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Juros em alta

Os rendimentos das instituições de crédito locais continuam a expandir-se a dois dígitos, ainda que os ganhos com juros estejam em queda e cresça o crédito malparado. A Autoridade Monetária diz que o sector está sólido.

O sistema financeiro de Macau está firme como uma rocha, afirma a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) no último relatório sobre a estabilidade do sector publicado com a entrada no Novo Ano Lunar. A retoma do crescimento no final de 2016, uma volumosa almofada fiscal, a estabilidade da indexação ao dólar e uma banca que continua a apresentar resultados a dois dígitos, contrariamente a outros sectores de atividade, compõem o retrato da estabilidade desejada pelo supervisor, que não assinala riscos em 2017.

Apesar de uma redução das margens nas operações de crédito e de uma subida significativa nos volumes de crédito malparado durante o ano passado, os bancos locais apresentam uma saúde robusta apoiada em anos de crescimento constante na sua atividade e em rácios de solvabilidade bastante acima dos requisitos legais. O ano de 2016, que deverá ter contas fechadas ainda sob o signo da contração para a generalidade da atividade local, conhece nos bancos ainda uma expansão importante, mesmo que não tão acelerada quanto em anos anteriores. 

Segundo a AMCM, os lucros da banca cresciam até Novembro 11,1 por cento para um valor de 13 mil milhões de patacas. Em 2015, os resultados conheceram um crescimento de 16,3 por cento, e em 2014 o aumento rondou os 30 por cento. “A rentabilidade dos bancos manteve-se satisfatória”, entende a instituição no documento de revisão semestral.

Os dados do último ano, ainda incompletos, indicam que os resultados líquidos das operações de crédito, responsáveis por perto de três quartos dos rendimentos da banca local, sofreram uma redução de 2,3 por cento para 12,4 mil milhões de patacas, num período marcado por um crescimento mais moderado dos empréstimos. Nos primeiros 11 meses deste ano, os bancos garantiram um valor de crédito total de 786,3 mil milhões de patacas, num aumento de 1,9 por cento face ao mesmo período do ano passado. O número equilibra uma descida de 2,8 por cento nos empréstimos a não-residentes com uma subida de 6,6 por cento no crédito dado a residentes.

Manteve-se a tendência de abrandamento no crédito imobiliário, com aumentos de 4,9 por cento nos empréstimos para compra de habitação particular e de 7,3 por cento nos empréstimos a construtoras e imobiliárias. A atividade imobiliária foi responsável por 44,5 por cento do crédito privado. Por outro lado, a AMCM nota uma retoma do crédito pessoal (mais 2,8 por cento) e uma retração nos empréstimos para compra de automóvel (menos 3,4 por cento).

Mas se as instituições viram encolher os ganhos com margens de juros, assistiram por outro lado a uma subida de 11,5 por cento nos resultados com taxas, comissões e ganhos financeiros, para um total de 4,3 mil milhões de patacas. O retorno sobre os ativos dos bancos manteve-se estável, em 1,1 por cento, num ano em que os fundos locais procuraram mercados de maior crescimento e qualidade de ratings, com desinvestimentos em ativos da China Continental (menos 23,9 por cento) e de Portugal (menos 33,3 por cento) e maiores alocações para destinos como Singapura e Austrália – além da predominante região vizinha de  Hong Kong. Assistiu-se igualmente a um aumento dos ativos denominados em dólares dos Estados Unidos, antecipando a valorização da divisa e novas subidas nos juros da economia americana.

Juros a subir

A perspetiva das previstas subidas de juros do dólar, que se refletem em Macau pela indexação indireta da pataca à moeda dos Estados Unidos – via Hong Kong –, é motivo para que a Autoridade Monetária recomende cautela em 2017 na tomada de crédito. A instituição prevê subida de juros no mercado local até Junho, depois de a iniciativa da Reserva Federal de avançar 0,25 pontos percentuais no custo do dinheiro, em Dezembro último, ter deixado largamente inalterados os juros cobrados ao balcão da banca – subiram apenas os custos no mercado interbancário.

“À medida que prossegue a normalização da posição monetária dos Estados Unidos, as taxas de juros do mercado de Macau poderão subir durante a primeira metade de 2017”, adverte a AMCM.

Além da redução de ganhos na exploração de crédito, a AMCM assinala outro indicador menos positivo para os bancos no ano que passou: um crescimento acentuado dos valores em crédito malparado, que no final de Novembro atingiam dois mil milhões de patacas após um crescimento de 140,4 por cento.

Os valores dos empréstimos vencidos estão muito longe dos máximos históricos dos anos de 1999 e 2000, em que as dívidas à banca por residentes vencidas ultrapassavam nove mil milhões de patacas, mas os dados dão conta de um aumento acelerado das situações de incumprimento. Ainda assim, os casos de incumprimento representam apenas 0,2 por cento do stock de crédito concedido e a Autoridade Monetária de Macau entende que o capital à disposição dos bancos lhes permitirá facilmente absorver eventuais perdas face à deterioração destes ativos.

“O crédito malparado aumentou significativamente, mas a qualidade dos ativos em termos relativos mantém-se alta face ao padrão histórico”, refere o organismo.

Os dados da AMCM indicam que os ativos dos bancos – deduzido o valor das responsabilidades – aumentaram em 22,2 por cento, atingindo 277,3 mil milhões de patacas, havendo também uma posição sólida na balança de capital. Os investimentos financeiros no exterior representam 61,5 por cento do toral, com as obrigações para com o exterior a representarem 41,2 por cento das responsabilidade das instituições locais.

Também a capacidade de responder às suas obrigações está melhorada. O rácio de adequabilidade dos capitais da banca atingia no final de Setembro 15,2 por cento, bastante acima dos 8 por cento exigidos legalmente. A AMCM afirma também que os bancos de Macau têm os níveis de liquidez desejáveis, com mais de um terço dos seus ativos empenhados em produtos com maturidades de até três meses. Estes cobrem também perto de dois terços das responsabilidades de curto prazo das instituições.

“Os indicadores de saúde financeira de todo o sistema bancário refletem a força da adequação de capital, qualidade dos ativos, rentabilidade e liquidez”, afirma o relatório da Autoridade Monetária de Macau. “Do lado dos seguros, os rácios de solvabilidade das companhias dos sectores vida e não-vida têm-se mantido bastante acima dos níveis exigido legalmente”, acrescenta também na análise. No sector dos seguros de vida, o capital disponível cobre 250 por cento das responsabilidades, e no sector não-vida este rácio alcança os 308 por cento.

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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