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Multinacional portuguesa quer colocar Cabinda no mapa mundial do cacau

O GRUPO PORTUGUÊS MOTA-ENGIL VAI INVESTIR MAIS DE 20 MILHÕES DE DÓLARES NUM PROJETO AGRÍCOLA EM 16 MIL HECTARES DE TERRENO EM CABINDA. O PROJETO, DESIGNADO MAMALAND, PREVÊ A COMERCIALIZAÇÃO DE 15.300 TONELADAS DE CACAU EM 2030, COM O MÍNIMO DE IMPACTO AMBIENTAL POSSÍVEL 

A Mota-Engil está a apostar na agricultura em Angola, desenvolvendo um projeto sustentável de produção de cacau em Cabinda, com o qual ambiciona levar aquela província angolana aos lugares cimeiros da rota mundial do cacau. 

João Magalhães, o responsável do projeto desenvolvido pela Mamaland, fala com entusiasmo desta “semente” que está a ser plantada em Cabinda, enquanto atravessa o que será o futuro campo clonal e as fazendas que irão receber o cacau num total de seis mil hectares. E explica como a Mamaland, conceito que a Mota-Engil desenvolveu e que privilegia a sustentabilidade e as populações, pretende gerar rendimento a nível local, com um mínimo de impacto para o ambiente. 

“Para a Mamaland, a prosperidade é fundamental e tem de ser partilhada por todos, por isso queremos envolver as populações locais neste projeto que liga planeta, pessoas e prosperidade”, disse à Lusa durante a visita. O projeto, que está a ser desenvolvido na mesma província que viu nascer a então Mota e Companhia, em 1946, é também um regresso às origens agroflorestais da empresa que se tornou, entretanto, a maior construtora portuguesa em África.

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Ainda em fase inicial, os primeiros pés de cacau serão plantados no Centro de Desenvolvimento Clonal do Cacau, em Chiela, usando o material genético local numa versão melhorada por Ricardo Souza, especialista em cacau e diretor técnico do projeto. 

“Vamos usar plantas de cacau autóctones, já aclimatadas, nas quais vamos enxertar material genético melhorado. Estamos a tentar localizar o que será melhor para aperfeiçoar o já existente, permitindo obter melhor rendimento”, explica, adiantando que a busca pela variedade ideal vai passar, em breve, por São Tomé e Príncipe. Como o cacau demora cerca de três anos até atingir a primeira produção e cerca de 20 a 30 anos para ser melhorado, a ciência ajudou a produção agrícola a evoluir para uma agricultura de alta precisão, permitindo aumentar a produtividade do cacau, minimizando o impacto sobre o ambiente. 

“Poupamos dinheiro e recursos”, diz João Magalhães, adiantando que estão também a fechar contratos com ‘start ups’ que vão apoiar a previsão meteorológica e o uso eficiente da água no projeto, que conta com um investimento de 20 milhões de dólares (18,6 milhões de euros). 

Ao todo, está prevista a plantação de quase sete milhões de pés de cacau, de forma faseada, distribuídos por 6.000 hectares de sistemas agroflorestais. O projeto está dividido em quatro fases e em cada ano deverão ser plantados 1500 hectares, com 1.160.000 pés de cacau divididos em três partes de 387.000 plantas cada, adianta Ricardo Souza. 

Uma plantação que diz ser “pioneira no mundo”, já que, normalmente, as fazendas de cacau são de pequena dimensão. Prevê-se que o pico de produção seja atingido em cinco anos, com um incremento de 20 por cento a cada colheita 

“O facto de se usar material melhorado permite que o cacau seja produzido durante todo o ano. De três em três semanas teremos colheita”, salienta o especialista. Costa do Marfim e Gana são, por agora, os maiores produtores africanos de cacau, mas João Magalhães ambiciona ver Angola entrar na lista. “Queremos pôr Cabinda no mapa do cacau e mostrar às populações que o petróleo não é a sua única riqueza. Queremos aprender com os mais velhos, mas também trazer-lhes ciência”, disse à Lusa o responsável da Mamaland. 

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Para já, o negócio principal será o cacau, mas o campo clonal irá receber mais experiências da Mamaland. “Chiela terá um projeto piloto de tudo o que e se pretende fazer nas outras fazendas”, que somam um total de 16.000 hectares, adianta João Magalhães. 

É aqui que serão ensaiadas as culturas a desenvolver no futuro e para as quais a empresa está também a recolher material genético nas aldeias. 

“Queremos recolher material biológico e genético para perceber o aproveitamento que pode ter toda esta biodiversidade. Podemos ter plantas medicinais, quem sabe superalimentos. O que não queremos é atividades que entrem em conflito com o ambiente”, sublinha João Magalhães. Os primeiros ensaios serão feitos com cacau, banana, coco e mogno, para fazer aproveitamento da área e gerar renda, mas poderão ser acolhidas quaisquer culturas da região. As bananeiras servirão para fazer o sombreamento inicial das plantas de cacau, que será assegurado mais tarde, à medida que a planta cresce, pelos coqueiros. Os pés de cacau, já aperfeiçoados, serão depois replantados nas fazendas da Mota-Engil, quase todas situadas junto ao rio Chiluango, o principal rio de Cabinda. 

João Magalhães insiste nos benefícios para as populações locais, a quem estão a ser ensinados métodos de cultivo mais produtivos e até novas técnicas de construção das tradicionais casas em adobe, e prevê que no pico de produção, daqui a cinco anos, tenham sido recrutados e formados até 1.200 trabalhadores. 

“A ideia é contratar as pessoas localmente, e não impedi-las de fazer a sua lavra. As pessoas estão nas aldeias e vão continuar a estar e a circular”, garante. Quanto ao destino das cerca de 15.000 toneladas que se espera produzir já em 2030, não está definido para já. 

“Vamos ver como vamos usar”, afirma, indicando que o cacau pode vir a ser comercializado em cápsulas, amêndoas ou sob a forma de pasta. Poderá até vir a ser produzido chocolate ou criados subprodutos. Como João Magalhães realçou ao longo da visita, o projeto Mamaland é como uma semente num livro em branco. 

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