Início Opinião Hermínio Paulino Chissico* – O PROBLEMA NÃO É O CTV

Hermínio Paulino Chissico* – O PROBLEMA NÃO É O CTV

 

“Quando apontas a montanha, o imbecil olha para o teu dedo!”(ditado popular da Rússia).

 

Alguma imprensa escrita tem se esforçado em denegrir o trabalho que o Centro Terra Viva – CTV tem estado a realizar em prol das populações abrangidas pelo projecto de construção da fábrica (pertencente a uma empresa multinacional) de liquefação de gás, no Distrito de Palma, Cabo Delgado, mormente, o aconselhamento às mesmas no sentido de exigirem a observância dos seus legítimos direitos, antes e depois da instalação.

Na minha ótica, esse “co bate” ao CTV é absurdo, porque, lendo, relendo e pedindo aos mais sábios para que leiam e interpretem, não encontro razão para tal e, como tal, chego a pensar que essa imprensa é machista, uma vez que o CTV é dirigido por uma mulher, e “em África, a mulher não pode e nem deve tocar assuntos de grande relevância, pois existem os Madotas, pronto!

Para que haja um entendimento profundo sobre o trabalho do CTV, trago aqui o registo de exemplos de graves falhas humanas dos megprojetos; das multinacionais, em algumas partes do mundo: dê uma pausa e olhe para a etiqueta das suas sapatilhas, das suas roupas NIKE, ADIDAS ou REEBOK. Olhe para a etiqueta da roupa da GAP… – Verás “made in Indonésia, Made in Vietname, Made in India, Made in China…”, porque não “made in USA, Made in UK…” se são empresas desses países, à exceção da China que comprou respectivas patentes e, consequentemente, regula os impactos?

– Os trabalhadores das fábricas NIKE, na Indonésia, recebem (como salário), 4% do preço de venda ao público das sapatilhas que produzem, valor que não chega nem para comprar os atacadores! Na mesma Indonésia, nas fábricas que produzem vestuário GAP para a Grã-Bretanha e América, os trabalhadores, na sua maioria mulheres jovens, chegam a trabalhar 36 horas de tempo consecutivas, em temperaturas que chegam a atingir os 40ºC. Adjacentes às fábricas, como destroços de uma grande tempestade, encontram-se os campos de trabalho onde os operários vivem: comunidades hobbesianas amontoadas em compridos dormitórios, com esgotos transbordantes em céu aberto e água imprópria para consumo. Junto das suas habitações correm canais poluídos, provocando uma forma virulenta da febre dengue. Portanto, estas fábricas foram instaladas naqueles países, uma vez que as mesmas são altamente poluentes e para que haja exploração de mão-de-obra!

Entendo que o CTV esteja a preparar as populações no sentido de as mesmas se erguerem visando evitar ou ao menos diminuir as falhas humanas que, geralmente, caracterizam os megprojetos.

O CTV está a apontar a montanha: olhemos para a montanha e não para o dedo do CTV.

 

Tenho dito.

 

 *Savana, Moçambique

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