Mesmo depois de condenado em primeira instância, Ventura jurou que nunca pediria desculpa aos sete membros da família Coxi a quem apelidou de “bandidos”, tendo até reiterado a calúnia várias vezes. Agora o Tribunal da Relação deu razão aos Coxi: o líder do Chega e o partido vão ter mesmo de se retratar.
“Os réus usaram a fotografia como arma de segregação social.” Esta é uma das conclusões do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que confirma a condenação de André Ventura e do partido Chega na ação cível que lhes foi movida por sete membros de uma família residente no bairro da Jamaica, os Coxi, cuja foto com o presidente da República o líder partidário exibiu no debate televisivo das presidenciais com Marcelo, em janeiro, apelidando-os de “bandidos” e “bandidagem” e opondo-os aos “portugueses de bem” que dizia querer representar.
Confirmando a sentença recorrida (da juíza Francisca Preto, do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa), o tribunal superior parece no entanto ir mais longe, ao reconhecer “a vertente discriminatória em função da cor da pele e da situação socioeconómica dos autores” (os Coxi) existente nas ofensas.
Isto porque a sentença de primeira instância, concluindo que “chamar aos Autores bandidos e referir-se a eles como bandidagem” é a “emissão de um juízo de valor que as diminui e marginaliza”, não valorizava “o cariz discriminatório das declarações” de Ventura, considerando não se tratar do “aspeto mais relevante do processo”.
Argumentava Francisca Preto: “Nem resulta dos autos [do processo] que tal discriminação seja necessariamente determinada pela cor da pele ou pela condição socioeconómica dos visados, embora esses elementos ressaltem de imediato aos olhos dos recetores da mensagem. O que é essencial é o caráter ilícito das declarações com referência à fotografia que foi exibida e a ofensa aos direitos de personalidade”.
Esta decisão da juíza de primeira instância deixava por explicar a razão pelo qual Ventura e o Chega, (que também usou a foto dos Coxi na sua conta de Twitter a 22 de janeiro, antevéspera das eleições, como contraponto a uma fotografia de Ventura, este frente à Assembleia da República, com três homens brancos, um dos quais com uma tshirt do Movimento Zero, e a legenda “Eu prefiro os portugueses de bem”), tinham escolhido a imagem desta família, desconhecida da maioria dos portugueses – e que não foi nunca identificada, por nome ou qualquer outra forma qualquer, nem no debate televisivo nem na publicação do partido na rede social – para contrastar com a ideia dos “portugueses de bem”.
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