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Centro lusófono cheio de dúvidas

novo Centro de Exposição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa já está aberto, mas há dúvidas sobre as vantagens que trará.

São dois andares de 390 metros quadrados e 700 produtos oriundos de Portugal, Brasil Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Timor-Leste, em plena Praça do Tap Seac. Segundo o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), o objetivo é fomentar as oportunidades de negócios das empresas do universo lusófono. Mas há quem questione a necessidade de existência de um espaço físico para servir de montra de produtos alimentares.

Quando se chega ao centro, é-se imediatamente recebido por um funcionário que pergunta a origem do visitante, para efeitos estatísticos. Junto a cada um dos cerca de 700 produtos, repartidos por dois andares, há uma legenda, com a identificação da origem, bem como do tipo de negócio que se espera estabelecer. “Se tiver o código de barras azul, significa que se procuram parceiros”, explica uma funcionária ao PLATAFORMA. “Se tiver o código de barras preto, significa que há ligações online de compras de mercadoria.” Num cartaz encontra-se a informação a que se pode ter acesso, se se inserir o código de barras relativo a cada produto no Portal para a Cooperação na Área Económica, Comercial e de Recursos Humanos entre a China e os Países de Língua Portuguesa, nomeadamente a origem, o agente de distribuição e o fabricante. No segundo andar, encontram-se sobretudo vinhos, podendo provar-se alguns tipos de café.

A inauguração do Centro de Exposição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa segue o lançamento do Portal para a Cooperação na Área Económica, Comercial e de Recursos Humanos entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Composto por uma base de dados de quadros e serviços profissionais bilingues — chinês-português —, base de dados dos produtos alimentares dos países de língua portuguesa, informação sobre convenções e exposições, informação económica e comercial e legislação dos vários países, o portal é organizado pelo Ministério do Comércio da República Popular da China e pela secretaria para a Economia e Finanças do Governo da RAEM.

No Portal, encontra-se a informação de cada um dos produtos alimentares lusófonos, que são identificados como tendo “potencial” para a China Continental — e que incluem várias categorias, nomeadamente vinho, mariscos, carne refrigerada e congelada, legumes, fruta, produtos agrícolas, óleo, massas, aperitivos, lacticínios ou frutos secos. A maioria dos produtos vem de Portugal, seguindo-se Brasil, Angola e depois Cabo Verde. Quanto a produtos dos restantes países lusófonos, ainda se veem poucos.

O IPIM afirmou que o centro “visa desempenhar a função de plataforma de serviços para a cooperação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, num comunicado enviado à imprensa.

Em nota enviada ao PLATAFORMA, o IPIM explicou que aceita todo o tipo de produtos oriundos dos sete países lusófonos. “Os fornecedores podem ser os produtores ou os distribuidores”, refere, acrescentando: “Os produtos embalados terão prioridade em ser expostos no nosso centro, de forma a manter a imagem e os padrões de qualidade, além de que acreditamos que uma melhor embalagem facilmente atrai o interesse do comprador.” Os restantes produtos, ainda que não embalados, poderão estar sempre disponíveis através do Portal.

Quanto aos 700 produtos atualmente em exposição, muitos “podem ser comprados online, usando o código QR junto a cada um dos items, enquanto outros estão à procura de parceiros de negócios para levá-los a outros mercados, tendo por isso associados a eles outro código QR. Ambos os códigos levam o visitante ao Portal” onde podem encontrar toda a informação.

Ao ter os produtos disponíveis no Centro, o IPIM espera ajudar a estabelecer “uma comunicação direta entre os fornecedores dos produtos dos países lusófonos e os compradores do mundo inteiro”, favorecendo as oportunidades de negócio. “Um canto de negócios está no segundo andar do Centro para que os empresários possam ter reuniões”, diz ainda a nota. Serviços de tradução estão ainda disponíveis, recorrendo ao Portal.

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As dúvidas
Contactada pelo Plataforma, uma fonte que prefere não ser identificada afirma ter “dúvidas” de que uma mostra de produtos alimentares possa facilitar a dinâmica de compra e venda de produtos de um lado e de outro. E questiona se, ao invés, não será apenas um “desperdício de recursos” — não questionando a utilidade da iniciativa, apenas põe em causa se compensa, fazendo uma análise custo/benefício. “Claro que ajuda sempre… mas não sei se o custo disso não é muito maior do que o benefício do que vão tirar dali.”

Tratando-se de um expositor de produtos alimentares, afirma ainda nunca ter prestado muita atenção à iniciativa, por não achar “muito importante” para fomentar a ideia de plataforma.

E declara que, normalmente, os empresários lusófonos interessados na venda de um produto, aproximam-se de um local onde todos se possam encontrar e discutir. “Se calhar um espaço do género seria mais importante, mais fácil e mais pragmático do que ter os produtos fisicamente ali”, diz, acrescentando: “A intermediação faz-se quando as pessoas têm interesse e vão à procura de um parceiro.”

Além disso, é importante perceber que produtos ali estão expostos. “Por que estão uns [produtos] e não outros? Como é que se vai gerir essa plataforma?”

O presidente da Associação de Amizade Macau-Cabo Verde, Daniel Pinto, diz que, se não tiver outro benefício, pelo menos já se deu utilidade a um espaço que estava já há muito inactivo: a casa de vidro na Praça do Tap Seac. Em segundo lugar, refere que “tudo o que diga respeito à lusofonia” pode vir a proporcionar mais união entre as comunidades lusófonas. E admite uma potencial mais-valia comercial de uma iniciativa do género, uma vez que através do “conhecimento mútuo” das comunidades, poderão sempre surgir mais negócios e parcerias. “Por ser o que é, e num sítio emblemático, imagino que haja mais trocas, mais contactos — não estou a ver nenhuma coisa negativa nisso”, concluir.

Por seu turno, a presidente da Associação dos Amigos de Moçambique, Helena Brandão, admite ainda não ter visto o centro, mas lança algumas perguntas. “Parece-me que o centro tem mais interesse para empresários ou para quem se queira dedicar à importação. Mas no que toca a alguns produtos que lá estão [sobretudo, os portugueses], as pessoas normais encontram no supermercado e talvez seja mais fácil ver no supermercado do que lá ir, se houver interesse em importar os produtos”, diz.

Recorde-se que, na sequência da IV Conferência Ministerial do Fórum Macau, em 2013, o então secretário para a Economia e Finanças da RAEM, Francis Tam, referiu que Macau teria três novos centros estratégicos até 2016 para impulsionar as relações entre a China e os países lusófonos: um centro de convenções e exposições, outro na área da distribuição de produtos alimentares e um centro de arbitragem de eventuais conflitos comerciais entre empresas.

Luciana Leitão

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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