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Economia contaminada

O discurso de Xi Jinping, na semana passada, revela o estado da nação, tolhida por uma crise sem precedentes, de consequências imprevisíveis. O primado da recuperação económica, incontornável, coloca o regime perante uma equação muito difícil. Conflitos ideológicos à parte, é inegável que a abertura do Partido Comunista à globalização capitalista permitiu um salto gigantesco das elites económicas, mas também do nível de vida da população, que ganhou mundo, mobilidade, ego e horizontes. Os instrumentos de poder estão aparentemente seguros, mas a tensão interna é evidente e a retração no investimento externo incontornável. Vai doer; e é da psicologia política: um povo angustiado perde respeito e crença nos seus líderes. Seja isso justo ou não.

O Covid-19 fere o capitalismo global como nenhuma guerra comercial e tecnológica, manifestações ou derivas ideológicas seriam capazes. As bolsas caiem a pique, expondo a fragilidade de sistema preso por arames, no rescaldo da crise de 2008, tratada com paliativos – não com a cirurgia que se impunha. A margem é curta, e cai com estrondo a própria obsessão de que pessoas e nações têm sempre o crescimento como meta. Os próximos meses fixarão o patamar em que a queda se sustenta, bem como a mudança de mentalidade que imporá. Por vezes, as crises são boas, no sentido em que acordam as pessoas para a realidade. Mas primeiro dói, sangra… e assusta. Chama-se crise; não tem outro nome. A oportunidade vem a seguir, e nunca é para todos.

As consequências em Macau são óbvias. Há reservas financeiras, mas, muito para além dos casinos, a injeção na economia real não é simples nem tem fórmulas seguras. A cultura do subsídio é claramente insuficiente e a expectativa coloca no topo da cadeia o novo Secretário da Economia e Finanças. Ku Mei Leng é o nome do momento. É essencial para todos que emerja desta crise e descubra onde está a oportunidade.

 Paulo Rego 28.02.2020

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