Início » Xi Jinping anuncia um “amanhã ainda melhor”

Xi Jinping anuncia um “amanhã ainda melhor”

Quando o Presidente se deslocou a Macau para dar posse a Ho Iat Seng, em dezembro de 2019, o mundo era bem diferente: três anos de Covid-19 levaram a economia a baixos históricos; e o desemprego atingiu níveis nunca vistos desde a transferência de soberania, em 1999. Hoje a economia recuperou, embora não aos níveis pré-pandemia; e com distribuição desigual. A legislação de segurança nacional foi apertada, e a integração na Grande Baía reforçada.

Nelson Moura

Sam Hou Fai toma hoje posse como Chefe do Executivo; trazendo novas caras para o Governo e Conselho do Executivo. Em 2019, Xi dividiu a mensagem em “quatro esperanças”: reforma da Administração Pública, diversificação económica, harmonia política, e interculturalidade. A Administração, disse então o Presidente, deveria focar-se na qualidade de vida dos residentes, na habitação, saúde, cuidados aos idosos, e educação. Na frente económica, pediu esforços na diversificação – além jogo – e nas oportunidades ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e Grande Baía.

Ainda em 2019, Xi pediu tolerância e integração social, e diálogo para a resolução de conflitos; destacando o intercâmbio entre as culturas chinesa e ocidental para reforço das relações internacionais. Entretanto, o mundo mudou. Agora, “estamos em conjunturas diferentes, não só a nível interno como externo. Após a pandemia – e dois conflitos militares em curso – o ambiente internacional tornou-se menos previsível e mais conflitual, para além da crescente concorrência entre China e Estados Unidos”, lembra Cátia Miriam Costa, investigadora no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).

Macau recebe maior atenção, pois tornou-se exemplo da capacidade da China concretizar cabalmente o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”
Cátia Miriam Costa, ISCTE

Há cinco anos, Hong Kong passara por seis meses de consecutivos protestos, na sequência da controversa lei de extradição. Cátia Costa diz que Xi regressa num ambiente muito diferente: “Com a situação serenada, Macau recebe maior atenção, pois tornou-se exemplo da capacidade da China concretizar cabalmente o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”. Em 2019, Xi destacou o “patriotismo de Macau” como a razão principal para o sucesso da governação. “‘Um País é o pré-requisito e a base de ‘Dois Sistemas’”, sintetizou Xi. “Só garantindo que não haja distorção da prática ‘Um País, Dois Sistemas’ a causa pode avançar de forma sólida e sustentada.”

INTEGRAÇÃO NA BAGAGEM

Na atual circunstância política, mais distendida, analistas esperam que esta visita reforce mensagens para que a cidade cumpra melhor a ligação vital entre culturas e economias, aproveitando a relação com Hengqin. Professor assistente no Departamento de Negócios da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, Zhang Fan acredita que a diversificação económica será tema revisitado por Xi: “O Governo tem promovido quatro indústrias pilares: saúde, finanças, alta tecnologia e eventos MICE”.

Contudo, na pele de investigador financeiro, Zhang critica uma abordagem ainda limitada ao mercado obrigacionista: “Macau podia ter mais ligações com centros financeiros europeus (…) Nenhuma cidade pode ser um centro financeiro apenas com obrigações; os mercados de câmbios, derivativos, financiamento alternativo, capital de risco e private equity são também críticos” para esse objetivo.

Já o analista político Sonny Lo, põe a tónica na integração socioeconómica com a Grande Baía: “Xi irá reiterar a importância da diversificação económica na melhoria do bem-estar social”. Ao mesmo tempo, antecipa, deve reafirmar o foco no quadro Um País, Dois Sistemas: “O sucesso do modelo de Macau é crucial, até porque o próximo alvo de reunificação, sem dúvida, será Taiwan”, conclui Lo. Cátia Costa acredita que possam ser detalhadas estratégias de integração regional, já conhecidas, mas apenas em traços gerais.

Cinco anos após a sua última visita, o Presidente Xi Jinping aterrou anteontem “satisfeito” com os primeiros 25 anos da RAEM. Analistas contactados pelo PLATAFORMA esperam que o líder chinês reforce em Macau as mesmas mensagens transmitidas em 2019: importância estratégica da Região Especial; o princípio “Um País, Dois Sistemas”; e a diversificação económica – via Hengqin

Macau podia ter mais ligações com centros financeiros europeus (…) Nenhuma cidade pode ser um centro
financeiro apenas com obrigações
Zhang Fan, MUST

“Porque introduzem elementos disruptivos na economia tradicional de Macau, precisam ser politicamente explicadas para ganharem maior adesão”. Ainda que a Grande Baía seja “consistente e consensual entre os governos central e da RAEM”, pelo que “não se esperam grandes surpresas”.

A cogestão de Hengqin, diz a investigadora, dá margem à diversificação económica de Macau, mas constitui um desafio para entendimentos políticos de alto nível.“Daí a relevância desta visita do ponto de vista da integração de Macau neste grande projeto económico da China. No fundo, esta visita ‘apadrinha’ ao mais alto nível um processo que tem vindo a decorrer”.

NOVIDADES LUSÓFONAS

Professor assistente do Departamento de Governo e Administração Pública da Universidade de Macau, Ieong Meng U, espera de Xi Jinping ecos da sua visita anterior, elogiando o desenvolvimento económico e estabilidade social de Macau.

O sucesso do modelo de Macau é crucial, até porque o próximo alvo de reunificação, sem dúvida, será Taiwan
Sonny Lo, analista político

“Embora espere um tom semelhante, devemos prestar atenção a quaisquer novas questões que Xi possa abordar, particularmente sobre as relações com os Países de Língua Portuguesa e a integração com Hengqin”, alerta. Em 2019, o Presidente chinês visitou o Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, tendo sublinhado os progressos nessa cooperação. Realçou a construção da estrutura como “medida importante” para que Macau possa usar as suas vantagens históricas e culturais para atender às necessidades do país.

“PÉROLA NA MÃO DA PÁTRIA”

Numa breve declaração à chegada, ainda no aeroporto, Xi Jinping descreveu anteontem Macau como “pérola na mão da pátria”, com “futuro promissor”. Ao longo de 25 anos, a prática do princípio “Um País, Dois Sistemas” alcançou um “sucesso reconhecido mundialmente”. Sendo as vantagens institucionais do princípio “plenamente utilizadas”; e havendo “coragem para lutar e inovar”, será possível criar um “amanhã ainda melhor”, disse o Presidente, esclarecendo que esta visita pretende “explorar, observar e manter um diálogo amplo e profundo com representantes de diferentes setores locais para discutir os planos de desenvolvimento de Macau”.

Esta é a sexta visita oficial de Xi Jinping a Macau – terceira como Presidente. Veio pela primeira vez em 2001, enquanto governador de Fujian; regressou em 2005, como secretário do Partido Comunista de Zhejiang; e voltou em 2009, como vice-presidente da China. Já no mais alto cargo da nação, Xi visitou Macau em 2014 e 2019; para dar posse Chui Sai On e Ho Iat Seng.

SEXTA VISITA OFICIAL

Xi Jinping discursou ontem num banquete oficial no Macau Dome, onde afirmou que a Região “não pode tornar-se complacente na riqueza”, devendo “ser mais aberta e inclusiva”, reunindo “talentos de todo o mundo”. Mesmo local onde hoje tem lugar a tomada de posse dos titulares dos principais cargos públicos, incluindo o novo Chefe do Executivo, Sam Hou Fai.

Devemos prestar atenção a quaisquer novas questões que Xi possa abordar, particularmente sobre as  relações com os Países de Língua Portuguesa e a integração com Hengqin
Ieong Meng U, Universidade de Macau

MENOS PRESSÃO MEDIA

Há cinco anos o ambiente entre os Media, o protocolo e a segurança de Estado, foi tenso. Mais de 650 jornalistas registaram-se para cobrir a visita, mas as autoridades da RAEM deram primazia aos repórteres provenientes do interior da China; impedindo mesmo a entrada de alguns jornalistas de Hong Kong. Dois jornalistas da televisão estatal portuguesa (RTP) foram retidos e interrogados na fronteira, por terem antes feito a cobertura das manifestações em Hong Kong.

A Associação de Jornalistas de Macau queixou-se de “intimidações” e de “restrições à liberdade de imprensa”, apelando ao Governo Central compromisso com o princípio “Um País, Dois Sistemas”.

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau sentiu motivos para pedir que “o livre exercício da profissão esteja assegurado na plenitude”. Este ano o ambiente está claramente mais aliviado. Vários meios de comunicação de Hong Kong, Japão, Singapura, Reino Unido, Estados Unidos, ou França… registaram-se para cobrir a visita de Xi Jinping. Há notícia apenas de um incidente, tendo o All About Macau denunciado anteontem ter sido forçado a remover um artigo online com comentários sobre as medidas de segurança impostas nesta visita presidencial.

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!