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O desastre ecológico

China ultrapassou os Estados Unidos como o maior emissor mundial de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa. 

Ao lado de outros países emergentes, a China argumenta que as suas “emissões de sobrevivência” não são comparáveis às “emissões de luxo” dos países desenvolvidos. Alega que as nações ricas, que desfrutaram dos benefícios da queima de combustíveis fósseis, deveriam arcar com os principais custos da salvação da infraestrutura atmosférica global que sustenta a vida. Mas, mesmo em termos per capita, as emissões chinesas estão a crescer dramaticamente, aumentando as pressões para que o país deixe de ser tratado como uma nação em desenvolvimento. A crescente classe média chinesa, como na Índia e  noutros países em acelerado desenvolvimento, está a consumir mais – aliás, muito mais. Um exemplo disso é a procura explosiva por aparelhos de ar condicionado, revertendo parte do movimento favorável para evitar a destruição da camada de ozono.

Mas o nó ambiental chinês não pode ser plenamente compreendido sem que se levem em conta as pressões políticas domésticas, as lutas, a história e a cultura do país. Precisamos reconhecer a multiplicidade de atores que desempenham um papel no futuro da China e avaliar a diversidade geográfica, as disparidades regionais e a complexidade étnica e cultural, bem como o caráter único do sistema político autoritário chinês. Todos esses fatores terão um papel na determinação da “pegada ambiental” e dos impactos transnacionais futuros da China.

E os desafios não serão pequenos. O Banco Mundial revelou que 20 das 30 cidades mais poluídas do mundo estão na China, principalmente em consequência do uso intensivo de carvão – a cidade de Linfen, na província de Shanxi, é a mais suja de todas. A alta taxa de crescimento económico – próxima de 10% ao ano entre 2000 e 2011 – deve sofrer um pesado desconto quando se incluem os custos ambientais em dias de trabalho perdido, mortes prematuras e despesas de combate à poluição. Os esforços de algumas autoridades públicas e pesquisadores para elaborar uma estimativa do “produto interno bruto verde” para a China estão parados desde 2004, em parte pela sensibilidade política da iniciativa e pela dificuldade de obter estatísticas confiáveis.

A poluição do ar é um problema enorme. A questão chamou a atenção internacional durante os preparativos para os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, mas é ainda mais grave noutras partes do país. Doenças pulmonares, como tuberculose e cancro, prevalecem de tal forma que estão bem documentadas as “aldeias do cancro “ chinesas – lugares em que as taxas de mortes por cancro causado pela poluição do ar e da água estão bem acima da média nacional.

Por outro lado, a poluição severa da água afeta 75% dos rios e lagos chineses e 90% das águas subterrâneas urbanas, sendo que 28% dos rios do país foram classificados na categoria 5 (a pior numa escala de 1 a 5) – são tão tóxicos que se tornaram imprestáveis ao uso agrícola. Segundo a Academia de Ciências Sociais da China, grandes lagos, como o Tai, no leste do país, e o Dianchi, na província de Yunnan, estão também na categoria 5. Um estudo de 2007 da OCDE revelou que centenas de milhões de chineses bebem água contaminada por arsénio, flúor, esgotos não tratados, fertilizantes e pesticidas.

Dada a severidade desses e de outros problemas arraigados, como desflorestamento, erosão, desertificação, poluição por metais pesados, salinização, perda de terras aráveis, chuva ácida e perda de biodiversidade, o tratamento dado pela China à sua crise ambiental tornou-se crítico para a estabilidade do país e para a legitimidade do governo.

(FILES) This picture taken 18 July 2006

Poluição do ar afeta principais cidades 

O ar que se respira em quase 90% das principais cidades chinesas continua aquém dos padrões de qualidade, apesar da “melhoria” registada em 2014, segundo a avaliação divulgada pelo ministério chinês da Proteção Ambiental.

Das 74 cidades avaliadas, apenas oito satisfizeram os padrões nacionais de qualidade do ar, nomeadamente quanto à densidade das pequenas partículas PM 2.5, as mais suscetíveis de se infiltrarem nos pulmões e de atacarem o sistema respiratório.

Em 2013, só três cidades (Haikou, Lhasa e Zhoushan) cumpriram aqueles padrões, salienta o ministério.

Pequim, considerada uma das capitais mais poluídas do mundo, “não está entre as dez piores nem entre as dez melhores”, adianta o jornal China Daily, sem precisar o lugar ocupado pela cidade.

Mas sete das dez cidades chinesas com pior qualidade do ar em 2014 situam-se à volta da capital.

No eixo Pequim-Hebei-Tianjin, a densidade média das PM 2.5 foi de 93 microgramas por metro cúbico, quase o triplo do máximo de 35 microgramas definido pelo governo chinês (Pelos padrões da Organização Mundial de Saúde, o máximo recomendado é de 25 microgramas).

 O índex municipal da qualidade do ar em Pequim estava no nível “moderadamente poluído”, com a densidade das PM 2.5 nos 156 microgramas por metro cúbico.

A poluição tornou-se nos últimos anos uma das principais fontes de descontentamento popular na China, a par da corrupção e das crescentes desigualdades sociais.

Em março de 2013, o novo primeiro-ministro, Li Keqiang, prometeu que o governo ia “declarar guerra à poluição”.

Seis empresas de Taizhou, na província de Jiangsu, leste da China, foram condenadas a pagar 160 milhões de yuan (cerca de 25,8 milhões de dólares) por terem descarregado 25.000 toneladas de detritos químicos para dois rios, na maior multa do género ordenada por um tribunal chines.

Das 10 cidades com melhor qualidade do ar em 2014, quatro (Shenzhen Zhuhai, Huizhou e Zhongshan) ficam na província de Guangdong, que confina com Hong Kong e Macau.

Além de Pequim, também Xangai, Cantao, Nanjing, Tianjin, Dalian e Chongqing não fazem parte daquela lista.

Entre as dez piores, a lista é encabeçada por Baoding, cidade da província de Hebei situada a cerca de 200 quilómetros ao sul de Pequim e que é a sede de uma das mais conhecidas fabricas chinesas de painéis solares.

Em 2014, o número de dias “altamente poluídos” na capital chinesa baixou para 45, menos treze do que em 2013, e houve 93 dias com qualidade do ar “excelente”, mais 22 do que no ano anterior, indica um relatório divulgado há cerca de um mês pelo gabinete municipal da Proteção Ambiental, divulgado no passado dia 04 de janeiro.

Crise da água

A sucessão de acidentes ambientais nas águas da China está a agravar o problema de abastecimento no país, que sustenta 20% da população mundial com apenas 7% dos recursos hídricos disponíveis no planeta.

Com estes dados, segundo as Nações Unidas, cada cidadão chinês dispõe de 2.138 metros cúbicos de água por ano, quatro vezes menos que a média dos países desenvolvidos.

Pela sua distribuição geográfica e os diferentes climas no país, a distribuição interna de água na China também não é equilibrada, com um norte árido e frequentemente semidesértico e um sul tropical e sujeito a chuvas de monção.

O gigante asiático vive suas piores enchentes em 12 anos, que já deixaram mais de 1.500 mortos e desaparecidos no país, mas não pode garantir a provisão de água em todo o seu território.

O Governo chinês mostra-se incapaz de ordenar o seu mapa hidrográfico e realiza obras faraônicas, como a represa das Três Gargantas, no rio Yang-Tsé, ou o Eixo de Desvio de Águas Sul-Norte, e vê uma proliferação, sem remédio, dos acidentes.

Marés negras chegaram ao litoral, além de pragas de algas, que cobriram milhares de quilómetros quadrados e mataram toneladas de peixes, entre outros fatos.

A China é um dos países mais poluídos do mundo, devido em grande parte à acelerada industrialização vivida no país, cuja riqueza foi construída com uma exploração dos recursos com pouco controle e supervisão.

As últimas estatísticas oficiais apontam que os acidentes ambientais duplicaram com 102 incidentes apenas nos seis primeiros meses de 2015.

O Ministério de Proteção Ambiental chinês apresentou na semana passada os péssimos resultados de um estudo oficial realizado em milhares de amostras de águas de superfície do país.

Segundo a avaliação oficial, apenas 49,7% das águas estão aptas para o consumo e 26,4% são destinados à indústria, por não serem adequadas.

De fato, mais de 100 das 600 maiores cidades da China sofrem cortes regulares e outras 400 vivem problemas temporários de abastecimento dependendo da temporada.

A indústria pesada e a atividade agrícola, que abusa de pesticidas e adubos industriais, são as principais causas da deterioração da água, além das pobres medidas de aproveitamento, já que apenas 38% da água é tratada para poder ser reutilizada.

O Greenpeace estima que cerca de 100 milhões de chineses – um em cada 14 – realiza as suas atividades quotidianas, como cozinhar, beber, tomar banho, com águas poluídas que afetam diretamente a sua saúde.

Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 100 mil as mortes anuais que a China sofre por doenças diretamente ligadas à poluição da água.

Em 2007, o Governo chinês assumiu que foram lançadas 30,3 milhões de toneladas métricas de resíduos nas águas do país, que deixaram 70% dos rios, lagos e reservas “gravemente contaminados”, incluindo fontes importantes como os rios Yang-Tsé e Amarelo, além de lagos como o Taihu e o Chaohu, terceiro e quinto de maior capacidade, respectivamente.

“A crise ambiental, particularmente para a água, está a chegar à China antes do esperado”, reconheceu Pan Yue, vice-ministro de Proteção Ambiental.

O Banco Mundial (BM) elaborou um relatório no qual considerava que a poluição do ar e das águas na China são problemas com “consequências catastróficas para gerações futuras”, que custam mais de 100 mil milhões de dólares anualmente, superiores a 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB).

Poluição da água aumenta 180% num ano

A superfície de águas costeiras poluídas na China passou de 24.000 km²  para 68.000 km² , ou seja, um aumento de 183%, segundo um relatório da Administração Estatal de Oceanos.

O estudo denuncia também a presença massiva de plástico nessas zonas.

 A superfície total de águas com uma qualidade que não é considerada boa alcançou 170.000 km² no, contra 150.000 km² em média segundo o documento oficial.

 A situação degradou-se especialmente em regiões costeiras fortemente industrializadas, ou seja, o delta do Rio Yangtsé, perto de Xangai, assim como mais ao norte, no golfo do Bohai e no sul, no delta do Rio das Perolas (triângulo Hong-Kong, Macau, Cantão).

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