Importante porto comercial, durante séculos sob ocupação portuguesa, Macau regressou à Pátria a 20 de Dezembro de 1999. Desde então, para além da alcunha de “Las Vegas do Oriente”, procura estabelecer-se como centro mundial de turismo e lazer, diversificando-se indústrias como a cultura e o desporto. Wu Zhiliang, presidente da Fundação Macau, lembra os tempos em que nem os espetáculos gratuitos tinham público. Mas desde a transição política, artistas de classe mundial, como o tenor espanhol Plácido Domingo, ou Herbie Hancock; podem ser vistos atraídos graças à prosperidade económica, sob a política “um país, dois sistemas”. Em 2023, o PIB per capita mais que quadruplicou em relação a 1999, atingindo quase 70.000 dólares americanos.
Aqui, civilizações e culturas não colidem; coexistem e compreendem-se
Wu Zhiliang, presidente do conselho de administração da Fundação Macau
Espaços modernos, como o Centro Cultural, desempenham papel fundamental na indústria de espetáculos, que alavanca o rico património cultural. Em outubro de 2024, Wu Man atuou no D. Pedro V; primeiro teatro de estilo ocidental na China – 1860. “Local histórico que combina perfeitamente com a pipa, instrumento tradicional chinês”, comenta Wu Man. “A atmosfera era excelente e senti o entusiasmo do público por sons e melodias cativantes”, recorda a conceituada artista sino-americana. A 7 de dezembro de 2024, a Galaxy Arena acolheu o iQIYI Scream Night; segundo ano consecutivo em que a plataforma de entretenimento online escolheu Macau para a sua gala de estrelas: centenas de artistas, milhares de espetadores no local, e centenas de milhões online. O Anuário de Estatísticas da RAEM reporta mais de 55.000 espetáculos e exposições, em 2023, contra 38.000 em 2013.
Kun Wangtou, artista emergente da Geração Z, embora jovem, tem já reputação em Macau e Hengqin. Formou-se em Boston, trabalhou como fotógrafo, e regressou: “Profundamente grato à minha cidade natal pelo apoio inestimável que me deu”.
APRENDIZAGEM SUPERIOR
Yanick De Almeida, estudante angolano na Universidade de Macau (UM), escolha Macau pela fama de local calmo e seguro. “Pensei que seria como na China continental, onde todos falam mandarim; mas rapidamente descobri que muitos colegas falam português ou inglês”. Sofia Costa, estudante de química supra molecular e Medicina Tradicional Chinesa – intercâmbio com a Universidade do Porto – descreve a MTC como “oportunidade única” e “experiência fascinante”, que será “inestimável ao longo da carreira”. A UM tem mais de 350 estudantes internacionais, oriundos de 50 países e regiões; aumento de 360 por cento numa década. É uma das dez instituições de ensino superior numa cidade com cerca de 690.000 habitantes, onde a Universidade de Ciência e Tecnologia é outro exemplo do apelo como destino académico. Fundada em 2000, tem 23.000 alunos; 94 por cento vindos do exterior. Nos últimos 25 anos, local histórico do St. Paul’s College – primeira universidade do Extremo Oriente – desenvolve o seu legado e a UM está classificada como uma das 250 melhores universidades do mundo, sublinhando o compromisso da RAEM com a excelência académica.
DIVERSIDADE CULTURAL
Tanto Almeida, como Costa, estão impressionados com a diversidade cultural. “Conheci pessoas de diferentes origens – uma agradável surpresa”, diz Almeida. As culturas chinesa e ocidental encontram-se no encanto único de uma cultura típica do Sul da China, com toque europeu distinto.
Da mistura cultural à experiência culinária. Este é o fascínio de Macau para o mundo
José Chan Rodrigues, embaixador da cultura macaense
Desde meados do século XVI, Macau é ponte vital do intercâmbio Oriente/ Ocidente, diz Wu Zhiliang, que há décadas estuda a História e a cultura da cidade. O centro histórico, Património Mundial da UNESCO, é um dos primeiros e mais duradouros testemunhos dessa rica síntese cultural, materializada em marcos como as Ruínas de São Paulo, cuja fachada integra elementos orientais como inscrições chinesas e motivos de leões. Ali perto, o Templo Na Tcha – homenagem a Ne Zha, herói mítico, sublinha a coexistência em harmonia das tradições orientais e ocidentais. O fascínio cultural estende-se para além de igrejas e templos. “Aqui, civilizações e culturas não colidem; coexistem e compreendem-se”, explica Wu. Mistura talvez mais evidente na diversidade culinária. Ao longo dos séculos, a cidade preservou receitas de diferentes nações e criou novos sabores. A comida macaense, uma das primeiras cozinhas de fusão do mundo, combina técnicas e ingredientes chineses e portugueses; incorporando ainda especiarias e temperos de regiões da antiga Rota Marítima da Seda, como o caril e o leite de coco.
Pedro Miguel Manhao Sou, cuja mãe gere um restaurante macaense, recorda a infância repleta dessa mistura de culturas e sabores. “O meu avô tinha uma banca de massas e, depois da escola, escolhíamos lá os acompanhamentos preferidos (…) A minha família celebra o Festival da Primavera e o Natal”. Macau é conhecido por ter restaurantes com estrelas Michelin, famosas tartes de ovos portuguesas, e vibrantes bancas de comida de rua. Em 2017 foi nomeada Cidade Criativa de Gastronomia da UNESCO; e, em junho de 2024, Cidade da Cultura do Leste Asiático. Reputação global que atrai cada vez mais visitantes: até 7 de dezembro de 2024, 32 milhões de turistas – mais 26 por cento que no mesmo período do ano passado.
José Chan Rodrigues, de ascendência portuguesa, fala da ponte para a compreensão mais profunda da China, e do apelo único que oferece aos viajantes quase tudo o que procuram, da mistura cultural à experiência culinária. Tudo numa cidade costeira com 33 quilómetros quadrados: “Este é o fascínio de Macau para o mundo”.