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Bolsonaro em Pequim: do protocolo aos interesses

Com o pró-americano Bolsonaro a relação com a  China esfriou. Todavia a vontade de atrair investimento chinês para o Brasil deverá falar mais alto na visita da próxima semana a Pequim.

No encontro com Jair Bolsonaro, Xi Jinping vai encontrar um presidente bastante diferente de Dilma Rousseff ou mesmo de Michel Temer com quem esteve reunido anteriormente. No entanto, não obstante a linha de grande aproximação a Washington e afastamento de Pequim, não muda um lado essencial da equação: os fortes laços económicos e comerciais. 

Especialistas e observadores brasileiros ouvidos pelo PLATAFORMA estão divididos face às expectativas relativamente à visita oficial de Bolsonaro à capita chinesa, marcada para a próxima semana, de 24 a 26 de outubro. Fernanda Ramone, consultora brasileira e especialista em assuntos chineses que residiu em Pequim durante nove anos, encara a visita de Bolsonaro sobretudo como “de cariz protocolar”, tendo em conta a linha pró-EUA que tem seguido. “Bolsonaro tem-se posicionado de forma bem diferente de Lula da Silva ou Dilma Roussef que abraçaram a estratégia de cooperação Sul-Sul, invertendo uma política externa que nas décadas anteriores tinha sio pautada por um euro-centrismo e alinhamento com Washington”. No entanto, Ramone sublinha que em Brasília reside um vice-presidente, Hamilton Mourão, com mais sensibilidade para a importância da manutenção de boas relações com a China. 

Já para o presidente fundador da Confederação Nacional dos Serviços (CNS) do Brasil, Luigi Nese, a presença de Jair Bolsonaro em Pequim  é muito importante e vai trazer boas notícias”, que se vão refletir “em novos investimentos chineses no Brasil”. 

José Nelson Maia, coordenador da Secretaria dos Assuntos Económicos Internacionais do Ministério da Economia do Brasil, encontra mais continuidade que mudança na política externa de Bolsonaro face à China, pelo menos no essencial. No o atual Governo, a abordagem aos chineses “também se guia pela busca de ampliação da relação econômica bilateral em benefício dos dois países”, seguindo os princípios do “pragmatismo, respeito mútuo e não ingerência em assuntos internos que caracterizam as relações Brasil-China desde o seu estabelecimento em 1974”.

À margem da guerra comercial 

O encontro de Bolsonaro com Xi em Pequim surge num contexto de tensão sino-americana em virtude da chamada “guerra comercial” e da crise em Hong Kong. 

Maia olha com preocupação para “o prolongamento da disputa comercial entre os EUA e a China que já afeta negativamente o comércio mundial e os mercados financeiros globalizados”. O economista e doutorado em relações internacionais  sublinha ao PLATAFORMA que “apesar de alguns benefícios causados por desvio de importações chinesas de mercadorias a favor do Brasil, a resolução o mais rápido possível desse conflito comercial entre as duas maiores economias seria o mais desejável”.

Luigi Nese espera que a disputa comercial sino-americana e aconselha o Brasil a não tomar partido. “Esta disputa é uma divisão de mercado mundial, sendo um acerto que está a ser elaborado. Não devemos entrar nessa discussão”, sustenta. 

José Carlos Matias 18.10.2019

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