Início » O incrível título de “património mundial”

O incrível título de “património mundial”

Lok Un WaLok Un Wa*

De acordo com a página oficial da UNESCO, fazer parte da lista de Património Mundial é um “prestigio” cujo principal objetivo é encorajar governos e cidadãos a preservar estes locais. Numa era de desenvolvimento acelerado, a luta por este título serve como proteção das cidades antigas, um desafio comum a vários centros urbanos por todo o mundo. Contudo, parte da finalidade da candidatura a “Património Mundial” passa também pelo desenvolvimento da indústria turística associada, visto este ser um estatuto que traz vários benefícios económicos e sociais às regiões.

Desde agosto de 2021 que a China é o segundo país com o maior número de patrimónios mundiais (ver gráfico), com um total de 56, sendo o “Centro Histórico de Macau” (entrada para a lista em 2005) um deles, desde 2005. Apenas em 2018, cada um destes locais trouxe à China um lucro direto de 14,375 mil milhões de renminbis. A importância que o país oferece aos seus patrimónios pode ser ainda reconhecida através do “Dia do Património Cultural e Natural da China”, celebrado no segundo sábado do mês de junho.

Processo de candidatura difícil e sem posição garantida

Os locais incluídos na lista de Património Mundial devem ser de valor notável e cumprir pelo menos um dos dez critérios da lista. No caso do Centro Histórico de Macau, são cumpridos quatro. Após a sua nomeação por uma entidade governamental, o local é analisado e avaliado pela Comité de Património Mundial antes de ser submetido a votação. O processo de candidatura é complexo e requer pelo menos 18 meses.

A Ilha de Gulangyu, em Fujian, por exemplo, iniciou o seu processo de candidatura em 2008, mas apenas foi incluída na lista em 2017. A entrada na lista também não significa uma posição garantida. Em julho de 2021, a Cidade Mercantil Marítima de Liverpool foi o terceiro local do mundo a ser retirado da lista de Património Mundial, devido ao “desenvolvimento da Cidade Mercantil ter resultado em perdas irreversíveis a atributos de valor do local”. Em 2004, quando Liverpool foi nomeada Património Mundial da Humanidade, ainda não tinha sido construído o seu maior centro comercial nem o estádio multimilionário Goodison Park. Uma década depois, estas duas construções foram a principal causa do seu desenvolvimento excessivo.

Destaque cultural é destaque económico

Apesar dos patrimónios chineses não estarem em risco de serem excluídos, existem vários locais onde o “património é realçado, mas não protegido”, como por exemplo a cidade antiga de Ping Yao, em Shanxi, e a cidade antiga de Lijiang, em Yunnan, que têm vindo a ser transformadas em locais turísticos e comerciais, sem as suas características locais e históricas. Este é um fenómeno comum em várias partes do mundo, onde os projetos de conservação de património mundial são usados como oportunidades de crescimento económico local.

Leia também: Unesco anuncia 9 novos patrimónios culturais imateriais da humanidade

Os exemplos acima referidos refletem a dificuldade de vários países em encontrar um equilíbrio entre proteção da herança cultural e desenvolvimento económico contínuo. O crescente número de visitantes associado ao título de Património Mundial representa não só uma maior pressão financeira na preservação destes monumentos, como
impacta ainda a vida dos residentes locais. Por isso é uma área de importante consideração para as autoridades locais.

A entrada para a lista da UNESCO não se deve basear no desenvolvimento económico local – este propósito vai contra o objetivo original da lista de “salvaguardar o património mundial de toda a humanidade”. Espera-se, por isso, que estes governos tirem partido de todos os recursos científicos, técnicos, humanos e materiais que possuem, e que estabeleçam medidas administrativas e regulamentares. Ao mesmo tempo, deve-se sensibilizar a população para o valor da proteção destes patrimónios naturais e culturais, para que possam ser experienciados pelas próximas gerações.

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!