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“Fórum Macau não tem reduzida operacionalidade” diz secretário-geral adjunto

António Bilrero

São Tomé e Príncipe aderiu ao Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) em março de 2017. Pouco mais de três anos volvidos, o embaixador são-tomense Paulo Jorge Rodrigues Espírito Santo, ao abrigo do regime de rotatividade estabelecido entre os estados membros, foi recentemente escolhido pelos parceiros para o cargo de secretário-geral adjunto da instituição. Diz que ao Fórum não lhe falta operacionalidade, bem pelo contrário, mas  tem, isso sim fraca exposição pública.

– Sendo indicado pelos países de língua portuguesa (PLP) no Fórum Macau, o que é que estes lhe pediram? Quais são as prioridades da sua agenda?

Paulo Jorge Rodrigues Espírito Santo – Antes de mais, os PLP manifestam a sua gratidão à República Popular da China por ter tido em boa hora a ideia da criação do Fórum de Macau, enquanto plataforma de ligação de negócios entre a China e esses Estados, bem como agradecem todas as facilidades concedidas na materialização do Secretariado Permanente, nomeadamente no apoio aos delegados desses países.

No que toca a agenda pessoal, não tenho. A agenda decorre dos parametros soberanamente assumidos pelos Governos da China e dos PLP em sede da(s) Conferência(s) Ministeria(is) de onde emanam as linhas mestras de orientação a serem executadas pelo Secretariado do qual sou, com a colaboração de muitos outros, e todos contam, um operacional. Porei toda a minha singela capacidade e experiência ao serviço deste desiderato, obviamente buscando sempre as melhores práticas no sentido de melhor rentabilizar as acções.

Os PLP estão permanentemente disponíveis para carrearem para a instituição as suas apreciações, contributos e propostas sob os mais diferentes aspetos da vida do Fórum, indo de encontro ao princípio segundo o qual não há nada suficientemente bom que não possa ser melhorado.

Em linha com o que antecede, direi que estamos todos imbuídos da necessidade de envidarmos todos os nossos esforços com vista a que a cada dia haja mais Fórum de Macau, menos institucional , dando uma nova roupagem às actividades que normalmente organiza (encontros com autoridades e empresas das várias províncias chinesas; a participação em feiras; promoção de seminários, etc etc) , elevando a sua eficiência e tornando mais abrangente o seu alcance para que seja mais pertença dos beneficiários finais. A título de exemplo o Secretarido Permanente poderá ser ainda mais util, neste contexto, se passar a providenciar alguns serviços que objectivamente podem facilitar os negócios, como seja o apoio jurídico e linguístico.

Há e isto é por todos reconhecido, um deficit nas iniciativas empresariais, nomeadamente a nível das pequenas e m´dias empresas (PMEs) que constituem o grosso das empresas na maioria dos nossos países, responsavéis pela maior parte da empregabilidade no setor terciário e com quota elevada a nívél das exportações. Penso que neste sentido o Forum deve crescer em ambição, do ponto de vista da implementação de medidas e atividades que visem apoiar, de uma forma mais consistente as PMEs dos PLP, lançando novos serviços com o objectivo de promover a sustentabilidade das mesmas com ganhos mutúos.

– Uma das críticas mais comuns entre os parceiros fixa-se na reduzida operacionalidade do Fórum e no fraco apoio, que dizem ser real, às iniciativas empresariais sobretudo da parte de pequenas e médias empresas, no fundo o tecido empresarial mais comum na maioria dos países membros. Concorda? 

P.J.E.S. – O Fórum não tem uma reduzida operacionalidade, o que tem é uma débil visibilidade e vamos trabalhar para que essa situação seja melhorada, repondo justiça. Só para se ter uma ideia, o Fórum de há muito que extravasou o seu escopo funcional eivado na sua fundação (cooperação económica e empresarial) e passou a realizar acções nos mais diferentes domínios de cooperação, da saúde à formação passando pela cultura. Então não se pode falar em reduzida operacionalidade, antes pelo contrário há multi-operacionalidade!

– Há algum entendimento comum aos membros do Fórum para ultrapassar essas alegadas dificuldades e dar operacionalidade à instituição?

P.J.E.S. – Há melhorias a serem introduzidas. Muitas delas resultam de constatações de foro interno e outras estão inscritas no Relatório de Avaliação Externa realizado por ocasião do 15º aniversário do Fórum da autoria da prestigiada Academia Chinesa de Ciências Sociais e que contou com a colaboração na sua concepção de peritos de todos os PLP.

A título de exemplo, posso referir a necessidade de tirar um melhor partido de estruturas já existentes como é o caso da Federação de Empresários da China e dos PLP, que foi contituída no quadro da 5ª Conferência Ministerial e que em articulação com o Secretariado Permanente pode constituir um parceiro válido na organização de missões empresariais dos PLP à China e vice-versa, na organização de seminários ou webinars, na apresentação de empresas da China e dos PLP, etc.

– Até que ponto, o Fórum pode aproveitar o fim do ciclo pandémico, responsável por debilitar a economia global, em geral, e devastar as economias mais frágeis, e assumir-se como mais um instrumento para ajudar à recuperação dos países que o integram?

P.J.E.S. – O Fórum é um instrumento de cooperação complementar à cooperação bilateral que a China mantem com os PLP e Regional, conforme os casos (África – FOCAC), e que obviamente representam a fatia de leão do quadro de cooperaçao China-PLP. Nesse contexto, na pós-pandemia continuará subsidiariamente a aportar cooperação aos seus membros com o reforço que, desde logo o fim dos actuais constrangimentos impostos pela pandemia, passará a permitir.

Mas é preciso não alimentar ilusões: o grosso do esforço na recuperação económica e social dos nossos países caberá em primeira linha a título exógeno a cada um deles. 

– Pequim e São Tomé e Príncipe suspenderam relações diplomáticas em 1997. 19 anos depois, os dois países voltaram a trocar embaixadores. Responsáveis de ambos os países falam de uma forte ligação, nos mais variados domínios. A China tem sido o ator principal no apoio ao desenvolvimento de São Tomé, designadamente na construção e renovação de infraestruturas. A nomeação para embaixadora da China em São Tomé da ex-secretária-geral do Fórum de Macau Xu Yingzhen pode ajudar ainda mais no reforço da cooperação bilateral e, também, num eventual reforço do papel do Fórum junto do país?

P.J.E.S. – A nomeação da Xu Yingzhen como embaixadora da China em São Tomé e Princípie reveste-se de particular importância para o nosso país. São Tomé e Princípe sente-se privilegiado com essa indigitação face ao curriculum e trajetória profissional da diplomata, que os anos volvidos à frente do Fórum de Macau (onde deixou inúmeras saudades) ajudaram a consolidar, nomedamente no que diz respeito ao conhecimento que tem da realidade dos países de língua portuguesa e em particular de São Tomé. É uma honra a deferência que a China teve para com o nosso país, que não tenho dúvidas de que São Tomé e Príncipe saberá corresponder com o robustecimento das relações politicas e de cooperação com vantagens.

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