Coletânea de poesia lusófona contemporânea, editada pela Ipsis Verbis e organizada pelo poeta português António MR Martins, será apresentada no âmbito das comemorações do “Junho, mês de Portugal”
É amanhã, dia 24 de junho, pelas 18h (hora local) no novo espaço da Casa de Portugal – que apoia a iniciativa – na Casa de Vidro do Tap Seac que será apresentada a antologia poética lusófona “Rio das Pérolas”, editado pela Ipsis Verbis, evento ao qual o PLATAFORMA se associou desde o primeiro dia como parceiro média.
A publicação, organizada e compilada pelo poeta António MR Martins, reúne poesia de 24 autores do espectro lusófono. A obra surge da intenção do poeta português, coordenador da obra, por forma a reunir autores que tenham, de algum modo, ligações a Macau. António MR Martins participou no Festival Literário de Macau – Rota das Letras em 2017 e a vontade de publicar um livro no território ficou.
Ana Cristina Alves, António Bondoso, António Correia, António Duarte Mil-Homens, António Graça de Abreu, António José Queiroz, Carlos Morais José, Deusa d’Africa, Dora Nunes Gago, Fernanda Dias, Fernando Sales Lopes, Francisco Conduto de Pina, Gisela Casimiro, Gisele Wolkoff, Gonçalo Lobo Pinheiro, Henrique Levy, Hirondina Joshua, João Morgado, José Drummond, José Luís Outono, Natalia Borges Polesso, Sara F. Costa e Sellma Luanny foram os autores que aceitaram o convite do coordenador da obra, que também tem poemas da sua autoria.
Gisela Casimiro nasceu na Guiné-Bissau em 1984, mas vive em Portugal desde o final dos anos de 1980. É escritora e artista. Para a autora, Macau é sinónimo de relação próxima. “Macau conheceu-me primeiro e, quando lá estive, senti-me imediatamente em casa”, começou por dizer ao PLATAFORMA. “Esta antologia é uma consolidação dessa relação, que começou com as histórias apaixonantes de uma amiga de faculdade, desde os dezassete anos, sempre a falar de Macau, onde ainda hoje vive e, mais tarde, com crónicas e agora poemas que venho publicando por lá.”
Gisela, que esteve no Festival Literário de Macau em 2019, fala-nos ainda dos seus planos no imediato. “Em breve reabrirá ao público a minha primeira exposição individual, inaugurada a 7 de Março. “O que perdi em estômago, ganhei em coração”, é uma exposição de poesia visual patente na galeria O Armário, em Lisboa, sob curadoria de Ana Cristina Cachola, como parte do seu projecto “quéréla”.
Devido à pendemia de Covid-19 que assola o mundo, muitos projetos acabaram por ser adiados ou até cancelados. Esta exposição de poesia visual “engloba poesia inédita e, ainda, poesia do meu livro “Erosão” (Urutau, 2018). Este mesmo livro será publicado em mandarim pela Praia Grande Edições, com tradição de Yao Jing Ming e apoio do Instituto Camões em Portugal. Traduzi ainda um discurso de Thomas Sankara para uma antologia a lançar em breve, pela editora Falas Afrikanas”.
Dos Açores até Macau
“Os poemas que assino nesta Antologia sobram à memória de uma Macau antiga, onde o encontro com a China transformou o meu olhar sobre mundos orientais, revendo na alma a ténue luz do encontro de dois pontos cardeais. Seja este livro o louvor da poesia a diferentes culturas que, de mãos dadas e erguidas, souberam mostrar ao mundo a paz na convivência, os panos tecidos por linho e seda, os filhos nascidos de desejos ocidentais em esteiras orientais”, afirmou o escritor Henrique Levy, que viveu em Macau durante o tempo da Administração Portuguesa.
Atualmente a viver nos Açores, o autor aceitou sem pestanejar o convite endereçado por António MR Martins. “O convite para participar nesta Antologia encontrou-me numa ilha açoriana, numa casa alpendurada no sopé de um vulcão. Passaram já longos anos sobre os anos sobro o tempo em que escrevi poemas sentado numa esteira, admirando, as velas dos juncos a deslizar no rio das Pérolas. Ignorava que o futuro me propunha um longo oceano azul salpicado de nove ilhas.”
Levy, autor de diversos livros de prosa e de poesia, fala-nos dos poemas que assina na antologia. “Sobram à memória de uma Macau antiga, onde o encontro com a China transformou o meu olhar sobre mundos orientais, revendo na alma a ténue luz do encontro de dois pontos cardeais. Seja este livro o louvor da poesia a diferentes culturas que, de mãos dadas e erguidas, souberam mostrar ao mundo a paz na convivência, os panos tecidos por linho e seda, os filhos nascidos de desejos ocidentais em esteiras orientais.”
Visitar Cabo Verde, romances em mãos e espólio de Natália Correia são os projetos que Henrique Levy pretende executar assim que a Covid-19 deixar. “O futuro, para quem se dedica a escrever poemas ou ficção é sempre um tempo presente, alcançado pela aproximação das horas a madrugadas inspiradoras. Entre mãos, tenho um livro de poemas a aguardar publicação. Dois romances a serem terminados. O projeto de um outro. A edição de um livro, esquecido, de uma poetisa açoriana cujo valor o tempo e a misoginia fizeram esquecer. Uma antologia ainda em segredo. Voltar a dedicar-me ao espólio de Natália Correia quando o Arquivo Histórico de Ponta Delgada voltar a abrir. Visitar Cabo Verde, meu segundo país, logo que possível. Ahh, e adoptar mais um gato para juntar aos nove que já temos.”
A deusa do Xai-Xai
Depois da Guiné-Bissau e de Portugal, vamos até Moçambique onde a poeta Deusa d’África nasceu em 1988, em Xai-Xai, capital da província de Gaza. Numa altura em que o país atravessa um grave conflito na província de Cabo Delgado, Deusa d’África fala no prazer que é participar nesta obra. “É uma honra fazer parte de uma colectânea editada em Macau, primeiro pelo facto de ser composta por participantes que já estiveram em Macau e depois pelo encanto que a cidade oferece a qualquer um que por lá passa, tanto que, falar de Macau é falar da luz e da nitidez das coisas. Quem não quer caminhar diante da luz?”, questiona.
Deusa d’Africa, pseudónimo com que a autora se assume como sujeito e que enaltece de imediato a forma transcendente de uma presença feminina agradece ao coordenador da obra a possibilidade de poder fazer parte desta obra. “É prazeroso participar numa antologia organizada pelo poeta António MR Martins. É um escritor bastante proativo e que muito contribui para a literatura portuguesa”.
A autora moçambicana está a preparar mais dois livros de poesia. “‘Cães na Estrada e Poetas na Morgue’, sozinha, e juntamente com o escritor Dom Midó das Dores, ‘Metamiserismo, uma nova escola literária’. A médio prazo pretendo terminar um romance que escrevo desde 2012 intitulado ‘Uma Onça numa cidade'”.
“Rio das Pérolas” tem prefácio da professora Ana Paula Dias e design de capa da autoria do artista de Macau Eric Fok. O livro será publicado apenas em português e conta com uma tiragem de 300 exemplares. Nos diversos autores e na diversidade dos seus estilos poéticos, Macau, além da exterioridade concreta do espaço, é o lugar escolhido para interrogarem a legibilidade do mundo, as permanências, as errâncias, as contingências e as transformações que a vida acarreta”, escreve Ana Paula Dias.