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China representa menos risco para comércio

O Banco Mundial vê atenuado o impacto da desaceleração do país nas trocas mundiais. Mas a incerteza política cresceu, tornando 2016 o ano de pior desempenho desde a crise de 2008.

A transição da China para um novo modelo económico, menos dependente das exportações e investimento, representa hoje para o comércio mundial um factor menos prejudicial do que o clima de incerteza política trazidos por eventos como as eleições nos Estados Unidos ou a saída do Reino Unido do espaço da União Europeia.  A perspectiva é do Banco Mundial (BM), que estima que 2016 seja o ano de pior desempenho comercial desde a crise financeira de 2008.

Num relatório divulgado na última terça-feira, “A Incerteza Política Pesa sobre o Comércio Mundial”, os economistas da instituição alertam para uma provável deterioração das condições de comércio, estimando que o aumento da troca mundial de bens e serviços se situe em 2016 num intervalo entre 1,9 por cento e 2,5 por cento. O volume das mercadorias transaccionadas não terá subido além dos 1,1 por cento, com base em indicadores disponíveis para os 11 primeiros meses do ano passado.

“Um aumento da incerteza política em 2016 poderá ter contribuído para a inércia comercial”, defende o Banco Mundial no estudo conduzido pelos economistas Cristina Constantinescu, Aaditya Matoo e Michele Ruta. Para estes, a incerteza política – e, em particular, a incerteza sobre o futuro das relações comerciais internacionais – poderá ter uma contribuição negativa de até 75 por cento no abrandamento registado no volume de trocas do ano passado, e que o Fundo Monetário Internacional estima que se tenha fixado numa perda de 0,8 pontos percentuais.

Os modelos de cálculo do Banco Mundial partem de uma análise à situação de comércio em 18 países durante um período de três décadas, chegando à conclusão de que um aumento do índice de incerteza política da ordem de 1 por cento corresponderá a um contributo negativo de 0,02 pontos percentuais para a evolução do comércio. Nos meses de Outubro e Novembro de 2016, que assistiram à eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos, o índice de incerteza política conheceu uma escalada de 30 por cento – correspondendo a um impacto negativo de 0,6 pontos percentuais no volume de comércio.

A situação da economia chinesa, por outro lado, determina hoje menos riscos para a evolução do comércio, segundo o estudo. “Dois factores que se influenciam mutuamente e que conduziram a menor crescimento em 2015, preços mais baixos de matérias-primas e a transição da China para um novo modelo de crescimento, ainda que se continuem a sentir, foram atenuados em 2016”, defendem os economistas do BM.

A perspetiva de que a liberalização dos acordos comerciais, contrariamente à de uma retração preconizada pela nova Administração Trump, naturalmente influi no desempenho das trocas é também sublinhada com dados sobre os efeitos da participação dos países na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em particular, a adesão da China e de outros países no período posterior a 1995, permitiram um aumento folgado na média de crescimento mundial das trocas.

De acordo com o estudo, essa média situou-se em 6,5 por cento de expansão anual do comércio. Sem novas adesões à OMC – em particular a da China em 2001 – a média estaria um ponto percentual abaixo, nos cálculos dos economistas. Também sem novos acordos regionais de comércio e processos com a entrada de novos membros do leste europeu na União Europeia, o crescimento seria inferior em dois pontos percentuais.

“Os estudos recentes indicam que os acordos de comércio contribuíram para os crescimento das trocas e que o crescimento recente teria sido mais baixo sem estes”, referem os autores. “Os indicadores apresentados sugerem que mesmo a ameaça de desfazer tais acordos pode prejudicar o crescimento do comércio ao adicionar incerteza política”, acrescentam.

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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