A formação de competências culturais foi sempre parte fulcral da educação. No “Planeamento a Médio e Longo Prazo do Ensino Não Superior (2021-2030)” a Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude menciona que o seu principal foco é “cultivar o sentimento do amor pela Pátria e por Macau e a visão internacional”, incluindo “adquirir as capacidades de compreensão e tolerância intercultural, assim como de comunicação e cooperação, entre outras, e fortalecer o desenvolvimento da competência de uso do Mandarim, do Português e do Inglês”.
Assim, será possível elevar a competitividade dos alunos de Macau e preparar os cidadãos de uma nova era. O desenvolvimento da compreensão intercultural não só auxilia na comunicação e interação com membros de outra cultura, como promove ainda a tolerância e empatia, parte essencial da construção de uma sociedade inclusiva.
O QUE É COMPETÊNCIA CULTURAL?
O que nos vem à cabeça quando ouvimos a palavra “cultura”? Talvez a maioria pense em algo visível ou tangível, como comida, roupa, música, língua, entre outros. Tudo isto faz claramente parte da “cultura”, mas grande parte é feita de coisas invisíveis e subtis. A “cultura” inclui valores, crenças e tradições que nos são ensinados pela nossa comunidade, são os comportamentos e métodos que aprendemos com eles.
A nossa cultura é um conjunto de regras subentendidas que ditam a forma como nos comportamos, através de crenças e valores. É a forma como uma comunidade concretiza os seus valores para sobreviver. Uma pessoa com competências culturais ou multiculturais será capaz de compreender outros indivíduos de outros contextos, comunicando e interagindo com os mesmos de uma forma eficaz.
Membros da sociedade com competências culturais estão cientes dos comportamentos de pessoas de outra cultura (capacidade de observação), analisam os diferentes valores destas e aceitam as suas diferenças (compreendem o multiculturalismo).
Conhecem tanto a sua cultura como outras existentes no mundo (informados) e usam a linguagem e outras formas de comunicação entre as mesmas (com as capacidades linguísticas necessárias para tal).
Partilhamos valores, incluindo honestidade, igualdade e integridade, com várias partes do mundo. Contudo, a forma como os interpretamos e respeitamos durante o dia-a-dia pode variar consideravelmente. A forma como vemos as coisas também é influenciada pela nossa cultura e identidade.
A nossa abertura para compreender a perspetiva do outro e ultrapassar as diferenças existentes varia conforme a nossa competência cultural.
Quanto mais forte for esta nossa competência, maior será a nossa disposição para fazer perguntas em vez de julgar a cultura do outro e interpretá-la com base na nossa visão e perspetiva sobre o mundo. Por esta razão é que a competência cultural é tão importante na promoção da inclusão.
COMO DESENVOLVER COMPETÊNCIAS CULTURAIS?
A competência cultural não é algo inato e precisa de ser desenvolvida. A forma como se aborda esta competência gira em torno dos três “E’s” – Exposição, Experiência e Educação. Quanto maior for o contacto com membros de outras culturas, mais fácil será o desenvolvimento de capacidade de comunicação intercultural. Para estudantes de línguas estrangeiras este é um conceito fácil de compreender.
A razão pela qual por vezes não conseguimos comunicar com estrangeiros, mesmo após anos de dedicação à aprendizagem de uma língua, deve-se ao facto de não ter existido prática da língua num contexto real. Com mais contacto esta experiência pode ser gradualmente transformada em competência.
Todavia, é importante notar que mesmo em casos de contacto constante com membros de diferentes culturas, algumas pessoas podem não desenvolver uma compreensão aprofundada das suas diferenças e semelhanças culturais. É aqui que entra o terceiro ponto, a educação. Esta educação pode acontecer através de formação no local de trabalho, pesquisa, visitas a museus, leitura, entre outros. Aqueles que não possuem contacto frequente com outras culturas conseguem também desenvolver a sua competência cultural através da educação.
A LECPA (Associação de Intercâmbio Linguístico e Promoção Cultural) organiza eventos frequentes à volta destes “Três E’s”, incluindo reuniões entre membros de várias culturas para diálogos interculturais e desenvolvimento de capacidades de língua estrangeira. A associação desenvolve esta competência dos nossos cidadãos tanto através de atividades culturais como das redes sociais, contribuindo assim para a criação de uma sociedade inclusiva.
*presidente da Associação de Intercâmbio Linguístico e Promoção Cultural (LECPA)