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Guerra na Ucrânia: Putin, o desmantelamento da URSS e a NATO

Gonçalo Lopes

24 de fevereiro de 2022 vai ficar na história da humanidade. Foi o dia em que Vladimir Putin, Presidente russo, declarou guerra e invadiu a Ucrânia. Para entender esta decisão há que recuar até 1992, aquando da dissolução da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ou simplesmente União Soviética). Nesse ano, países como a Rússia e a Ucrânia tornaram-se independentes. Putin nunca aceitou o desmantelamento da União Soviética, tendo mesmo considerado o fenómeno como “a maior catástrofe geopolítica do século”

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“Para o povo russo, isto tornou-se num drama. Dezenas de milhões dos nossos cidadãos e companheiros russos viram-se fora da Federação Russa. Contamos que os novos membros da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da União Europeia que faziam parte do espaço soviético mostrem respeito e compromisso com os direitos humanos, incluindo os das minorias nacionais”, afirmou.

São discursos como este que provam que o desmantelamento nunca foi ultrapassado pelo líder russo. E o sonho deste, dizem os especialistas, é que um dia a Rússia possa incorporar o maior número de países que abandonaram a URSS em 1992, como foi o caso da Ucrânia. No poder há 22 anos, com um interregno de três (entre 2009 e 2012), há muito que Putin defende que a Ucrânia e a Rússia “são um só povo”.

O clima de maior tensão entre os dois países começou no final de 2013, quando uma onda de manifestações (denominada primavera ucraniana) em Kiev levou à queda do então presidente Viktor Yanukovytch, bastante conotado com as ideologias de Putin e que tinha acabado de recusar assinar um protocolo de associação com a União Europeia. Em 2014, e como resposta, a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia, no Mar Negro.

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Incitou ainda uma rebelião no leste da Ucrânia, na região de Donbass, com Luhansk e Donetsk a autoproclamarem-se independentes. Esta zona do país há muito que se identificava mais com a Rússia, embora a Ucrânia nunca tivesse reconhecido a sua independência. Um ano depois, ambos os países acordaram um cessar-fogo, mas a verdade é que a instabilidade nesta região ucraniana manteve-se até aos dias de hoje. Aliás, a declaração de guerra russa surgiu pouco tempo depois de Vladimir Putin acusar o Governo ucraniano de estar a levar a cabo “um genocídio” contra o povo de Donbass.

Destas palavras à ação não demorou muito. A 21 de fevereiro, Putin reconheceu a independência de Luhansk e Donetsk. No dia seguinte aprovou o envio de forças militares para as zonas separatistas e a 24 de fevereiro assumiu então a declaração de guerra com a Ucrânia. “Vemos que as forças que levaram a cabo um golpe de estado na Ucrânia em 2014, tomaram o poder e estão a detê-lo com a ajuda de procedimentos eleitorais decorativos, tendo abandonado finalmente a resolução pacífica do conflito. Durante oito anos, uns infinitos longos oito anos, fizemos todos os possíveis para resolver a situação por meios pacíficos e políticos. Tudo em vão”, referiu Putin.

A IMPORTÂNCIA DA NATO

Se Vladimir Putin declarou guerra à Ucrânia alegando como principal motivo o “genocídio” do povo da região de Donbass, a verdade, de acordo com especialistas, é que esta posição muito se deve ao facto de o presidente russo nunca ter aceite o desmantelamento da URSS. Mas não só. A NATO é também um grande fator por detrás da decisão de Putin.

Após 1992, a NATO começou a avançar para Leste e a abarcar vários países que faziam parte da antiga URSS. Esta expansão nunca foi bem vista por Moscovo. Vladimir Putin chegou mesmo a dizer que era uma quebra de uma promessa feita no final da Guerra Fria, quando, alegadamente, os Estados Unidos da América teriam prometido que a NATO não se iria expandir para esta zona da Europa. Se para Putin a questão do fim da URSS era já um osso duro de roer, a aproximação da NATO literalmente à fronteira com a Rússia foi a gota de água.

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A aliança transatlântica reconheceu no ano passado a Bósnia- Herzegóvina, a Geórgia e a Ucrânia como aspirantes a membros. Se a anexação da Crimeia foi seguida por uma aproximação da Ucrânia à União Europeia, pouco mudou agora com a invasão por parte da Rússia. O líder do Kremlin chegou mesmo a referir que a aproximação da NATO à Ucrânia era vista como uma “ameaça existencial” e um “ato hostil” por parte do ocidente. Putin exigiu até garantias de que o país do leste da Europa não seria admitido na aliança, até porque isto permitiria a instalação de bases militares por parte dos Estados Unidos da América a pouco mais de 500 quilómetros de Moscovo. Aquando da declaração de guerra à Ucrânia, Putin não se esqueceu da NATO.

“Durante 30 anos tentámos persistente e pacientemente chegar a um acordo com os principais países da NATO. Em resposta às nossas propostas, enfrentámos constantemente ou enganos e mentiras cínicas, ou tentativas de pressão e chantagem. A máquina militar está em movimento e a aproximar-se das nossas fronteiras”, refere o documento. As próprias ações do Governo de Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, sobre a vontade de entrar para a NATO e aproximar-se ainda mais da União Europeia nunca caíram bem junto do seu homólogo de Moscovo. A escalada de tensão cresceu no último ano, tendo Zelensky referido que a Rússia “não pode impedir a Ucrânia de se aproximar da NATO e não tem o direito de opinar em temas relevantes”.

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