Início Eleitos Cuidemos uns dos outros, mas e quem está a cuidar do país?

Cuidemos uns dos outros, mas e quem está a cuidar do país?

Inês de Sousa RealInês de Sousa Real*

Há quase um ano, fomos confrontados com o desconhecido: um novo vírus, uma crise sanitária sem precedentes na contemporaneidade, mudanças drásticas nas dinâmicas sociais, individuais e comunitárias, desde o trabalho, ao acesso a bens e serviços, às dinâmicas de apoio e cuidado interpessoal, cuja  adaptação foi – aliás, está a ser – drástica e dolorosa.

E se há um ano não sabíamos o que esperar quanto ao futuro da crise pandémica, neste momento o início da vacinação a nível mundial permite-nos ver uma luz ao fundo do túnel. No entanto, não podemos descurar que continuamos a ter de nos proteger, a nós e a quem nos rodeia, com o uso de máscara, com distanciamento social, com a devida higienização das mãos e etiqueta respiratória.

Mas para além da responsabilidade individual, impõe-se saber: quem cuida afinal do país? Para mais quando temos assistido a tanta informação contraditória – que em nada ajuda a que as pessoas percebam o comportamento que devem adotar- e a processos decisórios ora pouco assertivos, ora pouco eficazes, entre outras fragilidades que têm marcado a gestão desta crise.

Passados 11 meses, é incompreensível que continuemos a ouvir o Governo dizer que nos estamos a adaptar a um vírus que não conhecemos ou a nem sempre fazer o trabalho de casa.

Precisamos de cuidar uns dos outros, mas precisamos também de um Estado que cuide do país, que cuide de quem precisa

Se infelizmente não fomos a tempo de evitar o elevado número de contágio e de mortes, felizmente hoje contamos já com um conjunto de conhecimento e informação que poderia – e deveria- ter contribuído para  prevenir o estado em que o país se encontra neste momento.

E quando a atuação do Governo tem sido em larga medida  reativa, onde fica então a tão necessária prevenção?

Desperdiçou-se uma oportunidade única nos meses de verão de nos prepararmos para o que aí vinha. Fosse antecipando as necessidades do SNS, por via da formação de profissionais de saúde que pudessem colaborar na prestação destes cuidados de saúde específicos e contratando os recursos humanos necessários para aumentar a capacidade de resposta do SNS. Mas nada foi feito e os dados, que mostravam já em Setembro e Outubro sinais de crescimento, foram desvalorizados.

O número elevadíssimo de casos que enfrenta hoje o nosso país poderia ter sido mitigado, não apenas transferindo para a responsabilidade individual, mas através de um planeamento mais adequado e de mais informação e transparência.

Perante a falta latente de recursos humanos, aos dias de hoje recebemos ajuda internacional, com profissionais de saúde vindos da Alemanha, um exemplo de solidariedade pelo qual devemos estar gratos. Mas diga-se, essa gratidão foi expressada com a mesma tibieza com que se foi passando a informação. .O  apoio da União Europeia é absolutamente fundamental, remetendo-nos para dinâmicas de solidariedade que, sim, reforçam o projeto europeu, mas a verdade é que quem governa continua sem tomar medidas para prevenir a falta de recursos humanos que Portugal continuará a ter nos próximos meses ou anos, voltando a remediar o problema com um penso rápido.

Temos hoje um plano de vacinação traz ao país alguma esperança mas que, ainda assim, apresenta bastantes irregularidades, visíveis aos olhos de todos e todas nós: prioridades de vacinação que não são respeitadas, excedentes de vacinas que não sabemos para onde vão, profissionais de linha da frente que continuam à espera da sua vez.

Neste cenário – e demais contexto que vivemos, o que precisamos? De mais prevenção, ação, transparência nos dados que nos são apresentados. Precisamos de mensagens claras. Precisamos de respostas sanitárias mas também de respostas sociais. Precisamos de cuidar uns dos outros, mas precisamos também de um Estado que cuide do país, que cuide de quem precisa.

*Líder parlamentar do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) – Portugal

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