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À espera que a tempestade passe

Académico português foi apanhado de surpresa pelo vendaval de protestos que assolaram Hong Kong e com incidência a universidade onde lecciona. Fernando Dias Simões anseia por um fim do clima de alta tensão e violência para que a vida na cidade e na Chinese University of Hong Kong regresse à normalidade. 

Quando em janeiro trocou a Universidade de Macau pela Chinese University of Hong Kong (CUHK), Fernando Dias Simões estava longe de antecipar o que sucederia nos cinco meses seguintes cidade vizinha, muito menos na situação de grande tensão e confrontos violentos entre manifestantes radicais e polícia que se viveu na CUHK, na semana passada. 

O professor de Direito, oriundo do distrito de Coimbra em Portugal, afirma que “até maio tudo parecia correr com toda a normalidade”. Após as primeiras manifestações de larga escala contra a proposta de lei de extradição, em que participaram várias centenas de milhares de pessoas, Simões estava convencido que “se retirariam as devidas conclusões”, não antecipando portanto a guinada violenta dos protestos. 

Determinado em ficar

Foi numa dia, no início de julho, que se apercebeu que algo estava a mudar. “Estava a sair do terminal marítimo em Sheung Wan e deparei-me com os protestos, quando os manifestantes atacaram um edifício do governo na zona. Foi nessa altura que percebi que estávamos a entrar numa fase nova”.

O professor e investigador especialista em arbitragem comercial internacional e direito comparado dá aulas sobretudo numa dependência da CUHK localizada na ilha de Hong Kong e não no campus principal em Sha Tin, nos Novos Territórios, pelo que não viveu in loco os acontecimentos que o deixaram boquiaberto. 

Haveria sinais entre os seus estudantes que a situação estava prestes a explodir? Não propriamente, julgando pela experiência em primeira mão de Simões, que, maioritariamente, dá aulas a alunos de mestrado oriundos de vários parte do mundo. “Na sala de aula o debate sobre a situação política não é um assunto que seja abordado”, mas claro que o tema acaba por pairar. Um dos seus estudantes, oriundo da China continental, confessou estará  considerar regressar a casa por medo de represálias. Várias dezenas de alunos da CUHK, com origem interior da China foram evacuados ou têm estado a abandonar Hong Kong, à medida que as tensões e o clima de hostilidade se agudizam.   

As aulas, entretanto, foram canceladas até ao final do semestre. Até janeiro serão gravadas e colocadas na internet, na esperança que a situação acalme, sabendo-se que não há solução à vista para a crise. Todavia, uma coisa é clara: “Não é num clima de confronto que se encontra uma solução”. Olhando à volta  sente as pessoas “tristes, tristes, cansadas e apreensivas”. Mas não passa pela cabeça a Fernando Dias Simões abandonar Hong Kong, após oito anos em Macau, onde mantém uma base familiar.  “Não quero colocar essa hipótese”, afirma. 

José Carlos Matias 22.11.2019

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