Quase três mil alunos, maioritariamente venezuelanos, estão a aprender português através da nova Rede Camões, uma rede local, não oficial, que promove o idioma nas escolas de ensino básico e secundário, aproveitando a abertura das autoridades venezuelanas nesse sentido
Apesar de não ser oficial, a Rede Camões conta com o apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua em livros e apoio técnico, e funciona no estado venezuelano de Arágua (100 quilómetros a oeste de Caracas) e na Ilha de Margarita, estado de Nova Esparta (470 quilómetros a nordeste da capital).
“Contamos com quase três mil estudantes na rede. Temos um grupo de 14 professores, que estão a apoiar a formação destes alunos e isto faz parte do ensino curricular” explicou o responsável pela rede, Henrique de Sá, em Cágua (100 quilómetros a oeste de Caracas).
O responsável explicou à Lusa que “há um enorme interesse na comunidade académica” e que “os colégios, as instituições, querem muitíssimo contar com o português e formar estudantes em língua portuguesa”.
“Há uma boa opinião e um grande interesse em que seja parte do programa, como já o é, e o currículo nacional venezuelano permite”, acrescentou.
Segundo Henrique de Sá, a nova rede faz parte do projeto de formação de professores, que foi celebrado entre o Camões e a Universidade Pedagógica Experimental Libertador, com sede em Maracay.
“Formamos professores que irão tomar responsabilidades nesta rede, fazer que funcione e oferecer aos nossos estudantes de agora, mas futuros professores, oportunidades de trabalho, de formação e de crescimento profissional”, disse.
O responsável explicou que em Arágua a rede promove o ensino nos colégios San José e António José de Sucre, em Cágua, La Concepción, Belavista e no Instituto Ana Byron e Maracay. Também em Turmero, no colégio Bicentenário de Las Independências.
Em Nova Esparta, ilha de Margarita, nos colégios Nova Cádiz e Domingo Sávio.
Henrique de Sá precisou que os netos e filhos de portugueses estão a reencontrar-se com “as raízes um pouco esquecidas”, e que “redescobrem a beleza e o interessante” da cultura portuguesa.
O responsável da Rede Camões considerou também que a iniciativa contribui para que os venezuelanos mudem “a opinião que têm sobre Portugal” e a sua cultura, o que é importante “porque podem observar que Portugal é um país diverso, rico, interessante culturalmente, um país de oportunidades e que tem muitíssimo para dar”.
“Apesar das dificuldades, do difícil da pandemia e da situação particular da Venezuela, fazemos o maior esforço para continuar a apoiar (…) porque acreditamos nisto e sabemos que é o futuro, o caminho para a massificação da língua portuguesa”, frisou.
Por outro lado, Rafael Eduardo Yol Castillo, diretor do Liceu São José de Cágua e do Colégio António José de Sucre, ambos na cidade de Cágua, explicou que a ideia surgiu através de contactos com a embaixada de Portugal e dois professores de português.
“Muitas famílias de Cágua, são de origem portuguesa, e muitos dos nossos alunos pertencem a essa família e muitos alunos venezuelanos também estão interessados em ter uma oportunidade para conhecer outra língua”, explicou.
O diretor acrescentou que a formação tem “tido muito sucesso”, porque muitos alunos “querem incluir essa língua na sua formação”.
“No Liceu São José de Cágua temos 800 alunos e na outra instituição que também dirigimos, o Colégio António José de Sucre, quase 500 alunos recebendo formação”, precisou.
Segundo Rafael Eduardo Yol Castillo quem aprende uma nova língua “será uma pessoa mais bem preparada” e com melhor projeção.
“O português abrirá muitos espaços no seu devir e modo de ser”, concluiu.