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Resgate na banca chinesa

Sem mudança, a China poderá ter de usar 12 por cento do seu PIB atual para resgatar bancos em 2019. O alerta parte da consultora McKinsey, que aconselha uma aposta na produtividade.

O acumular de ativos problemáticos na banca chinesa poderá levar a um esforço de recapitalização do setor na ordem dos 8,2 biliões de yuan (1,2 biliões de dólares americanos) dentro de três anos, estima o McKinsey Global Institute. O braço de investigação da consultora internacional, com operações significativas na China, calcula o rácio de crédito chinês malparado  em 7 por cento, bem acima do indicador oficial de 1,7 por cento, e aconselha as autoridades centrais a avançarem com as reformas de mercado prometidas – sob pena de perdas significativas no crescimento e da perda da oportunidade de canalizar investimento para setores com maior potencial produtivo.

O valor desta oportunidade é estimado em 36 biliões de yuan ( 5,6 biliões de dólares) adicionais no produto interno bruto do país no horizonte de 2030, avança o mais recente estudo da consultora sobre a China, “China’s Choice”, publicado neste início de Verão e numa altura em que vários observadores da política económica do país manifestam preocupação com o ritmo lento a que Governo Central tem vindo a dar sequência às promessas de transformação do modelo económico.

A McKinsey alinha com as análises que veem recuos nas reformas em prol das metas de crescimento de curto prazo – o Governo Central propõe-se atingir um incremento do PIB entre 6,5 por cento e 7 por cento este ano -, mas aponta para as vantagens a colher com uma reversão do trajeto de estímulo económico sem reformas significativas no setor estatal ou mercado de capitais. A consultora fez as contas aos ganhos potenciais: uma produtividade acelerada em 36 biliões de yuan ( 5,6 biliões de dólares), mas também mais dinheiro nos bolsas das famílias com 33 biliões (4,9 biliões de dólares) de rendimento disponível suplementar.

A receita? Não é simples, mas em grande medida passa pelo cumprimento dos planos já propostos pela cúpula do Partido Comunista aquando da sua reunião plenária de 2013: transferir mais recursos da economia para o setor privado e para os serviços, fomentando o consumo interno. “A China está pronta para uma revolução na produção”, afirmam os autores do estudo.

“Um novo modelo orientado para a produtividade permitiria à China criar mais emprego sustentável, reforçar o aumento do consumo entre a classe média, e acelerar os progressos rumo ao estatuto de economia avançada”, defendem Jonathan Woetzel, Yougang Chen, Jeongmin Seong, Nicolas Leung, Kevin Sneader e Jon Kowalski, da McKinsey.

A política macroeconómica deve em primeiro lugar, dizem, mobilizar financiamento para os sectores com maior potencial produtivo. Ou seja, para as empresas privadas, na óptica da McKinsey, que destaca níveis de retorno sobre o investimento equiparáveis aos dos Estados Unidos entre as privadas listadas em bolsa com melhor desempenho – e dos quais as empresas financeiras concentram atualmente 80 por cento, segundo os dados recolhidos.

Por esta via, o país encontrará também forma de melhorar salários e serviços, alargando a classe média e estimulando o consumo para que tenha um peso cada vez maior atividade económica. A McKinsey projeta uma contribuição do consumo para o PIB de 49 por cento em 2030, ao invés dos atuais 38 por cento, e uma classe média de 315 milhões no mesmo prazo.

Para a consultora, a China tem cinco caminhos à disposição para aumentar a produtividade: melhorar os serviços para a classe média, apostar na digitalização dos negócios, fomentar a produção para consumo final, aumentar a eficiência de operações nas empresas e investir fora do país. E, para os percorrer, há que promover reformas: abrir novos setores à concorrência, desenvolver o mercado de capitais, permitir a reestruturação do universo empresarial, investir nas competências da mão-de-obra, fomentar a procura e melhorar a eficácia do sector público.

Entretanto, “os riscos estão a aumentar”. O nível de endividamento das empresas, que era de 68 por cento do PIB em 2007, está atualmente em 138 por cento, nas estimativas da consultora. O retorno sobre o investimento caiu em 10 anos de uma taxa de 10,3 por cento para 7,4 por cento, em 2014.

“Quanto mais tempo a China continuar a acumular dívida para apoiar os objectivos de crescimento do PIB a curto prazo, maiores os riscos de uma aterragem abrupta [da economia]. Estimamos que o rácio de crédito malparado em 2015 tenha sido já de cerca de 7 por cento, bastante acima dos 1,7 por cento reportados. Ainda que grande parte dos bancos tenha uma almofada capaz de absorver perdas, este rácio poderá aumentar rapidamente se não houver progressos visíveis para restringir o crédito a empresas com fraco desempenho, e se o desempenho da generalidade das empresas chinesas continuar a deteriorar-se”, alerta o estudo.

A McKinsey estima que um fracasso neste capítulo empurre o nível de empréstimos não recuperáveis para um rácio de 15 por cento em 2030 e force uma recapitalização de 8,2 biliões de yuan em 2019 (1,2 biliões de dólares americanos) , equivalente a 12 por cento do PIB chinês actual. O pior cenário de crise financeira poderá não confirmar-se, mas as sequelas serão negativas.

“A nossa análise sugere que uma tal escalada não conduziria a uma crise bancária sistémica, mas uma crise de liquidez para as empresas e a uma perda de confiança entre investidores e consumidores durante a fase de recuperação teriam ainda assim um impacto significativo sobre o crescimento”, avisa a consultora. Em resumo, no pior dos cenários, a China terá a capacidade de salvar os seus bancos, mas os custos da demora em agir serão elevados.

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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