Macau é terra de muitas tradições, mas existe uma em particular que chama a nossa atenção no mês de Grande Prémio. Uma tradição de talento ao volante, no asfalto, na velocidade.
A revelação mais recente é, sem dúvida, Tiago Rodrigues, o jovem piloto nascido e criado em Macau. Campeão em título no Campeonato Chinês de F4 FIA, onde evidenciou a sua velocidade e o seu sentido estratégico, Rodrigues abraçou um novo desafio no Campeonato de F4 dos Emirados Árabes Unidos onde uma vez mais mostrou o seu crescente talento.
Este ano, em Macau, é um dos pilotos que apadrinha a estreia da Taça do Mundo de Fórmula Regional, um dos mais icónicos eventos do desporto motorizado mundial. O PLATAFORMA esteve à conversa com o jovem piloto de 17 anos entre o bulício dos preparativos para a sua participação.
– Como avalias a tua prestação no Grande Prémio de Macau em 2023?
Tiago Rodrigues – Em relação ao Grande Prémio de Macau em 2023, creio que a minha prestação foi, em geral, positiva. Ainda assim, julgo que a minha progressão de velocidade devia ter sido melhor. Devia ter chegado mais cedo ao nível de velocidade que eventualmente atingi na corrida final. Idealmente, logo na primeira sessão importante, que foi a de qualificação. É um erro que espero corrigir este ano.
Depois de pilotar em Macau em 2023, foi muito mais fácil conduzir em pistas normais
– De que forma essa participação contribuiu para a tua carreira?
T.R. – Considerando que Macau não é uma pista tradicional, com imenso espaço, a verdade é que existe pouca, ou praticamente nenhuma margem de erro. Correr aqui exige um foco extraordinário e também muita coragem. Sinceramente, depois de pilotar em Macau em 2023, foi muito mais fácil conduzir em pistas normais, porque me senti com mais coragem.
– De uma maneira geral, a estratégia delineada por ti, pela tua equipa e pelo teu pai, para a tua carreira, tem sido seguida ou tem sofrido alterações?
T.R. – A nossa estratégia sempre foi pouco convencional. Sempre nos focámos mais no presente e não tanto no longo prazo. Claro que isso acarreta vantagens e desvantagens.
– Como surge esta participação na Fórmula Regional em Macau? Tem a ver com a participação na F4 em Sepang, onde correste com esta mesma equipa?
T.R. – A decisão para fazer a Fórmula Regional em Macau foi tomada ao mesmo tempo que a decisão de fazer as provas que acabei de correr na Malásia. Portanto, já estava planeada há algum tempo. O facto de fazer ambas as provas com a mesma equipa é, para mim, muito positivo. Conheço a equipa muito melhor agora e a nossa sinergia é, julgo, uma vantagem. Já agora, tenho de mencionar que foi o André Couto que me ajudou a encontrar e negociar a oferta com a Evans.
– Que portas se abriram após a vitória no Campeonato Chinês de F4?
T.R. – Logo após a conquista do Campeonato Chinês de F4, abriram-se várias portas, que me proporcionaram participações em vários campeonatos e em várias corridas, o que agradeço muito, pois contribuiram para estar hoje mais consolidado.
– Que ambições tens este ano em Macau, com esta participação na Fórmula Regional pela Evans?
T.R. – Sinceramente, tento não pensar no que pode acontecer na corrida. Só me foco em dar o meu melhor em termos de preparação e quando estou em pista. Porém, sei bem que quanto mais trabalhar e quanto mais focado estiver, mais próximo ficarei de alcançar um bom resultado. Creio que isso é certamente possível.
– És conhecido pelo teu estilo audaz, por procurares o espaço e correres no limite. Podemos esperar o mesmo?
T.R. – Sim, estar no limite e explorar todas as maneiras possíveis de ser mais rápido continua a ser a minha maneira preferida de correr.
Serei o único piloto na grelha [da Taça do Mundo de Fórmula Regional] que pode considerar o Grande Prémio de Macau como a sua corrida. Vou correr em casa
– Ainda vai sendo possível conciliar a competição com a família, os estudos, os amigos e os passatempos?
T.R. – Neste momento, não tenho feito muitas corridas, por isso, não tenho sentido grande dificuldade em fazer essa conciliação com a vida pessoal e a escola. É natural que isso mude com o passar do tempo, mas depois vê-se.
– O facto de seres um piloto de Macau é uma mais valia ou um obstáculo?
T.R. – Julgo que ser um piloto de Macau proporciona muitas vantagens, especialmente considerando que vou fazer a corrida em Macau e serei o único piloto na grelha que pode considerar o Grande Prémio de Macau como a sua corrida. Vou correr em casa. Uma casa que já atraiu lendas do desporto, como o Ayrton Senna, Schumacher, Verstappen, entre muitos outros grandes pilotos.
– Que planos tens para depois do Grande Prémio de Macau?
T.R. – Para já, não posso anunciar nada concreto. Naturalmente, tudo depende dos patrocinadores e da dimensão do apoio financeiro que eu e a minha equipa conseguirmos angariar. Estamos a trabalhar ativamente para reunir os apoios suficientes, pois este desporto é extremamente dispendioso.