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Supremacia da ‘nuvem’ dos EUA preocupa Europa

A Europa está apoiada numa riqueza de dados.

Mas, em vez de explorá-los, os europeus podem permitir que as gigantes da tecnologia americanas obtenham o controlo de todos as operações, dizem alguns especialistas, apontando para uma grande quantidade de empresas europeias anunciando acordos com empresas de tecnologia dos EUA para serviços em nuvem.

Renault, Orange, Deutsche Bank e Lufthansa recentemente adotaram o Google Cloud. A Volkswagen se inscreveu na Amazon Web Services. O ministério da saúde francês escolheu a Microsoft para hospedar os seus dados.

A nuvem é um termo utilizado para se oferecer serviços de armazenamento e processamento de dados externamente, para que os clientes não precisem de investir tanto em equipamentos caros.

Essa tendência despertou preocupação principalmente na Alemanha, que possui grande riqueza de dados graças ao seu poderoso setor industrial.

A UE está a “perder a sua influência na esfera digital enquanto assume um papel central na economia do continente”, alertou um relatório recente de um grupo de especialistas e líderes de comunicação social sob a liderança do ex-chefe da empresa alemã de software SAP, Henning Kagermann.

“A maioria dos dados europeus é armazenada fora da Europa ou, se armazenada na Europa, está em servidores que pertencem a empresas não europeias”, observou.

“Conveniência ou lotação esgotada” –

Um alto funcionário francês fez uma avaliação ainda mais contundente numa reunião com profissionais de tecnologia informática.

“Temos um enorme problema de segurança e soberania com as nuvens”, disse o funcionário na reunião, da qual a AFP participou sob a condição de respeitar o anonimato dos participantes.

“Em muitos casos, é conveniente ou esgotado” por empresas e instituições européias “porque é mais simples” envolver-se com gigantes da tecnologia dos EUA do que encontrar soluções na Europa, disse o funcionário.

“No entanto, temos empresas muito boas que oferecem serviços de nuvem e dados”, acrescentou.

Uma das causas de preocupação para os europeus vem do Cloud Act, uma lei adotada em 2018 que dá às agências de inteligência dos EUA acesso, em certos casos, a dados hospedados por empresas americanas, não importa onde o servidor possa estar fisicamente localizado.

“A minha empresa é americana e sei muito bem quais são as implicações da legislação”, disse um executivo franco-americano.

“E dado o que está a acontecer nos debates políticos dos EUA, a situação não vai melhorar.”

Além da integridade dos dados, é a capacidade de analisar e explorar essas informações que preocupam muitos especialistas e formuladores de políticas europeus.

Poder de processamento

Se na Europa “somos capazes de gerar dados e precisamos de outros para explorá-los, vamos acabar na mesma situação de países com recursos minerais que dependem de outros para processá-los e acabar com benefícios económicos escassos”, defendeu.

Os franceses e alemães divulgaram, no mês de junho, o projeto GAIA-X, que visa desenvolver uma oferta europeia de nuvem competitiva.

Em vez de incentivar o desenvolvimento de um campeão europeu – nos moldes da Airbus na resposta à Boeing – que ofereceria toda a gama de serviços, o projeto adotou uma abordagem diferente.

O objetivo é estabelecer padrões para que diferentes empresas possam oferecer serviços de armazenamento, processamento, segurança e inteligência artificial sem problemas. Funcionaria como uma espécie de mercado onde cada cliente poderia encontrar os serviços de que precisava sem precisar de sair da jurisdição europeia.

Espera-se que o modelo descentralizado do GAIA-X possa se encaixar melhor nos problemas levantados pelo tratamento de dados de dispositivos conectados.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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