudo na população mais jovem” do país e a atividade envolvendo as tartarugas marinhas “está a atrair turistas para Cabo Verde”.

“Os turistas gostam de ver as tartarugas”, sublinhou.

O período desova da tartaruga marinha nas ilhas cabo-verdianas acontece anualmente entre julho e novembro, sendo habitualmente os ninhos alvo da predação de cães ou caranguejos. Em 2021, os voluntários da Bios.CV monitorizaram 8.431 tartarugas nas praias da Boa Vista e resgataram 132, com ações que levaram ainda a que nenhuma tartaruga fosse caçada, garantiram.

Além disso, 1.135 ninhos foram protegidos na incubação e diferentes métodos foram testados para aumentar a produção masculina (que depende da temperatura nos ninhos), num total de 66.679 tartarugas bebés que nasceram na incubadora e foram libertadas no mar pelos voluntários cabo-verdianos e internacionais da Bios.CV

Num ano ainda afetado pela pandemia de covid-19, a organização ambientalista retomou o programa de formação em conservação e voluntariado, em que 28 cabo-verdianos foram beneficiados com um posto de emprego direto no campo, de maio a novembro. Além disso, receberam 26 voluntários, sobretudo estudantes, cabo-verdianos e de vários países europeus.

“Infelizmente, nos últimos anos, temos tido menos voluntários internacionais. Mas este ano talvez voltemos a ter mais voluntários de fora. É interessante esta experiência de contactos entre estudantes europeus e cabo-verdianos, esta troca de culturas”, explicou Pedro Diaz, perspetivando já para maio o início da preparação dos acampamentos para a próxima época de desova.

“Mas a Boa Vista é pequenota. De vez em quando também preciso de sair, para arejar a cabeça”, atirou o biólogo espanhol, médico-veterinário, de Madrid, mas que reside naquela ilha cabo-verdiana há mais de 20 anos.

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