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O jogo da política

Paulo Rego*

Macau vive um período acelerado de integração política. As vozes dissonantes, sendo naturais e legítimas, estão contra o espírito do tempo – há muito tempo. A transição de poderes coloca Pequim onde estava Lisboa… e exigir à China graus de autonomia – e democracia – que, em rigor, Portugal nunca permitiu, é perorar no vazio. Outra coisa é saber como evoluirá a China; que Macau pode existir, e qual é o projeto de independência e maturidade económica que aumente a capacidade negocial de Macau. 

A mão visível do Estado é hoje incontornável em quase todo o mundo. Não só por causa da pandemia e da crise económica… Temas como a sustentabilidade, o radicalismo religioso, ou o abuso dos impérios tecnológicos, exigem respostas globais e ação decidida dos governos. Mesmo as democracias, não tendo de ser autoritárias, terão de exercer autoridade. Com menos liberalismo e mais intervenção na recuperação económica e na estabilidade social.  

A mão visível do Estado é hoje incontornável em quase todo o mundo 

Macau, habituada a uma economia rentista, conta com o Estado para quase tudo o que não vem dos casinos. Agora, vê na China a esperança de que haja um rumo para a sustentabilidade e crescimento. Os sinais que hoje é possível detetar apontam para um peso menor do jogo na condução da cidade. Pura miríade? Em termos financeiros não se vêm alternativas, pelo menos no curto/médio prazo. Mas na relação de poder entre os impérios do jogo e o Estado a mudança é mais que notória. Pequim não tem o tamanho de Macau… e tenham o poder que tiverem, os oligarcas locais são grãos de areia no universo chinês. 

Macau não será o que dita a economia do jogo; mas sim o que dita o jogo da política chinesa. Que não é estático; não começou ontem nem termina amanhã. Coisa diferente é a capacidade que Macau tem de pôr na mesa as cartas da autonomia e os trunfos da sua mais-valia na relação entre o ocidente e a Grande Baía. Os sinais são ainda muito fracos… Mas essa é a aposta que tem de ser ganha. 

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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