O país lusófono é o segundo no mundo com maior risco de choques ecológicos, logo a seguir ao Afeganistão e entre 157 Estados analisados
Moçambique é o segundo país a nível mundial com maior exposição a choques ecológicos, de acordo com uma classificação hoje divulgada e que estima que o país possa enfrentar cinco ameaças ambientais até 2050.
De acordo com o Registo de Ameaças Ecológicas, publicado pelo Institute for Economics and Peace da Austrália, Afeganistão, Moçambique e Namíbia são os três países, entre os 157 analisados, com “maior exposição a choques ecológicos”.
O Afeganistão deverá enfrentar seis ameaças ambientais e Moçambique e a Namíbia cinco até 2050, sendo classificados como países “de alto risco” de choques ecológicos e com baixos níveis de resiliência.
Moçambique é também apontado como um dos “países mais frágeis” e mais suscetíveis de entrar em colapso, juntamente com o Irão, Madagáscar, Paquistão e Quénia.
“Estes países estão globalmente estáveis agora, mas têm grande exposição a ameaças ecológicas e índices baixos ou a deteriorar-se de ‘Paz Positiva’ (que mede a resiliência), o que significa que têm maior risco de colapso no futuro”, aponta a avaliação.
Outros 16 países enfrentam pelo menos quatro ameaças ecológicas.
Moçambique inclui-se também entre os 12 países, todos da África Subsaariana, com a maior prevalência de insegurança alimentar, lista onde também se inclui Angola.
Estima-se que 65% das populações moçambicana e angolana, respetivamente 20.4 e 18 milhões de pessoas, viviam em insegurança alimentar em 2018.
O crescimento da população na África Subsaariana, que se estima seja de 2,4 milhões por ano durante as próximas três décadas, é apontada como uma das principais ameaças nesta região.
Apesar de esta estimativa representar um declínio do crescimento médio da população que a região tem registado nas últimas décadas, “ainda está para além de um nível sustentável, dado o aumento da escassez de alimentos e água na região”, segundo a avaliação.
Pelo menos 14 países irão duplicar a sua população até 2050, incluindo os lusófonos Moçambique, que deverá ver a sua população crescer de 31.26 milhões para 65.31 milhões (+100%), Angola, que passará de 32.87 para 77.42 milhões (+136%) e a Guiné Equatorial de 1,4 para 2.82 milhões (+101%).
Moçambique é também o sétimo país com maior número de deslocados devido a desastres naturais, 506 mil deslocados.
“Os impactos do rápido crescimento da população são agravados pela elevada variabilidade das condições climáticas com mais de metade dos países da região, 23 dos 43, sofrerem secas”, indica o documento.
Angola está entre os 32 países com risco médio de desastres ecológicos e enfrenta três ameaças ambientais, enquanto a Guiné Equatorial, a Guiné-Bissau e o Brasil surgem classificados como países de baixo risco de desastres ambientais com a possibilidade de enfrentarem uma ameaça ecológica nos próximos 30 anos.
Uma combinação de questões ambientais, sociais e económicas coloca um “grande desafio” para a segurança alimentar na África Subsaariana, segundo o documento, que sublinha condicionantes como “a pobreza enraizada, degradação ambiental, rápida urbanização, elevadas taxas de crescimento populacional e alterações climáticas”.
A África Subsaariana tem a maior prevalência de insegurança alimentar, que afeta globalmente 58% da população.
A maioria dos países da África Subsaariana depende da chuva para a agricultura e a alimentação, tornando a região “particularmente vulnerável” a mudanças climáticas como secas prolongadas e inundações sazonais.
O Registo de Ameaças Ecológicas (ETR, na sigla em inglês) pretende identificar os países com maior risco de ameaças ecológicas, centrando-se na escassez de recursos e catástrofes naturais e no seu impacto na vida das populações.
As ameaças ecológicas avaliadas pelo índice foram o stresse hídrico, a insegurança alimentar, secas, inundações, ciclones, subida de temperatura, subida do nível do mar e crescimento populacional.
O registo analisou também os impactos das ameaças ecológicas na pacificação dos países, bem como os níveis de resiliência na determinação da capacidade de adaptação e mitigação dos referidos riscos.