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Comboio expresso com destino incerto

A letra da música “Tsunami”, dos Soler, diz: “apanha o comboio expresso com destino incerto, à procura de um novo cenário”. Este novo coronavírus apareceu como um tsunami e, antes de o mundo se aperceber, já todos estavam a ser levados pela onda. De repente, o mundo depara-se com o número crescente de infetados. Há registo de casos de discriminação contra chineses no estrangeiro. Em paralelo,
em alguns países a escassez de máscaras de proteção, entre outras limitações levou estudantes chineses no estrangeiro a terem de fazer uma escolha. Com a situação a agravar-se, apanharam um comboio incerto, podendo estar a fugir de uma zona de perigo ou a entrar na boca do lobo. O vírus é o foco de atenção de todo o mundo e a epidemia continua a alastrar-se. A China parece ter conseguido conter e reverter o número de infetados e mortes, enquanto na Europa a situação está a agravar-se cada vez mais. Uma aparente apatia dos governos, juntamente com a falta de consciencialização entre parte de diferentes populações, levou a que o número de casos confirmados no continente, com uma dimensão menor do que a China, chegasse aos 91 535, em comparação com os 80 984 em território chinês. Em Portugal, em apenas meio mês, o número de infetados chegou aos 642, com um crescimento exponencial que duplica o número de casos a cada 1,8 dias. Com a suspensão de aulas no ensino superior, e o apelo da Direção dos Serviços do Ensino Superior de Macau, um elevado número de alunos do território a estudar no estrangeiro compraram bilhetes de última hora e a embarcar numa “Grande Fuga”, esperando chegar a Macau antes das fronteiras serem fechadas. No entanto, alguns dos que estão em Portugal escolheram ficar. Um estudante de tradução na Universidade Católica de Lisboa partilha com o PLATAFORMA as razões dessa escolha. Segundo diz, a maioria não arriscou viajar por não querer correr mais riscos de infeção ao ter de permanecer por mais de 10 horas encerrados num avião, num voo de longo curso, rodeados de pessoas. A preocupação, adianta, não resulta de uma atitude egoísta, mas sim por não haver a possibilidade de saberem se estão infetados e poderem estar a trazer o vírus de volta para Macau, transmitindo-o às famílias e amigos. Os estudantes pensavam que após chegarem a Macau, poderiam voltar para casa em paz. No entanto foram recebidos com a recente diretiva do Governo a informar que todas as pessoas provenientes do estrangeiro têm de ficar em quarentena durante um período de 14 dias. Uma estudante de Direito em Portugal esclarece que após chegar ao aeroporto de Hong Kong às 10 da noite teve de esperar até às 4 da manhã, já em Macau, por exames médicos. Diz que não sentiu qualquer desconforto, mas devido ao cansaço, à diferença horária, e por não ter comido durante a viagem com medo de tirar a máscara, acabou por acusar uma febre ligeira. Foi por isso enviada para um quarto de isolamento durante 48 horas, onde esperou pelos resultados dos testes. Só depois de aqueles terem revelado negativo pode voltar, finalmente para casa.

A ESCOLHA EM SAIR: PERIGO OU CHANCE?

Após 40 dias consecutivos sem novos casos, Macau foi promovido pelos órgãos de comunicação portugueses como um modelo a seguir. Todavia, no passado domingo, 15 de março, o surgimento do 11º caso confirmado abalou a tranquilidade na cidade. Tratou-se de um caso importado, tendo a pessoa infetada regressado ao território, vinda da cidade do Porto, em Portugal, num voo para Hong Kong realizado dois dias antes, a 13. Só que, pelo menos 25 estudantes de Macau também viajaram nesse voo, disse ao PLATAFORMA um dos alunos.
Dois dias antes da “má-nova” ter sido noticiada, os alunos tinham declarado à entrada em Macau (ao Centro de Controlo e Prevenção de Doenças) de onde tinham viajado e ficado em quarentena domiciliária. Porém, as autoridades de saúde acabaram por transferir este grupo de alto risco para um hotel, para um isolamento de 14 dias com acompanhamento médico. Portugal declarou um estado de emergência a partir da meia-noite de dia 19 de março, cancelando temporariamente todos os voos de e para fora da União Europeia. Os alunos que não conseguiram regressar irão ficar em Portugal, e aqueles que conseguiram chegar a Macau não poderão voltar à Europa tão cedo. Quando começarão as aulas? Quando será levantada esta proibição? Quando terminará a tempestade que é esta pandemia? Com este ritmo de crescimento, ninguém pode responder com certezas a estas perguntas. Embora o destino deste comboio seja incerto, esperemos no fim poder encontrar um novo cenário.

Dinis Chan 20.03.2020

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