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A Reinvenção de Macau

Macau é metamorfose. Outrora pequeno entreposto mercantil, mais tarde centro de interesses dos portugueses na Ásia, tornou-se também ponto nevrálgico de chegada e partida de missionários de várias nacionalidades, de homens de negócios e de cultura que por aqui estiveram, passaram e que deixaram legado neste exíguo espaço.

Nas últimas duas décadas Macau reconquistou um lugar proeminente no plano mundial. Sacudiu uma certa secundarização para a qual foi convergindo em momentos diferentes da história, em benefício de outras cidades regionais, como Guangzhou, Hong Kong ou Shenzhen. Conseguiu afirmar-se como a capital mundial do jogo, atraindo investimentos multimilionários. Conseguiu o mais difícil. Alterar o paradigma atingindo um posicionamento claro, uma situação económica invejável, com contas públicas superavitárias e uma base populacional pequena, o que lhe permite criar bases sólidas para uma estratégia de desenvolvimento moderna e sustentável.

Infelizmente, Macau acomodou-se ao jackpot que lhe saiu e até agora não deu verdadeiras mostras de estar à altura das oportunidades que esta bonança lhe trouxe. Têm sido “tempos de cigarra”, de aproveitar tanta prosperidade. Agora está na hora de imitar a formiguinha e preparar o inverno, porque atrás dos tempos vêm outros tempos…

O Governo Central já enunciou as linhas gerais – face à atual guerra comercial com os EUA, os detalhes só serão anunciados mais tarde – mas cada um vai ter de fazer o seu trabalho de casa, sob pena de ficar para trás. Alea jacta est! O plano para a Grande Baía está lançado – Integrar Hong Kong e Macau com 9 cidades da Província de Cantão criando um cluster metropolitano de classe mundial capaz de competir, e liderar, em áreas de ponta como Inovação, Indústria moderna, Finanças, Logística e Trade.
Cada cidade vai ter de criar, ou consolidar, as suas vantagens competitivas para poder ter um papel próprio relevante. Há, portanto, um modelo de competição regional que a integração e mobilidade vão potenciar. Será desta tensão entre competição, cooperação e complementaridade que esta visão poderá materializar-se plenamente.
Para Macau marcar o seu espaço próprio, e ir além daquilo que já é hoje no Gaming & Entertainment, são três os vetores fundamentais a desenvolver – diversificação, diferenciação e conetividade.
Apesar da escapatória de Hengqin, a nossa região está à partida limitada pela sua geografia, isto é, pela falta de espaço. Seguramente que a chave da diversificação em relação à indústria do jogo e entretenimento assenta numa economia de serviços de excelência, o que exige quadros competentes e tecnologias de informação modernas.
A diferenciação face às outras cidades da Grande Baía, passa essencialmente por compreender em que é que Macau é bom e como pode ser ainda melhor. Enquanto Região Administrativa Especial, Macau tem um ponto de partida muito vantajoso face a outras cidades da Grande Baía. Acresce que Macau tem um passado multicultural. Esse património deve ser alavancado como eixo de desenvolvimento, nomeadamente na educação, nas artes e no turismo. Os Países de Língua Portuguesa são, genericamente, débeis do ponto de vista dos modelos de desenvolvimento económico – o que em si até constitui uma oportunidade – mas a cultura desses países é forte e rica e, se devidamente aproveitada, é um recurso inesgotável que distingue Macau e pode agregar valor.
Importa também aceitar e procurar beneficiar da expertise financeira de Hong Kong, da inovação tecnológica de Shenzhen e da rede logística e comercial de Guangzhou, por exemplo. Não faz sentido competir com gigantes em áreas onde não temos condições de fazer a diferença.
Para Macau ser uma plataforma de facto tem de trabalhar em rede e estar ligada de forma efetiva a montante, i.e. às cidades Chinesas envolventes, e a jusante aos Países de Língua Portuguesa. Essas sinapses constroem-se, são únicas, difíceis de imitar e por isso mesmo são valiosas. Fazem-se com planos de ação claros, com pessoas com as competências certas, com organizações bem lideradas, com investimento em tecnologia, com capacidade de atracão de investimento externo, com o compromisso do sector financeiro e empresarial e com muito empenho e visão politica.
É que, na realidade, na visão de Xi Jinping há uma faixa e… várias rotas. E se Macau quer estar na rota do futuro estratégico da China, tem de fazer jus à sua história e tem, novamente, de se reinventar.

João Rato* 07.09.2018

*Gestor

 

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