Dezenas de milhões de habitantes de cidades africanas estão ameaçados por uma espécie de mosquito transmissor da malária nativa da Ásia e particularmente adaptada ao ambiente urbano, alertou um estudo publicado esta segunda-feira (14).
A malária é uma doença que hoje se concentra no meio rural e é causada pelo parasita Plasmodium falciparum ou Plasmodium vivax, transmitido por cerca de 40 espécies de mosquitos. Aproximadamente 400 mil pessoas morreram de malária em 2018, a maioria crianças e na África.
No continente, um dos mosquitos mais ativos é o Anopheles gambiae, apelidado de animal mais perigoso da Terra, embora ele não goste das poças de água poluída das cidades e não tenha aprendido a colocar suas larvas em reservatórios urbanos de água potável.
No estudo publicado pela revista científica norte-americana PNAS, a médica e entomologista Marianne Sinka, pesquisadora da Universidade de Oxford, mapeia a expansão de outra espécie, o Anopheles stephensi.
Nativo da Ásia, ele aprendeu a aproveitar os depósitos de água das cidades, em especial os de cimento e tijolo, nas quais ele se esgueira por pequenos buracos para depositar suas larvas. “É a única espécie que conseguiu penetrar nas áreas urbanas centrais”, disse a cientista à AFP.
O Anopheles stephensi causou um primeiro surto em 2012 em Djibouti, onde a malária mal existia, e desde então foi observado na Etiópia, Sudão e outros lugares.
Sinka usou um modelo para prever os locais na África onde o ambiente era mais apropriado para a introdução desse mosquito importado: locais com alta densidade populacional, onde faz calor e, claro, com chuva suficiente.
A pesquisa concluiu que 44 cidades são “altamente adaptadas” ao inseto e que 126 milhões de africanos estão em risco, principalmente na região equatorial. “40% das pessoas que vivem em áreas urbanas podem ficar de repente vulneráveis e contrair malária, seria muito grave”, avisa a pesquisadora.
Ao contrário dos mosquitos africanos, que preferem picar humanos à noite, quando a temperatura cai, o stephensi prefere picar à tarde, então os mosquiteiros na cama seriam menos eficazes. Para se proteger, o melhor seria instalar mosquiteiros nas janelas, borrifar as paredes com inseticida e cobrir o corpo.
Mas o fundamental mesmo é combater as larvas, portanto, eliminar a água parada, bem como fechar hermeticamente qualquer reservatório de água. Foi o que funcionou na Índia, lembra Sinka.