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ENSINO PROFISSIONAL NA MIRA DA EPM

 

A Escola Portuguesa de Macau está a avaliar o regresso ao ensino profissional, criado em 2001 e entretanto extinto do currículo do estabelecimento educativo. O ensino técnico-profissional poderá incidir em áreas como o turismo, a administração e “eventualmente podem vir a explorar-se outras áreas, face à procura do mercado de trabalho”, disse ao Plataforma Macau o Presidente da Direção Manuel Machado. Num balanço ao arranque do novo ano letivo, o responsável realça ainda que a contratação a tempo inteiro de um técnico especializado no ensino especial permite um “acompanhamento mais completo” aos 16 alunos com necessidades educativas especiais.

 

PLATAFORMA MACAU – Esteve com uma delegação de Macau na Rússia para visitar estabelecimentos de ensino. Que balanço faz desta viagem?

MANUEL MACHADO – Estive em Moscovo e São Petersburgo juntamente com diretores de outras escolas e representantes da Direção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e do gabinete do secretário da tutela. O objetivo era conhecer o sistema de ensino russo, mais no que diz respeito ao ensino básico e secundário, que é a nossa área, e conhecer algumas das escolas, quer do ensino regular, quer do ensino profissional, quer vocacional.

A DSEJ tem feito periodicamente estas viagens com diretores de escolas e já estiveram na Austrália, Singapura, China ou Canadá. Foi a primeira vez que participei e foi muito gratificante.

 

P.M. – Algum aspeto no sistema de ensino russo que pudesse ser uma mais valia para a Escola Portuguesa de Macau (EPM)?

M.M. – Os sistemas têm diferenças significativas, mas gostei muito, por exemplo, de visitar as escolas profissionais e de perceber como, nestes estabelecimentos, é recriado o ambiente profissional. É de tal maneira bem simulada a situação do dia a dia, que os alunos quando saem destas escolas e ingressam no mundo do trabalho não estranham porque estão bem preparados.

 

P.M. – Há um défice do ensino profissional no sistema educativo português?

M.M. – Em Portugal existe ensino profissional, mas diria que não é suficientemente acarinhado. Esta é uma herança do tempo anterior ao 25 de abril. Havia escolas técnicas, profissionais, industriais e o liceu. O ensino profissional nunca foi devidamente acarinhado.

Depois do 25 de abril caminhou-se para a unificação do ensino, acabou-se com o ensino profissional, o que na minha opinião foi um erro. Agora está a  procurar-se uma recriação desta via de ensino. É importante investir nisso, acarinhar essas profissões, essas pessoas, e ver que todos na sociedade têm um papel importante, independentemente do grau académico que têm.

Apesar de ter estado pouco tempo na Rússia, pareceu-me que isso é encarado de uma forma natural. Depois do ensino básico, o aluno encara naturalmente o prosseguimento dos estudos numa ou noutra via. Salvo erro, aproximadamente 25% dos alunos seguem a via profissionalizante na Rússia e, segundo me disseram, está praticamente garantida empregabilidade no final do curso.

 

P.M. – Uma via de ensino ainda muito presente em outros países europeus, como na Alemanha. 

M.M. – Na Alemanha, tem uma história muitíssimo antiga. Em Portugal, dei aulas de formação geral na Cometna, na Cecil, em empresas de metalomecânica, cimenteiras, em que os alunos tinham de facto uma formação profissional na empresa e, depois, tinham uma formação generalista na área das ciências, que era onde eu dava formação. E isso em Portugal tem evoluído. Deve ser encarado como uma coisa natural pelas pessoas e famílias e não deve ser criado para ir buscar às escolas secundárias ou básicas os alunos que resultam do insucesso.

 

P.M. – Foi um projeto que existiu em tempos na EPM. Há vontade de retomar esta via de ensino?

M.M. – Esta é uma escola portuguesa, com desenho curricular português e com as adaptações relativas à sociedade em que nós estamos inseridos. Estas adaptações implicaram obviamente a alteração de alguns programas, nomeadamente o programa de História, de Geografia, implicaram uma aposta no ensino do Mandarim e, portanto, este é assim um núcleo central da nossa razão de ser. A escola não é só um estabelecimento de ensino, mas é também uma representação cultural portuguesa e tem a obrigação de transmitir valores da nossa cultura, valores aqui do oriente. Esta é uma valência da escola, mas isto não exclui outras valências, como a possibilidade de virmos a abrir novamente e a investir em cursos profissionais.

Neste momento, não existe nenhum curso a decorrer, mas isso não significa que essa valência não venha a ser aberta, e que esteja novamente ligada às necessidades do mercado de trabalho local.

 

P.M. – Como cursos na área de turismo?

M.M. – Houve turismo, administração e eventualmente podem vir a explorar-se outras áreas, face à procura do mercado de trabalho.

 

P.M. – Mas há alguma data para o início do ensino profissional?

M.M. – Estamos este ano a fazer um trabalho de prospeção para ver quando é que é possível e quando será viável a implementação.

 

P.M. – A escola tem tido procura de cursos técnico-profissionais por parte dos estudantes?

M.M. – Não, mas é uma valência que a escola já explorou, quer continuar a explorar e abrir ao meio.

 

Catarina Domingues

 

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