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Retirar CO2 da atmosfera já não é suficiente

A 26ª sessão da Conferência das Alterações Climáticas das Nações Unidas (COP26) será organizada em Glasgow, na Escócia, em novembro de 2021. Porém, uma importante questão mantém-se: como é que até 2050 irão as principais economias mundiais reduzir as suas emissões e atingir a neutralidade de carbono, criando um mundo onde a Humanidade já não emite gases com efeito estufa para a atmosfera? 

Tem havido várias discussões sobre os objetivos climáticos e a utilização de tecnologia para extrair dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Mesmo os cientistas mais otimistas concordam que a “remoção de dióxido de carbono (CDR)” ou “emissões negativas” sejam a solução para atingir as metas estabelecidas pelo “Acordo de Paris” – manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus Celcius.  

De acordo com Glen Peters, diretor de investigação no Centro Internacional de Investigação Climática, é necessária “uma redução drástica nas emissões para além da CDR.” 

Existem duas formas de retirar dióxido de carbono da atmosfera. A primeira é aumentar a capacidade de absorção e armazenamento da natureza, recuperando florestas degradadas e mangais, plantar árvores numa escala industrial e aumentar o armazenamento de dióxido de carbono em rochas e mares, constituindo as tão discutidas “soluções naturais”.  

O segundo método, conhecido como captação direta de ar, consegue através de um processo químico remover dióxido carbono da atmosfera e usá-lo para fins industriais, ou capturando-o em paredes de rochedo poroso, carvão ou águas salgadas em desuso.  

Outro método, que combina ambas as técnicas, chama-se de “bioenergia com captura e armazenamento de carbono” (BECCS, na sigla inglesa). Madeiras e outras biomassas podem ser convertidas em combustível ou utilizadas para gerar energia elétrica. O carbono gerado por esta produção de eletricidade é anulado na sua maioria através de absorção no processo de crescimento florestal.  

Quando as emissões de CO2 dos geradores energéticos é sintetizado e armazenado no subsolo, o processo cria uma tecnologia de emissão negativa.  

Mesmo assumindo que o mundo começa a reduzir as emissões de carbono em três, quatro ou cinco por cento todos os anos, as indústrias de produção de ferro, cimento, aviação ou agricultura, teriam de manter os seus níveis de emissões constantes durante as próximas décadas.  

Oliver Geden, perito em CDR e investigador no Instituto Alemão de Segurança e Relações Extremas diz que “possuímos várias soluções”, mas ainda ninguém definiu o que é preciso até 2050. “Podemos sofrer com emissões residuais em altas quantidades”, atira. 

O relatório para o mês de agosto do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa) foi surpreendente. O documento revela que, mesmo reduzindo radicalmente as emissões, o limite da subida de 1,5 graus Celcius será ultrapassado ao longo das próximas décadas.  

O dióxido de carbono é armazenado na nossa atmosfera há séculos. Até 2100, a única forma de garantir que a temperatura do planeta permanece dentro dos limites definidos é remover o dióxido de carbono da atmosfera.   

Há mais de uma década atrás, a BECCS foi definida como o modelo a utilizar pelo IPCC – método teoricamente mais barato de atingir “emissões negativas”. No entanto, até agora tem havido pouco desenvolvimento nesta direção.  

No ano de 2019, a proposta de redução de CO2 com a plantação de um bilião de árvores deixou tanto os media como as empresas petrolíferas em êxtase. Estas empresas transformaram a reflorestação no pilar do Acordo de Paris.  

Contudo, salientam que tal requer a conversão do dobro da área total da Índia numa monocultura florestal. A plantação de árvores para absorção de CO2 é uma boa ideia, no entanto, em climas extremos, estas florestas serão destruídas por incêndios.  

Entre os vários métodos de remoção de dióxido de carbono, a captação direta de ar (DAC, na sigla inglesa) é o menos avançado, apesar de ser o mais discutido. Este é um processo de escala industrial que necessita de grandes quantidades de energia para operar.  

Porém, existe ainda um longo caminho a percorrer até que as tecnologias existentes consigam resolver o problema. Por exemplo, o maior centro de captura de ar (4000 toneladas) abriu no mês passado, construído na Islândia pela Climeworkse. O centro é capaz de extrair o equivalente a três segundos das emissões globais no espaço de um ano (40 mil milhões de toneladas).  

Este ano a equipa de investigação do Programa de Descarbonização Profunda de San Diego, na Universidade da Califórnia, liderada por David Victor, quis compreender até que nível a implementação urgente da DAC poderia reduzir a concentração de CO2, sob diferentes cenários. Os investigadores afirmam que, assumindo que é atingido um investimento anual de 1 bilião de dólares a partir de agora, até 2050 a DAC poderia reduzir as emissões globais em cerca de 2 mil milhões de toneladas de CO2, anualmente. Apenas em combinação com o sistema de redução de carbono mais agressivo do IPCC é que seria possível trazer a temperatura global de volta para os 1,7 graus Celcius até 2100, depois de uma subida de cerca de 2 graus.  

A captura direta do ar beneficia do apoio de grandes corporações. Em abril deste ano, o CEO da empresa Tesla, Elon Musk, lançou um prémio de 100 milhões de dólares para tecnologia de remoção de dióxido de carbono. Em setembro, o Fundo Breakthrough Energy, criado por Bill Gates em 2016, anunciou também a criação de um programa de parceria empresarial com a American Airlines, a ArcelorMittal, o Bank of America, a Microsoft, a Blackrock e a General Motors, para promoção do desenvolvimento de captura direta de ar, combustíveis de aviação sustentáveis e outras tecnologias em prol das energias renováveis.  

Segundo os peritos, a remoção de dióxido de carbono da atmosfera está a começar a entrar no espaço político, podendo tornar-se numa questão controversa já na reunião da ONU, em Glasgow. Primeiro a Índia, agora a China, vários países estão a incentivar as nações mais ricas a implementar e atingir o objetivo “emissões zero”.  

As pequenas ilhas que sofrem com a subida do nível dos oceanos “já estão a pensar seriamente na remoção do dióxido de carbono”, acrescentou Geden.   

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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