Apaixonado por arte e mobiliário antigo, o empresário português José Guedes desenvolve há dois anos e meio um projeto turístico de características únicas, em duas pequenas vilas piscatórias situadas na costa leste da China.
“Juntámos o melhor de dois mundos: a riqueza cultural da China, sobretudo das suas peças de madeira, e a modernidade e o conforto da vida europeia”, diz sobre os quatro hotéis que dirige com a mulher chinesa, na província de Jiangsu.
Da “vida europeia” fazem parte, por exemplo, o café, vinho e sumos importados de Portugal. Natural da Figueira da Foz, José Guedes, 63 anos, chegou à China em 2003 para dirigir uma fábrica de componentes automóveis do grupo espanhol CIE Automotive, em Xangai, a capital económica do país.
Há três anos, reformou-se: “O problema foi que ao fim de quatro meses a descansar, já estava cansado de tanto descanso”.
Virou-se então para a hotelaria. “O ramo do turismo está no ADN português”, explica. “É qualquer coisa com que se calhar nascemos”. Já a paixão pela mobília chinesa tem outra origem: “No dia em que cheguei, tive uma reunião com um representante do governo basco que me marcou; ele tinha uma secretária lindíssima. E eu disse: ‘também quero comprar uma destas’”.
Desde então, e em 12 anos a viajar pela China, adquiriu várias dezenas de móveis antigos, a maioria fabricados durante a Dinastia Qing (1644 e 1911) e o período Min Guo (1912- 1949).
Um dos hotéis, o Tingshang Guyun, ocupa um edifício residencial com 300 anos. Todos os móveis, incluindo as janelas e as portas, assim como as peças decorativas, são antiguidades e velharias chinesas.
“Não existe uma racionalidade económica para este investimento”, admite José. “Não se justifica comprar peças tão caras para pôr num hotel”.
Três dos espaços que dirige estão localizados em Jinxi, uma vila milenar, rodeada por cinco lagos e cortada por múltiplos canais, onde à noite se dilui o reflexo das lanternas vermelhas que iluminam as margens.
“É o escape ideal para quem precisa de descanso”, nota um turista chinês, acabado de chegar de Xangai, a megacidade na foz do rio Yangtse, a menos de uma hora de carro. Além da bicicleta, o único meio de transporte utilizado em Jinxi são pequenos barcos a remo. “Vive-se muito com a água”, realça José.
O outro hotel fica em Tongli, um povoado vizinho, e igualmente distante do cosmopolitismo das grandes cidades chinesas. Em ambos os sítios, José aprendeu a ser o único estrangeiro residente. “Não me sinto descriminado”, diz.
Pelo contrário: “A China é uma terra de oportunidades”. O essencial é “ter capacidade de adaptação”.
“A China não é e nunca será uma realidade similar à europeia ou à portuguesa”, nota. A entrevista decorreu num café/galeria propriedade do casal Guedes e decorado com dezenas de quadros de prestigiados pintores chineses. Junto à entrada, cartões-postais de paisagens portuguesas foram deixados para quem quiser levar.
Em 2014, 113.200 chineses visitaram Portugal – o dobro de há dois anos – e gastaram 54 milhões de euros, quase 20 milhões a mais do que em 2013.
“Ainda é algo incipiente”, nota José. E sugere: “Precisamos de gente com experiência na China, que defina produtos para os chineses em Portugal”.
Por enquanto, o futuro passa por Jinxi: “Eu aqui vivo otimismo!”. Na sua casa, com a mulher, fala-se inglês, mas à hora do jantar os sabores foram outros: sopa de legumes, arroz de pato e um vinho tinto português aproximaram por momentos José das origens.
“Estou disponível para ajudar qualquer iniciativa de Portugal”, garante. “Se quiserem podem contar comigo”. “Já estou é velho para muitas coisas”, conclui.
27 de Novembro 2015