Macau tem procurado atrair produções de cinema e televisão, sobretudo do Interior da China, como forma de promoção turística e cultural, e algumas dessas produções alcançaram grande sucesso de bilheteira no mercado chinês. Contudo, realizadores locais ouvidos pelo PLATAFORMA estão preocupados com a imagem que estas produções passam de Macau, e duvidam que ajudem realmente a desenvolver a indústria cinematográfica local. A comédia romântica Honey Money Phony, por exemplo, gerou mais de 370 milhões de yuans desde a sua estreia e chegou a ser o segundo filme mais visto durante o Ano Novo Chinês. O filme apresenta a maioria das principais atrações turísticas de Macau, incluindo vários resorts no Cotai e ruas do centro histórico. No More Bets, um drama policial chinês de 2023, não só se tornou um êxito de bilheteira, como foi também incluído na plataforma de streaming Netflix. As duas produções, embora filmadas em Macau, nunca se referem à cidade diretamente.
Em Honey Money Phony, Macau é descrita como uma cidade fictícia de Aogang. No filme No More Bets, as cenas filmadas no centro histórico de Macau são representadas como se decorressem num país do Sudeste Asiático. Vincent Hoi, um diretor local, diz ao PLATAFORMA estar cético quanto ao impacto dos filmes do Interior na indústria local, afirmando mesmo que “não ajudam a desenvolver a produção cinematográfica local”. “Se [o Governo] realmente quer promover o cinema de Macau, deve focar-se em filmes locais que estejam mais relacionados com a vida e a cultura local”, realça.
Promoção e fomento
O Instituto Cultural aprovou um total de 239 projetos de filmagem em 2024, dos quais três foram projetos de longas-metragens. Porém, ao nosso jornal não especificou quantos envolveram equipas ou companhias locais, apesar do pedido.
Para a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), é importante manter uma “atitude aberta” a colaborações com cineastas do Interior da China e internacionais. “Avaliaremos os projetos e, se forem considerados benéficos para a promoção de Macau como destino turístico, prosseguiremos discussões adicionais e prestaremos assistência sempre que possível”, indica ao nosso jornal. “Algumas pessoas desenvolvem interesse por destinos que talvez nunca tivessem considerado antes de os verem em filmes, séries ou programas de variedades. Com cada vez mais filmes e programas filmados em Macau, espera-se que mais amantes de cinema e de séries sejam atraídos para a cidade”, explica o organismo.
O IC revela ainda que para criar mais oportunidades, tem trabalhado com o Fundo de Desenvolvimento Cultural no desenvolvimento e melhoria dos planos de apoio financeiro.
Entretanto, foi também criado o Serviço de Coordenação de Pedidos de Licença de Filmagem, um grupo de trabalho interdepartamental responsável por realizar “reuniões técnicas sobre aplicações de filmagem” para projetos que exijam coordenação. “O objetivo é melhorar a imagem de Macau, elevar o seu prestígio internacional, promover a sinergia entre a criatividade cultural e o turismo, e contribuir para o desenvolvimento da indústria cinematográfica e televisiva de Macau”, finaliza o IC.
Talento local à margem
Tracy Choi, diretora de cinema de Macau, considera que as autoridades locais têm boas intenções ao tentar atrair produções do Continente e internacionais, observando que o seu objetivo é revitalizar a indústria local, que tem experiência de produção limitada. “Atrair equipas do Interior proporcionaria aos nossos profissionais mais oportunidades para se envolverem em projetos profissionais”, explica.
No entanto, a realizadora aponta que o talento local tem frequentemente sido marginalizado, tanto à frente como atrás da câmara. “Muitos destes projetos não permitiram uma participação significativa de profissionais locais”, acrescentando que muito se deve à inexperiência local e necessidade de melhorar a colaboração com as produtoras do Continente. Por fim, Choi salienta a importância de apoiar filmes locais, que oferecem uma perspetiva única sobre Macau do ponto de vista dos seus residentes. “Os nossos próprios filmes permitem que os estrangeiros vejam Macau através de uma nova lente,” afirma, defendendo um maior investimento na narrativa local.