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Transparência militar e estratégias

Já passaram mais de 20 dias desde 1 de outubro, o dia do aniversário nacional da China, e existem ainda várias organizações em Macau a celebrar o acontecimento. Há mais de três mil associações na região. Se todas celebrassem o aniversário, haveria 50 celebrações por dia, ao longo de dois meses. Este ano, o Dia Nacional foi celebrado em ambiente mais festivo, não só por este ser o 70º aniversário, como também por causa do desfile militar, durante o qual foram apresentadas uma série de armas sofisticadas. Alguns órgãos de comunicação insinuaram que a China pretendia fazer uma demonstração de força, mas na minha opinião foi uma forma de ser mais transparente depois de acusações de falta de transparência em relação à defesa nacional. É também verdade que esta demostração militar pôs pressão sobre alguns países, com os EUA, que acabaram a testar o míssil LGM-30 Minuteman no dia 2 de outubro para reforçar presença, e a Rússia, que no mesmo dia, testou o míssil RT-2UTTH Topol M, atingindo o alvo em Kamtchatka. A das armas sofisticadas por parte da China acabou por tornar os jogos mentais entre os três poderes mundiais mais visíveis. A revelação destas armas durante o 70º aniversário tem alguns fins estratégicos. Equilibrou a relação entre a China e os EUA, abandonando uma era em que o lado americano ameaçava a China a nível militar. Em tempos a vantagem americana era enorme, mas ao longo dos últimos anos muito tem mudado. Os EUA continuam a ser bons na pesquisa e desenvolvimento na área científico-tecnológica, mas a China é boa na sua aplicação, e embora tradicionalmente tenha seguido os passos de outros nesta área, ultimamente tem feito alguns grandes avanços, especialmente no que diz respeito à tecnologia 5G. Não só a China está cada vez mais perto de alcançar o nível dos EUA, como está confiante de que o vai conseguir. A nível económico, a guerra comercial entre os dois países provou que a economia americana é ligeiramente mais forte do que a chinesa, mas já não é tão forte como antes. Em termos de produção e poder comercial a China já ultrapassou os EUA, fazendo com que os americanos não consigam afetar o país através de uma guerra comercial. A nível militar, os EUA sempre foram superiores à China, especialmente em armas convencionais, porém recentemente a China também se tem desenvolvido nesta área. Já não existe a diferença que em tempos existiu entre os dois. A nível estratégico, a China costumava enfrentar os EUA com pouca capacidade de contra-ataque, mas agora possui armas como o DF-17, a que os EUA não têm acesso. No que diz respeito à área financeira, a China tem conseguido resistir a guerras financeiras e cambiais com os EUA. Em 2015, a queda do mercado da bolsa chinesa não teve grande impacto, e os EUA não teriam também iniciado uma guerra comercial com a China se o país não tivesse oferecido resistência a nível financeiro. Atualmente, para além de possuir influência a nível internacional, o sistema financeiro chinês está cada vez mais aperfeiçoado. Nas quatro faces da hegemonia global norte-americana, em três os dois países estão cada vez mais próximos, e a nível financeiro a China está também a avançar rapidamente. Esta evolução deixa os EUA nervosos, e, em parte, foi esse o objetivo estratégico do desfile militar.

David Chan 25.10.2019

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