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IMPRENSA EM MOÇAMBIQUE TEM IMAGEM NEGATIVA DA CHINA

Os jornais adotam um tom maioritariamente neutro ou negativo sobre a potência asiática, cada vez mais presente no seu país.

Uma pesquisa efectuada por um grupo de investigadores, apresentada no final do ano passado em Pequim, concluiu que os jornais moçambicanos escrevem mais artigos negativos do que positivos sobre a China, embora o estudo indique que, na sua maioria, os periódicos adotam um tom neutro sobre a presença chinesa no país.
A presença chinesa em África está cada vez mais nítida, com o Governo de Pequim a intensificar as relações diplomáticas com os países africanos. Ao nível do comércio, para o caso da lusofonia, que inclui seis países africanos, as relações comerciais entre a potência asiática e os falantes da língua portuguesa atingiram, só no primeiro trimestre do ano passado, 19. 68 mil milhões de dólares, segundo dados diplomáticos chineses.
Através de vários investimentos, públicos e privados, a China assume-se como um parceiro para o desenvolvimento de África, demostrando interesse em estreitar relações mais duradoras com os países africanos, na educação, na agricultura, na habitação, nas tecnologias e na indústria extrativa.
Para o caso específico de Moçambique, segundo os dados diplomáticos, as relações comerciais com a China atingiram o valor total de 275 milhões de dólares nos primeiros três meses do ano passado, dos quais 178.9 milhões relativos a produtos exportados da China e os restantes 96.5 milhões de dólares das exportações de Moçambique, num aumento de 16.43%.
Em 13 anos, entre os dois Estados, as relações económicas cresceram de 10 mil milhões de dólares para mais de 200 mil milhões de dólares.
Este e outros motivos levaram o pesquisador moçambicano Sérgio Chichava a efetuar um estudo, em conjunto com dois outros estudiosos de uma universidade da Noruega, Aslak Orre e Lara Côrtes, para analisar como os media moçambicanos reportam a presença da potência asiática em Moçambique.
Através de um aplicativo para análises quantitativas, os pesquisadores analisaram 242 artigos de três jornais moçambicanos, nomeadamente o Domingo, o O País e o A Verdade, todos semanários, e constataram que, na sua maioria, os jornais moçambicanos apresentam um tom neutro sobre a presença da China em Moçambique, embora existam mais artigos negativos do que positivos nos periódicos.
“O nosso estudo revelou que 37% dos artigos sobre a China têm um tom neutro, 33%possuem um tom negativo e 30% apenas tem um tom positivo”, disse Sérgio Chichava, em declarações ao Plataforma Macau em Maputo.
O grupo, de acordo com o pesquisador, enfrentou vários obstáculos no âmbito da realização do estudo, efetuado entre novembro de 2012 a junho de 2014.
“Tivemos várias limitações durante a pesquisa. Por exemplo, o que nos levou a escolher estes jornais foi o facto de que possuíam páginas atualizadas na internet, diferente dos outros”, declarou o pesquisador, admitindo que o estudo poderia ter sido mais amplo.
 
IMPRENSA INDEPENDENTE MAIS CRÍTICA

Segundo Sérgio Chichava, a maior parte dos artigos que possuem um tom negativo pertencem ao Jornal A Verdade, um semanário crítico que despareceu das bancas nos últimos tempos. Por sua vez, indica o estudo, o Domingo, órgão pro-governamental, apresentou uma única notícia negativa e O País, diário independente, apresentou um certo equilíbrio.
Devido à forte presença da potência asiática no território moçambicano, segundo explica Sérgio Chichava, a maior parte dos artigos sobre a China que aparecem nos jornais moçambicanos estão relacionados com as áreas económica ou das relações internacionais. Do universo analisado, 67 % das notícias relacionadas com os recursos naturais e faunísticos eram negativas e, a maior parte destes, foram veiculados por órgãos de informação independentes, no caso, A Verdade e O País.   
“ A questão dos recursos é pertinente. Constatamos que muitos pensam que os chineses apenas querem dilapidar os recursos do país. Também existe o problema da caça furtiva, que, por muitas vezes, é aliada aos chineses”, adiantou Sérgio Chichava, lembrando que, segundo os órgãos de informação, o tráfico ilegal de animais acontece com a complacência das autoridades locais.
 
TEMAS ECONÓMICOS TÊM TOM MAIS POSITIVO

Na área económica, especificamente, de acordo com Chichava, o estudo constatou que, ao nível do tom, os artigos são maioritariamente positivos do que negativos, esclarecendo que isso deve-se, de certa forma, a forte e promissora posição económica da China no panorama mundial.   
“A China está muita agressiva no mercado económica moçambicana e não só. Devido a este aspeto, a maior parte dos artigos escritos estão relacionados a ajuda financeira, aos investimentos e à cooperação no sector económico. Tais artigos são de tom mais positivo do que negativo”, declarou. 
 
PLANO “SOFT-POWER”

De acordo com o pesquisador, como forma de melhorar a imagem da potência asiática em África, a China começou uma ofensiva chamada “soft-power”, um plano para reforçar a cooperação no setor dos media nos países africanos.  
“Por causa desta imagem, atualmente, os chineses estão a criar acordos com vários órgãos de informação. Aliás, isso não é só para o caso de Moçambique, é o caso dos outros Estados africanos também”, afirmou Chichava
Na esteira do “soft-power”, os chineses possuem projetos para difusão da cultura e línguas, através de associações e empresas privadas que atuam um pouco por todo país.
“Para dinamizar esse plano, as manifestações são várias, como o estabelecimento de centros culturais chineses e vários outros empreendimentos no país”, disse.
Associado aos plano, segundo defende Chichava, as autoridades chinesas em Moçambique estão também a empreender um esforço para melhorar a imagem do país advertindo as empresas chinesas que atuam em Moçambique a melhorarem as relações com seus trabalhadores.
 
RELAÇÕES DESIGUAIS ENTRE AS DUAS PONTÊNCIAS

O plano chinês combina a diplomacia e o negócio, na medida em que, gradualmente, surgem cada vez mais empresas chinesas em Moçambique, o que fortifica os laços e a parceria entre os dois Estados. Entretanto, o pesquisador considera que entre as duas potências existem relações desiguais.
“Há uma pequena particularidade. O que acontece com a China em Moçambique, não acontece com Moçambique na China. Eles querem ter uma imagem bonita em Moçambique, mas nós temos uma imagem má lá. Isso surge devido às relações desiguais”, defendeu Sergio Chichava, argumentando que o Governo chinês faz discursos dizendo que somos iguais, mas, na verdade, não somos.”
O pesquisador diz que a imagem que África, no geral, tem na China é consequência do que os media chineses transmitem e é preciso que ambos lados trabalhem para alterar esse cenário.
Em jeito conclusivo, o pesquisador explicou que os chineses estão prontos para investir no país e o Governo de Maputo deve criar mecanismos para que os lucros que resultam desses investimentos fiquem, também, em solo moçambicano.    
“Se for bem concebida, a relação entre a China e Moçambique pode dinamizar o desenvolvimento do país e a China já está a ajudar nesse processo”, afirmou. 
 
Estêvão Azarias Chavisso, em Maputo

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