Início Cultura CHARLIE HEBDO “NÃO ACONTECERIA NA CHINA”

CHARLIE HEBDO “NÃO ACONTECERIA NA CHINA”

 

“A maneira que os ocidentais encontram para expressar os seus sentimentos é muito diferente da forma como o fazemos na China”, diz cartoonista de Macau Chan Iu Pui em entrevista ao Plataforma Macau.

 

PLATAFORMA MACAU – Como começou a sua carreira de cartoonista?

CHAN IU PUI – Estudei pintura, embora não tenha seguido esta carreira e não seja pintor de profissão. Mas, naturalmente ganhei o gosto pelo desenho. Comecei a desenhar cartoons em 1963 e, à medida que fui ganhando dinheiro, fui aperfeiçoando esta arte.

Embora já me tenha reformado, continuo a desenhar para alguns jornais locais, como é o caso do Va Kio.

 

P.M. – E qual é a sua opinião sobre a arte de fazer cartoons em Macau?

C.I.P. – Não posso falar muito sobre o desenvolvimento atual do cartoonismo e a nova geração de profissionais em Macau. Sei que houve grandes mudanças em comparação com os velhos tempos e com a minha geração. Antigamente, os desenhos que fazíamos eram mais tradicionais e estavam fortemente relacionados com o nosso dia-a-dia. Hoje em dia não sei se será assim.

 

P.M. – Que tipo de cartoons faz agora? A política é uma inspiração?

C.I.P. – Sim, de vez em quando faço cartoons que estejam relacionados com temas da esfera política, mas prefiro inspirar-me em eventos interessantes que ocorram no dia a dia das pessoas, mais ligados à área social.

 

P.M. – E qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento dos cartoons na China continental?

C.I.P. – Os cartoons ainda se publicam nos jornais da China continental. Tocam temas familiares à vida da população, mas também se faz sátira política. Em comparação com a China continental, Macau e Hong Kong publicam muito menos cartoons. Antigamente, por volta dos anos 1960 ou 1970, havia uma maior profusão de cartoons.

Mesmo na China muito tem vindo muito a mudar em termos de estilo e conteúdo. Hoje desenham-se meninas bonitas e é um trabalho que está mais orientado para a animação, ao contrário dos cartoons mais tradicionais.

 

P.M. – Mas por que acha que houve uma diminuição em Macau?

C.I.P. – Não estou certo, mas provavelmente devido às prioridades editorais dos jornais, que também mudaram. Também se põe a hipótese de menos pessoas terem o gosto pela leitura de cartoons.

 

P.M. – Onde é que se veem cartoons editorais hoje em dia em Macau?

C.I.P. – Vemos alguns, mas não muito. Podemos encontrar no jornal Va Kio, que publica cartoons várias vezes por semana e também no jornal Ou Mun, mas pouco.

Muitos dos cartoons perderam a sua essência tradicional e assemelham-se agora mais ao estilo japonês. Eu e alguns colegas de profissão continuamos a contribuir com desenhos para o Va Kio.

 

P.M. – Os cartoons de Macau têm alguma característica que os diferencie de outras regiões?

C.I.P. – Penso que no ocidente haverá uma maior objetividade no trabalho do cartoonista, ao passo que em Macau há uma maior complexidade. Também é verdade que os cartoons no ocidente dão mais atenção à vertente humorística.

É necessário refletir sobre os desenhos para perceber o que é que aquela pessoa quis transmitir. Nós focamos o nosso trabalho e aquilo que queremos expressar diretamente no desenho. Diria que a perceção é mais direta.

 

P.M. – Como vê o que aconteceu recentemente em França na redação do jornal satírico Charlie Hebdo?

C.I.P. – Estas são muito más notícias, especialmente pelo que aconteceu aos caricaturistas. De qualquer forma, a maneira que os ocidentais encontram para expressar os seus sentimentos é muito diferente da forma como o fazemos na China. Acredito que o que aconteceu em França no Charlie Hebdo seja algo que não aconteceria na China.

 

Catarina Domingues/ Wendy Wu

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