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“Se for uma questão de capacidade não vou perder para Ho Iat Seng”

O empresário Jorge Chiang, presidente da Associação de Institucionalismo de Macau, anuncia-se como candidato a Chefe do Executivo. E está convencido de que ganha a Ho Iat Seng. Porque “muitas coisas têm sido feitas de forma caótica; e isso está relacionado com o líder máximo”

Meimei Wong

– Qual é a sua formação e experiência profissional?

Jorge Chiang – Cresci como aprendiz, em Macau, e a minha profissão é na área financeira. Quando tinha cerca de 10 anos de idade, fui aprendiz numa loja de eletrónica; e, à noite, depois da escola, aprendi a fazer lentes de contacto na então famosa New Era Oculista. Mais tarde recebi formação como produtor e engenheiro de som, no Centro Católico de Macau; e, posteriormente, passei a maior parte do meu tempo na China continental, e em diferentes partes do mundo. Durante o período em que trabalhei como funcionário da Wo Kee Hong Ltd., em Hong Kong, desempenhei funções de secretário e diretor-geral do Zhuhai Holiday Resort.

– Como tenciona utilizar esse percurso no Palácio da Praia Grande?

J.C. – Há muitas maneiras, porque fui treinado em vários aspetos, e vejo que Macau está nesta altura a enfrentar muitos problemas que eu posso resolver; incluindo ao nível das finanças, ou da engenharia. Toda a gente diz que Macau está a escavacar as estradas, até ficarem doidos; mas não tem de ser assim.

Vou criar escritórios de representação nos Países de Língua Portuguesa, negociar recursos nesses países e
alinhá-los com operações na Grande Baía

– Quais os principais problemas em Macau? Pode dar-nos exemplos, nas finanças e na engenharia – áreas que apontou – de como planeia resolvê-los?

J.C. – São muitos. Na verdade, estou também a recolher as queixas dos residentes de Macau. As soluções são muito simples, só que não são bem coordenadas. Por exemplo, no caso das obras nas estradas, alguns departamentos deviam coordenar-se para escavar apenas uma vez; quando o fazem em duas ou três, por motivos diferentes. Com base na minha experiência, se fizer todos os trabalhos necessários de uma vez, pode levar pelo menos dez anos até que seja necessário escavar de novo. Fazê-lo sempre que surge um motivo diferente pode ter efeitos na faturação do construtor; mas, de facto, é um enorme desperdício de fundos públicos. Não é necessário fazê-lo desta forma.

– Do ponto de vista financeiro, que soluções propõe?

J.C. – Trabalho em finanças internacionais há quase 40 anos, e Macau tem, de facto, vantagens na área das finanças internacionais. Mas não sabe como utilizá-las; não quer, ou não se atreve a fazê-lo. Há muita monopolização e falta de capacidade de resposta. Quando há certas pessoas que monopolizam um setor, não se cultiva o futuro, razão pela qual as novas gerações, que estudam no estrangeiro, não têm quaisquer oportunidades de desenvolvimento em Macau.

– Discorda da modernização financeira implementada pelo Governo?

J.C. – Essa solução não é completa. As finanças são uma área que funciona em complementaridade com outras; por exemplo, combinadas com investigação sobre medicina tradicional chinesa e ocidental. Se eu tomar posse, aumentarei o número de universidades; incluindo um instituto de alta inteligência, para cultivar o QI e o QE de todos os alunos, até ao limite. Há também o aspeto cultural, que Macau não tem abordado corretamente. Devemos promover Macau como uma plataforma para mostrar o património cultural chinês, com cinco mil anos e 56 minorias étnicas. Há também o rico intercâmbio cultural e comercial com os Países de Língua Portuguesa. Falam sempre nisso, mas não andam. Se conseguir chegar lá, começarei imediatamente a trabalhar nesses diferentes aspetos, com várias pequenas equipas.

Se não estivesse confiante, não me teria candidatado de repente. A razão principal é que tenho visto a
grave situação de monopólios que, ao longo dos anos, se tem vivido em Macau

– Durante os 40 anos de experiência que referiu no setor financeiro, quais as áreas específicas nas quais esteve envolvido?

J.C. – Comecei com ações e futuros, sob a orientação do chefe do Zhuhai Holiday Resort; e depois passei para a banca, ligado a contas e outras operações financeiras. Estou muito familiarizado com o funcionamento dos diferentes sistemas financeiros.

– No anúncio da intenção de se candidatar, afirmou que Macau precisa de entrar numa “nova era” e “começar tudo do zero”. O que quer dizer com isso?

J.C. – Uma nova era, antes de mais, traduz-se num melhor nível de vida para os residentes de Macau. Tendo em conta o PIB que temos, não deveria haver pobres; contudo, a realidade é que, no último ano e meio, muitas pessoas suicidaram-se devido à pressão do custo de vida. É claro que os preços elevados são causados por monopólios em certos setores – e é preciso tratar destes problemas. Mesmo que não venha a ser Chefe do Executivo, posso sentar-me e ensinar cada Secretário a fazer o seu trabalho. A questão é saber se eles estão dispostos a implementar as mudanças. “Começar tudo do zero” significa parar os maus exemplos do passado e do presente e melhorá-los, gradualmente, um a um. Por exemplo, a importação de bens, especialmente de alimentos, tem sido monopolizada por certas pessoas. Se conseguir o cargo, criarei imediatamente uma pequena equipa para diminuir os custos alimentares, abastecendo Macau diretamente na China continental, ou em outros locais, ao mais baixo custo possível para servir a população. Esta atitude é a mais básica, porque o custo de vida em Macau é atualmente mais caro do que o de Hong Kong. Como é que a população pode suportar isso? No meu tempo, éramos muito felizes em Macau.

Nenhum ponto positivo [na Administração]; apenas uma longa lista de pontos negativos. É por isso que
tenho de me candidatar

– Será esta abordagem viável? Sendo maior parte dos alimentos importados por uma empresa estatal chinesa, não haverá conflitos de interesses?

J.C. – É viável, à semelhança dos esforços contra a corrupção na China continental. Macau não é exceção. De facto, muitas vezes nós, os macaenses, ousamos indignar-nos, mas não nos manifestamos, devido a determinadas circunstâncias. Uma vez que me estou a candidatar a eleições, tenho de falar em nome de todos os cidadãos de Macau; e refletirei sobre quaisquer questões junto do Governo Central.

– O que pensa das novas concessões de jogo? O modelo atual traz a diversificação económica?

J.C. – É muito conservador. De facto, não precisa de ser assim. Pessoalmente, acho que ter várias licenças não faz sentido – uma concessão de jogo seria suficiente. O resto deve ser atribuído a quem tem capacidade; a quem possa pagar anualmente um determinado imposto sobre o jogo e se candidate. Além disso, todos os anos, o Governo deveria auditar os relatórios destas empresas para verificar o seu desempenho económico. É assim que se pode criar uma verdadeira concorrência.

– Isso não provocaria situações de monopólio?

J.C. – Não; a concorrência é o motor do progresso. No passado, Macau tinha apenas uma concessão de jogo – e o número de mesas que obtinha era baseado na capacidade dessa empresa. Se a sua receita anual, e contribuição fiscal não conseguissem satisfazer as exigências do Governo, teria de abandonar o mercado. Não se tornaria um monopólio, antes permitiria o aparecimento de muitos potenciais operadores.

Nós próprios não temos sido diligentes, o que levou a que muitas coisas tivessem de ser geridas pelo
Governo central

– Como encara o facto de muitas pequenas e médias empresas estarem nesta altura em dificuldades?

J.C. – Tem de haver uma solução para isso. Muitas vezes, são questões ligadas à tecnologia, e à falta de capital. Além disso, os empresários precisam de continuar a formação e identificar os seus pontos fracos, para otimizá-los e adicionar mais capital.

– Caso venha a ser Chefe do Executivo, tenciona conceder subsídios às PME?

J.C. – Sim, sem dúvida.

– Qual é a sua posição sobre a preservação das comunidades portuguesa e lusófonas, o bilinguismo, e as relações com os Países de Língua Portuguesa? Macau está no bom caminho?

J.C. – O Governo central sempre desejou que Macau desempenhasse um papel único nessa relação de ponte, e até de amizade. Se eu tomar posse, em nome do Governo da RAEM, vou criar escritórios de representação nos Países de Língua Portuguesa, negociar recursos nesses países e alinhá-los com operações na Grande Baía. Desta forma, todos podem ganhar e alcançar a prosperidade comum. No entanto, esta ideia tem sido sempre falada, mas não é posta em prática. Quanto à proporção de utilização do chinês e do português, calculo que possa ser de 50-50. Nos negócios com os países lusófonos, a utilização da língua portuguesa não será reduzida.

– Anunciou a sua candidatura na semana passada, mas quando percebeu que queria e tinha condições? Está confiante?

J.C. – Claro que sim. Se não estivesse confiante, não me teria candidatado de repente. A razão principal é que tenho visto a grave situação de monopólios que, ao longo dos anos, se tem vivido em Macau. Muitos macaenses, com toda a família a viver em Macau, não se atrevem a falar. O que é que vai acontecer? A nova geração de macaenses vai-se embora, e Macau deixará de ter residentes locais. Lutar pelo bem-estar a que a população de Macau deve ter direito é equivalente a lutar pelo que Macau deve ter direito por parte do Governo central.

– Não é oficial, mas fontes próximas de Ho Iat Seng afirmam que ele irá candidatar-se a um segundo mandato. Acha que pode vencer o atual Chefe do Executivo?

J.C. – Bem, depende em que aspeto. Se for uma questão de capacidade, de certeza que não vou perder para ele. Nasceu com uma colher de ouro na boca; eu sou um trabalhador prático com chaves de fendas e martelos. Pelo menos, estou em contacto com as bases, enquanto ele não está. Estou confiante em garantir o apoio dos membros da Comissão Eleitoral. Quanto à contagem dos votos, teremos de esperar para ver.

– Na atual Administração, consegue destacar um ponto positivo – e um negativo?

J.C. – Nenhum ponto positivo; apenas uma longa lista de pontos negativos. É por isso que tenho de me candidatar.

– Como vê as relações com Pequim e que nível de autonomia defende para Macau?

J.C. – Na verdade, tanto quanto sei, o Governo Central tem sido sempre muito discreto em relação a Hong Kong e Macau. Só que nós próprios não temos sido diligentes, o que levou a que muitas coisas tivessem de ser geridas pelo Governo Central. É como os pais, que podem não querer intervir; mas se as crianças continuam a portar-se mal, são obrigados a intervir. À primeira vista, Macau parece ser a criança obediente; mas, na realidade, muitas coisas têm sido feitas de forma caótica; e isso está relacionado com o seu líder máximo.

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