As Duas Sessões anuais realizadas em Pequim são muito mais do que um exercício de governança. Ditam o rumo da nação, prioridades políticas, económicas e o mapa estratégico no contexto global. Para Macau, estas reuniões não são apenas um referencial de políticas e direções – são também um compromisso com um futuro partilhado que tem de complementar. Quer isto dizer que não basta beneficiar das diretrizes nacionais; tem também de corresponder às expectativas.
Macau ainda está hesitante, com políticas enredadas na sombra do seu passado. A China avança com um plano de crescimento de 5%, ergue torres de inovação, semeia inteligência artificial, lança fundações para um amanhã que será medido em ciência e audácia. Macau, no entanto, ainda aposta na roleta do acaso, confiando que os ventos do turismo continuem a soprar uma diversificação que não cresce à velocidade da próxima tempestade.
As Linhas de Acção Governativa de 2025 não podem ser um espelho do passado; têm de ser um compromisso claro com o novo modelo económico e um setor educativo alinhado com o progresso. Pequim dá o exemplo ao anunciar um ambicioso investimento na infraestrutura e na geração de empregos. Macau deve seguir esse caminho, promovendo políticas que garantam emprego qualificado, que atraiam investimento produtivo e que ampliem a sua relevância na estratégia nacional e internacional.
Dizem os números que Macau ainda não compreendeu a urgência do tempo em que vive. As próprias metas da diversificação caem muitas vezes no abstrato, alimentando discursos da mesma natureza. A verdade é que o mercado laboral não apresenta hoje soluções diferentes das que tinha antes da pandemia. Se o subdiretor dos Serviços de Saúde diz que uma série de licenciados em medicina terão dificuldades em arranjar emprego no futuro próximo, pergunto onde estão as indústrias de Big Health e Turismo de Saúde? E em todas as outras áreas, quantas empresas podem comportar mais recém-licenciados se não houver uma ambição coletiva de crescimento e expansão? Mais, se as ferramentas da diversificação são dadas às concessionárias, perpetuando a oligarquia no novo modelo económico, não estaremos a desincentivar um empreendedorismo que as ultrapasse?
Há um momento em que toda cidade deve decidir o que quer ser: espelho ou sombra, ponte ou ruína, testemunha do futuro ou memória do passado. Se Macau quiser escapar ao destino dos que não se sabem reinventar, que olhe para as decisões traçadas nas Duas Sessões e transcreva com rigor nas suas Linhas de Acção Governativa de 2025. Se a China reforça a sua estratégia de abertura e influência global, Macau deve demonstrar que é, de facto, uma plataforma de cooperação internacional e não apenas uma placa toponímica num mapa de intenções.
O primeiro passo é, de facto, abandonar os slogans e tornar o discurso político mais científico. É preciso números, indicadores de desenvolvimento para as indústrias emergentes e tradicionais. Os próprios jovens podem recorrer a esses dados antes de apostar num futuro com o qual a cidade não se compromete – mas incentiva. Por outro lado, aumenta a transparência e incute responsabilidade ao traçar metas, sendo que os dados servirão para fundamentar políticas de futuro adequadas aos objetivos.
*Diretor-Executivo do PLATAFORMA