Com um prato de tofu a fumegar, Zhang Zhiju apresenta as iguarias da sua terra com a maior naturalidade à frente de uma câmara. “Todos os dias faço pequenos vídeos, às vezes sobre especialidades da minha terra, outras vezes sobre o meu quotidiano.
Através destas películas recebo mais de 60 encomendas online todos os dias e perto de cinco mil yuan”, conta a jovem de 28 anos, cujo número de vendas começa a crescer com o aproximar do Ano Novo Chinês.
Em 2018, Zhang Zhiju criou a Cooperativa de Agricultores Profissionais de Zhiju e começou a fazer diversos vídeos curtos para promover os produtos da sua terra-natal. Os vegetais naturais do seu quintal, as ovelhas despreocupadas a comer a erva das montanhas e os grãos de soja a secar são “presença” regular nos vídeos de Zhiju.
“Os vídeos curtos, com menos de um minuto, são uma representação realista da origem e do processo de preparação dos nossos produtos locais. Através destes vídeos já alcançámos mais de 20 mil seguidores. Além de vendermos os nossos produtos para todo o país, as pessoas conseguem ficar a conhecer-nos melhor”, revela, acrescentando também que no ano passado a sua cooperativa registou vendas no valor de 1 milhão de yuan.
Com a crescente popularidade destes vídeos curtos na China, há cada vez mais cidadãos comuns como Zhang Zhiju a serem autênticos criadores de conteúdo. Desta maneira, conseguem criar novas oportunidades para si próprios.
A AskCI Consulting Co. revelou que há 880 milhões de criadores de vídeos curtos na China, com este número a mostrar sinais de crescimento.
Segundo a CSM Media Research, quase 42,8 por cento dos utilizadores têm começado a publicar as suas próprias filmagens, sendo que 68,5 por cento do conteúdo relata aspetos da vida diária de cada um.
Nesta era de “vídeos curtos para todos” existem não só jovens criadores de conteúdos, mas alguns de cabelos brancos que também têm sucesso. Estes encontram nesta forma de expressão audivisual, um sentimento de pertença que há muito lhes faltava.
Até abril do ano passado, mais de 600 milhões de clipes tinham sido publicados na plataforma Douyin, de acordo com uma sondagem conduzida pelo Centro de Investigação sobre Desenvolvimento e População da China em conjunto com o Douyin (TikTok China) em agosto de 2021. Estes vídeos foram criados por utilizadores com 60 ou mais anos de idade, recebendo um total de 40 mil milhões de gostos. Um dos muitos exemplos desta nova moda é Niu Qiang.
Qiang tem 57 anos de idade e cria vídeos sobre gastronomia com a sua filha, tendo já mais de 1,3 milhões de seguidores em apenas seis meses. “Começámos a filmar para registar as nossas vidas e relembrarmos o passado, mas estamos imensamente felizes que tantas pessoas online estejam a gostar de nos ver”, comenta.
Niu Qiang refere também que existem muitos idosos isolados em zonas rurais e estes vídeos podem ajudá-los a conhecer o resto do mundo. “À medida que registamos o nosso dia-a-dia, desejamos que as pessoas que nos veem fiquem a conhecer um novo lado das zonas rurais, podendo presenciar o desenvolvimento destas regiões”, especifica.
Com o crescimento desta nova tendência, a China tem procurado otimizar as diversas regulamentações para garantir um desenvolvimento positivo e saudável das indústrias de pequenos clipes e de transmissões online em direto.
A China Netcasting Services Association publicou algumas normas de revisão de conteúdo para vídeos curtos online, procurando definir mais concretamente o controlo sobre títulos utilizados, comentários, nomes e emojis. Xu Hua, professor na Escola de Ciência Política e Social da Universidade de Anhui, partilha que a popularidade destes clipes se deve à sua fácil criação e devido à proliferação do uso de smartphones.
O sentimento de interação, valor e conquista também contribuem para a sua popularidade. Por outro lado, em termos de medidas de reforço à sua regularização, o académico acredita que é necessário aperfeiçoar as regulamentações para este tipo de indústria em ascensão.