Zhang Jianping é subdiretor da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Económica do Ministério do Comércio da China, tendo já coordenado mais de 60 projetos e prestado serviços de consultoria para instituições como as Nações Unidas e Banco Mundial.
Especialista na área comercial, foi convidado para discursar sobre “Estratégias para o Desenvolvimento Diversificado da Área da Grande Baía” no Fórum do MGS Entertainment Show 2019. O responsável fala sobre as oportunidades que o desenvolvimento da iniciativa “Uma Faixa Uma Rota” e a Área da Grande Baía trazem a Macau.
– Partilhou algumas das vantagens da Área da Grande Baía no discurso. No entanto, uma das características que torna esta região especial é a existência de três sistemas políticos e jurídicos diferentes. O que está a acontecer em Hong Kong indica que há um longo percurso a percorrer para que as populações de Hong Kong, Macau e Guangdong consigam um entendimento mútuo e possam de senvolver-se em conjunto. Como olha para a situação?
Zhang Jianping – Tenho uma visão mais ampla. Por exemplo, na Europa, 28 países diferentes conseguiram constituir a União Europeia. Embora a Grande Baía seja constituída por três regiões diferentes, todas fazem parte do mesmo país, e por isso, desse ponto de vista, não existe nenhuma razão para afirmar que três Governos e sistemas diferentes não possam cooperar. Pelo contrário, acredito que ao longo das últimas décadas de reforma e abertura da China, podemos afirmar que se têm implementado medidas para encurtar esta distância e levar esta cooperação a um outro nível. Para tal, os dois Acordos de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Interior da China e Macau (CEPA) têm assumido um papel relevante. Estive envolvido na conceção do acordo, incluindo o estatuto e papel de Hong Kong e Macau no país. Conseguimos integrar estas cidades no plano nacional a médio e longo prazos, e fazer com que as mesmas assumam um papel relevante.
Agora estamos a implementar este sistema em várias cidades através do Plano de Construção da Área da Grande Baía, para depois construir um centro financeiro e de inovação científica através de uma interligação de infraestruturas. Estamos também a ultrapassar outros obstáculos com a evolução tecnológica. Por exemplo, em 2002 ou 2003 visitar Hong Kong era muito inconveniente, sendo sempre necessário esperar em grandes filas. Agora é muito mais simples, a tecnologia tornou o processo fronteiriço muito mais eficiente.
O conceito “Um País, Dois Sistemas” foi criado devido ao contexto e fatores históricos, e o acordo CEPA ajudou a melhorar os mecanismos de planeamento conjunto e desenvolvimento tecnológico na Área da Grande Baía. Acredito por isso que possuímos todo o conhecimento e mecanismos para ultrapassar os atuais obstáculos.
– Então acredita que se deve começar primeiro a nível económico e, ao nível político, manter o princípio “Um País, Dois Sistemas”?
Z.J. – Sim, “Um País, Dois Sistemas” e “Hong Kong e Macau governados pelas suas gentes”. E acho que estes princípios não irão mudar.
– Mencionou a União Europeia, que tem sofrido com problemas fruto de uma distribuição económica desigual. Quando falamos da Área da Grande Baía só se mencionam cidades mais desenvolvidas, mas a região também é constituída por cidades como Zhaoqing e Huizhou. Que impacto podem ter estas assimetrias no crescimento geral da Grande Baía?
Z.J. – Na verdade, o planeamento deste grupo de centros urbanos na Grande Baía irá influenciar o papel de cada uma dessas cidades. Mas, devido às diferentes dimensões e nível de desenvolvimento destas 11 cidades, os papéis serão também diferentes entre si. Na minha opinião, através de planeamento será possível otimizar o uso de recursos económicos como recursos humanos, capital e tecnologia. Todos estes fatores podem ser partilhados e alargados.
Vamos também aproveitar o alargamento de mercado criado através da iniciativa “Uma Faixa Uma Rota”. Desta forma, pequenas pérolas como Huizhou, com um PIB de apenas 30 ou 40 milhões de yuan, irão encontrar áreas e indústrias nas quais se irão destacar, e salientar assim as suas vantagens.
– Durante o discurso mencionou ainda que Macau deveria assumir o papel de plataforma entre a China e países de língua portuguesa, mas verifica-se que os dois lados não precisam da cidade para as trocas económicas e comerciais. Por exemplo, durante a recente Expo de Importação Internacional da China, várias empresas brasileiras foram destacadas, sem qualquer ligação a Macau. Pode elaborar melhor as razões e vantagens que tornam a cidade de Macau numa plataforma imprescindível?
Z.J. – Acho que não há motivo de preocupação, mas ainda há muito por explorar. Portugal é uma economia desenvolvida, e o Brasil é parceiro da China através do grupo BRICS. Ultimamente a procura por pessoas com conhecimentos de português e espanhol é até superior à de pessoas que falam inglês. Como no passado não houve grande formação nessas línguas, existe grande procura. O próximo passo será, devido ao desenvolvimento da indústria turística de Macau, criar uma ligação forte desta indústria às áreas da cultura e de entretenimento. Ao longo desse processo, no que diz respeito à necessidade de falantes de português e à ligação a vários países de língua portuguesa, Macau poderá aproveitar cada vez mais oportunidades comerciais. Analisando, por exemplo, Brasil e Portugal, estes dois países atualmente dão grande importância ao mercado chinês. Se quiserem vir cá participar em atividades culturais, desportivas, comerciais, de investimento, entre outras, Macau poderá lentamente fazer valer as suas vantagens. A cidade tem de ser mais proativa. No passado, graças ao sucesso da indústria do jogo não havia grande necessidade de assumir uma atitude mais assertiva, mas lentamente, com o crescimento, a população de Macau irá naturalmente diversificar-se. Acredito que existem gostos para tudo, e por isso haverá com certeza alguém interessado nestas indústrias.