O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, manteve ontem um encontro com o bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, após o religioso ter sofrido ataques de comentadores considerados próximos ao chefe de Estado por alertar para a crise humanitária na província.
Segundo uma breve nota do chefe de Estado moçambicano, divulgada na página da rede social Facebook, o encontro entre Filipe Nyusi e Luiz Fernando Lisboa, em Pemba (capital provincial) serviu para partilhar “informações ricas”, numa altura em que a diocese local está entre as principais entidades no apoio às populações deslocadas devido à violência armada em Cabo Delgado, Norte de Moçambique.
“Foi um encontro bom, a avaliar pela rica informação partilhada, uma vez que a Igreja Católica está enraizada na província. O diálogo com todas as forças vivas da sociedade continua sendo a nossa maior aposta de governação”, refere a nota do chefe de Estado moçambicano.
Em declarações a jornalistas no final do encontro, o chefe de Estado destacou que o tema da violência armada foi um dos principais, avançando que o bispo de Pemba alertou para a necessidade do apoio psicológico às populações afetadas pela violência.
“Há um trabalho psicológico que deve ser feito para as pessoas afetadas. Alguém que vê o filho ou marido a ser decapitado ou morto precisa de um conforto”, declarou o chefe de Estado moçambicano.
Luiz Fernando Lisboa, um brasileiro, tem levantado a voz para alertar para a crise humanitária que se está a abater sobre as comunidades da província de Cabo Delgado.
As críticas de comentadores próximos ao partido no poder contra Luiz Fernando Lisboa, que chegou a ser acusado de ser um dos “financiadores dos insurgentes”, surgiram após Filipe Nyusi criticar, genericamente, “moçambicanos e estrangeiros” que têm reprovado alegados abusos das Forças de Defesa e Segurança no conflito armado, durante uma visita à província no dia 15 de agosto.
Na ocasião, Filipe Nyusi criticou “aqueles que bem protegidos levam de ânimo leve o sofrimento de quem os protege, incluindo alguns estrangeiros que livremente escolheram viver em Moçambique”.
Para algumas organizações da sociedade civil, foi este comentário do chefe de Estado moçambicano que fez com que comentadores considerados próximos do Presidente atacassem o bispo de Pemba.
Após o episódio, o Centro de Integridade Pública (CIP) lançou uma petição para contestar a “intolerância” contra figuras que denunciam o sofrimento das populações no norte do país, enquanto que o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) criticou duramente os “ataques verbais contra o bispo de Pemba”.
Na mesma semana, durante uma conversa telefónica com Luiz Fernando Lisboa, o Papa Francisco manifestou preocupação com a violência armada em Cabo Delgado, considerando que está a acompanhar a situação das populações afetadas e reiterando o seu apoio ao bispo de Pemba.
“Ele disse que está bem próximo do bispo de Pemba e de todo o povo de Cabo Delgado. E que acompanha a situação vivida na nossa província com muita preocupação e que tem rezado por nós”, disse à comunicação social Luiz Fernando Lisboa, citando parte da conversa que teve com chefe da Igreja Católica.
A violência armada na província de Cabo Delgado já causou a morte de, pelo menos, 1.059 pessoas em quase três anos, além da destruição de várias infraestruturas.
De acordo com as Nações Unidas, a violência armada levou à fuga de 250.000 pessoas de distritos afetados pela insegurança, mais a norte da província.