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Mãe morta, irmãos separados, mais uma família desfeita pelos ataques em Palma

Dois irmãos, um com três anos e outro com apenas dois meses, perderam a mãe na fuga de Palma, vila atacada há um mês no norte de Moçambique.

Hoje, ninguém sabe quando ou sequer se se voltaram a ver.

Um mês depois da violência irromper na vila, os dos irmãos acabaram separados, sobrevivem em diferentes famílias de acolhimento, cada qual na sua província, num retrato recorrente de famílias desfeitas entre os 714.000 deslocados da violência armada no norte de Moçambique.

A mãe “já não estava bem” na hora em que foi preciso correr para salvar a vida, durante o ataque a Palma, relata Domingos Samuel, pai das crianças e viúvo de Merina Ernesto.

A fuga a pé, pelo mato, sem comida e só com a roupa do corpo, prenunciava a separação da família: “saímos de Palma para Nangade”, a cerca de 100 quilómetros, e depois “até Mueda”, outros 70 quilómetros de caminhada com os dois filhos.

A mulher “tinha feridas nos pés”, tossia, dava sinais de fraqueza que aumentaram ao longo dos oito dias pelo mato, “com a criança [mais nova] a mamar sujidade”, relata o pai, que hoje se vê sem meios para garantir a sua própria sobrevivência.

Acabariam por chegar a Pemba, onde Merina foi admitida no hospital, mas viria a falecer no sábado, dia 16 de abril.

A caminhada que a devia salvar, acabou por matá-la, sintetiza Saíde Mapeta, outro deslocado de Palma que ajudou o casal em Mueda e cuja família, agora em Pemba, cuida do menor de dois meses.

Segundo refere, a outra criança de três anos foi entregue ao cuidado de uma família conhecida, em Nampula, capital da província com o mesmo nome, 400 quilómetros a sul.

Apesar de terem sido salvas e acolhidas, as famílias que recebem as crianças têm poucos recursos e dependem de ajudas.

“A criança [bebé de dois meses] vai ficar connosco, mas é preciso caminharmos a um sítio onde possamos pedir socorro para sustentar o bebé”, descreve Mapeta.

A Cáritas Diocesana de Pemba é uma das entidades que entrega leite em pó a crianças órfãs e vulneráveis entre os deslocados da violência armada.

“Vamos suportar esse bebé até aos dois anos”, descreve Manuel Nota, coordenador da Cáritas em Cabo Delgado.

Nalguns casos o leite tem sido consumido também por adultos, dada a escassez de apoios, refere, aumentando a pressão sobre as organizações humanitárias.

A Organização Internacional das Migrações (OIM) já registou 315 crianças desacompanhadas, que fugiram e perderam a família, chegando sozinhas a locais seguros de outros distritos.

Ao cabo de um mês após o ataque a Palma, a Organização Internacional das Migrações (OIM) contabiliza cerca de 24.500 deslocados daquela vila registados noutros distritos – além de 11.000 a 20.000 que permanecem refugiados junto ao recinto do projeto de gás (agora suspenso) e na nova aldeia de Quitunda, adjacente às instalações.

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